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As Perspectivas Teórico-metodológicas Contemporâneas No Trabalho Social

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Por:   •  10/5/2013  •  4.888 Palavras (20 Páginas)  •  1.068 Visualizações

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“As perspectivas teórico-metodológicas contemporâneas no trabalho social”

José Paulo Netto

Jose Paulo Netto - Graduação em Serviço Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1969), graduação em Letras Neolatinas pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1974), mestrado em Teoria Literária pela Universidade de São Paulo (1981) e doutorado em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1990), atualmente, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFRJ).

Boa tarde a todos. Eu queria começar agradecendo aos organizadores desse seminário pelo convite e dizer que me honra muito estar numa mesa mediada pela Professora Mariângela Belfiore Wanderley e ouvir a exposição tão sistemática e rica da Professora Cristina De Robertis.

Eu já vou começar dizendo a vocês que, certamente, vou lhes decepcionar um pouco, mas isso a gente vai ver lá no final.

As perspectivas teórico-metodológicas do Serviço Social contemporâneo no Brasil. Eis aqui um rico filão, bem adequado para uma cuidadosa atenção acadêmica, preferencialmente, objeto de um curso em nível de pós-graduação. E em uma intervenção necessariamente breve, à moda de uma miniconferência, o tema impõe ao executor limites bem determinados. Tratarei de não desbordá-los, tentando fazer com que a sua abordagem não signifique uma excessiva esquematização da sua complexidade.

É evidente que uma exposição como a que eu apresentarei contém formulações polêmicas e discutíveis, que poderão ser mais esclarecidas num eventual debate. De qualquer forma, eu as ofereço aqui como hipóteses de trabalho para um ulterior desenvolvimento do tema. É escusado observar que, ainda que expressem e se beneficiem de uma reflexão coletiva já desenvolvida pelos segmentos mais críticos do Serviço Social, a responsabilidade por essa intervenção só cabe a mim.

Eu queria começar esclarecendo três questões, que não podem ficar subentendidas ao longo da minha intervenção. A primeira delas é que eu entendo o Serviço Social como uma profissão, uma profissão que se vale de aportes, que se vale de contribuições teóricas e científicas, mas que não é só isso. O Serviço Social é mais que isso, ele constrói um outro tipo de saber, um saber especificamente profissional, que constitui a sua cultura profissional. Por que me parece importante mencionar isso, mesmo tendo clareza de que é uma tese polêmica? – mas apenas para dar legibilidade e inteligibilidade ao que eu vou falar em seguida. Eu entendo que o Serviço Social não tem uma teoria. A Medicina é uma profissão, não dispõe de uma teoria; a Advocacia é uma profissão, não dispõe de uma teoria, constrói um saber profissional (percebam os da Medicina) a partir de contributos, de influxos, de aportes de ciências. Mas nós sabemos que a Medicina não é mais ciência; o que tem de curandorismo na Medicina é fantástico, não é? Nesse sentido, quando eu mencionar, aqui, perspectiva teórico-metodológica, estou fazendo referência à produção de conhecimentos que, evidentemente, se vincula à noção, à idéia de uma metodologia de intervenção, mas não são sinônimos. Por que é necessário insistir nisso? Porque compreendendo o Serviço Social como uma profissão, eu compreendo também como um campo de produção de conhecimento, como um campo de produção teórica, que contribui para enriquecer não uma eventual teoria do Serviço Social, mas o acervo, o patrimônio das Ciências Sociais. É com essas reservas que eu gostaria de ser ouvido.

Como sabem aqueles que me conhecem, sempre faço questão de fazer uma referência a nossa história. Penso que nós não podemos discutir a nossa contemporaneidade sem a nossa história e eu creio que a nossa história nos põe sobre os ombros da hipoteca do conservadorismo. Eu penso que não se pode compreender a problemática contemporânea do Serviço Social no Brasil sem se referir à herança conservadora, que conforma não somente a gênese da profissão no país, mas parte significativa do seu processo de institucionalização e de consolidação. E não se trata, é preciso sublinhá-lo, tão somente de conservadorismo político. Se essa dimensão do conservadorismo entre nós foi a mais saliente, nem por isso ela esgota a forte incidência do pensamento conservador na constituição e no desenvolvimento do nosso Serviço Social. Entendo, diferentemente, que o conservadorismo político apenas expressou, e ainda expressa entre nós, a dominância de um conservadorismo integral e difuso, envolvendo o conjunto do que se poderia chamar de cultura profissional.

Destaco dois traços, entre muitos, caracterizadores do pensamento conservador que matrizou o Serviço Social entre nós. O primeiro, diz respeito à própria concepção da profissão, entendida como profissão da prática, isto é, essencialmente como uma atividade executiva-interventiva. É claro que existe aqui uma autorrepresentação do fazer profissional, que captura uma das suas várias determinações. Qual seja? A de que o Serviço Social implique intervenção. Todavia, concebê-lo como uma profissão da prática, e este é o procedimento conservador, não somente absolutiza aquela determinação, confere à profissão, efetiva e objetivamente, um estatuto subalterno estritamente técnico-operativo em face da formação de nível acadêmico universitário; subalternidade que se estende a sua inserção na estrutura sócio-ocupacional, onde a profissão se vê reforçada pelas disputas entre corporações profissionais de maior tradição e de imagem social mais consolidada, por exemplo, o chamado poder médico. Uma implicação óbvia de tal concepção consiste no desestímulo às dimensões mais claramente intelectuais do exercício profissional. A reflexão sobre as atividades do assistente social tende a limitar-se a um mero descritivismo, que não ultrapassa a aparência imediata das operações que lhe competem na estrutura organizacional em que está inserido.

O outro traço destacável, intimamente vinculado ao anterior e que se relaciona mais diretamente ao que nos interessa aqui, reside na relação historicamente estabelecida do Serviço Social com as Ciências Sociais. Uma vez tomado como profissão da prática, o Serviço Social pôs-se como vazadouro, o receptáculo das elaborações produzidas no âmbito das Ciências Sociais, boa parte delas, formuladoras dos vetores mais expressivos do pensamento conservador. Atribuindo a elas, e aceitando que elas se atribuíssem o monopólio da produção de conhecimentos teóricos sobre a sociedade e sua dinâmica, o Serviço Social realizou uma dupla operação. De um lado, incorporou acriticamente as principais

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