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Alienação No Trabalho E O ócio Criativo Como Forma De Resistência

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Por:   •  22/7/2014  •  4.021 Palavras (17 Páginas)  •  602 Visualizações

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Alienação no trabalho e o ócio criativo como forma de resistência

Cássia Bruna Barbosa de Lima

Resumo

O presente artigo pretende analisar o conceito de alienação do trabalho em Marx, propondo um paralelo com o manifesto "O direito a preguiça", no qual expõem questões quanto a automação da produção e da vida humana. A crítica do culto ao trabalho sugere uma superação dessa obsessão do trabalho alienado permitindo que os indivíduos se dêem o direito ao descanso e ao ócio prazeroso e criativo.

Palavras-Chave

Alienação, Trabalho, Ócio, Karl Marx, Produtividade.

Para nós, acostumados à civilização do trabalho é difícil compreender a força subjetiva que em algum momento foi desencadeada pela mercadoria. Porém, a partir do instante no qual o trabalho deixou de ser uma mera atividade de sobrevivência, passando a ser o reflexo de um plano previamente elaborado, ali teve início o homem moderno, com sua capacidade original e única de transformar a realidade de acordo com seus desejos. De lá para cá, ele, o Homem Moderno, vem criando e recriando não somente o mundo, mas também a sua própria forma de ser e de se comportar. Cada indivíduo é proprietário de uma parte da forca de trabalho da sociedade em que está inserido. Essa força, pelo simples fato de ser humana, deveria se incluir em uma categoria especial diferentemente dos recursos naturais, energéticos, tecnológicos. Mas será que é assim que funciona a sociedade comandada pelos capitalistas? Na prática sabemos que não. Recursos humanos são apenas recursos como outro qualquer para chegar ao resultado da produção: o lucro.

O trabalho passou por diversas transformações históricas, passando pelos modernos sistemas fabris até chegar ao modelo de exploração que hoje conhecemos. O trabalho organizou-se e alcançou níveis de especialização de lucratividade nunca imaginados. Ao longo dessas transformações, o trabalhador, que vende sua força de trabalho, continuou submetido às normas do capital, sem gozar de transformações profundamente significativas na melhoria dessas condições. O trabalho segue associado a sofrimento e desprazer, já que prescinde do capital invisível do trabalhador e o fruto do seu esforço é apropriado por seus superiores na cadeia produtiva. Assim, o trabalho deixa de ter significado e passa a pacificar o trabalhador. Se, num primeiro momento, ao vender sua força de trabalho para os patrões, o trabalhador é alienado do fruto do seu trabalho. Mais tarde, Quando os patrões aumentam seus lucros com a produção em massa e o trabalhador passa a apertar sempre os mesmos parafusos da linha de produção, ele é alienado da sua capacidade criativa. Assim, a alienação é aprofundada e ampliada. Essa perspectiva negativa em relação ao trabalho só encontra significação na estrutura laboral regida pela relação de dominação entre senhor e submisso, sendo incompatível com a experiência de trabalho na qual o ser humano adquire a capacidade de se realizar existencialmente. O materialismo dialético de Marx explica com precisão esse processo:

“Antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu próprio câmbio material como uma de suas funções. Põe em movimento as forças naturais de seu corpo – braços e pernas, cabeças e mãos – a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza”.

Durante as transformações do trabalho houve um cientificismo na produção, teorias que propõem diversos sistemas de normas para o controle e o aumento da produção, conhecidas como fordismo e taylorismo. Nesse momento, tudo é cronometrado e os movimentos dos trabalhadores são medidos e reprimidos. O trabalhador se torna um parafuso ou um botão. Como se ainda não fosse suficiente, as relações trabalhistas passam a reforçar as desigualdades de gênero, que se reproduzem dentro da classe operária. Nesse momento do patriarcado, as mulheres além de enfrentar as duras jornadas de trabalho na fábrica ainda enfrentam o trabalho doméstico, baixos salários, entre outras formas de segregação.

Assim, a transformação de homens e mulheres em “força de trabalho”, meros instrumentos do capital, é um processo incessante e interminável. Entretanto, para o capital o mínimo que resta de autonomia racional entre a classe operária é uma ameaça, portanto há de se encontrar formas para que os mesmo deixem de preservar suas inteligências e capacidades críticas.

Capaz de ameaçar o trabalho e a consciência humana desde seus primórdios, a alienação afeta principalmente o homem do mundo moderno, em que as relações sociais se tornam cada vez mais determinadas por seu aspecto mercantil ou econômico-financeiro. No estado de alienação o indivíduo perde sua identidade individual ou coletiva, devido a falta de autonomia e a privação de algo que lhe é próprio.

O conceito de alienação tem raízes no pensamento de Karl Marx. Marx não só fez a análise exaustiva das relações de trabalho na sociedade capitalista, com acréscimo de novos conceitos. Em sua obra, o trabalho é o fator que faz a mediação entre o homem e a natureza. Os homens definem-se pelo que fazem, e a natureza dos indivíduos depende das condições materiais que determinam sua atividade produtiva. De acordo com a sua dialética, o processo de alienação leva o homem a converter-se em instrumento de sua sobrevivência o que ocorre, primeiro, na relação do produtor com o produto e, em seguida, na relação do produtor com os consumidores do produto. Marx destaca três aspectos da alienação:

1) o trabalhador relaciona-se com o produto do seu trabalho como com algo alheio a ele, que o domina e lhe é adverso, e relaciona-se da mesma forma com os objetos naturais do mundo externo; o trabalhador é alienado em relação às coisas; 2) a atividade do trabalhador tampouco está sob seu domínio, ele a percebe como estranha a si próprio, assim como sua vida pessoal e sua energia física e espiritual, sentidas como atividades que não lhe pertencem; o trabalhador é alienado em relação a si mesmo; 3) a vida genérica ou produtiva do ser humano torna-se apenas meio de vida para o trabalhador, ou

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