Cemitério dos Ingleses
Por: Larissa Machado • 16/12/2015 • Trabalho acadêmico • 925 Palavras (4 Páginas) • 204 Visualizações
Arqueologia da Morte: notas sobre o Cemitério dos Ingleses
- Introdução
As necrópoles e suas estruturas e monumentos mortuários compreendem um complexo mosaico cultural e empirista. Refletem a estrutura social, cultural, religiosa, identitária da comunidade que as criaram, sendo impregnadas de valores e significados. Tratam-se de significativas marcas impressas pelo homem. Posto isto, em 1811, foi inaugurado, no município do Rio de Janeiro, o Cemitério dos Ingleses – o British Burial Ground -, o primeiro cemitério não-católico, restrito, particular e ao ar livre da cidade. Mais especificamente, localizado na Zona Portuária da cidade no bairro da Gamboa. Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo analisar o Cemitério dos Ingleses do Rio de Janeiro, reafirmando-o como um elemento de criação e manutenção de uma identidade étnica e religiosa, isto é, como uma marca identitária e simbólica de um grupo manifestando e perpetuando a memória de um segmento da sociedade.
- Criação do cemitério
Para melhor compreender as razões que levaram o príncipe regente D. João a criar este cemitério logo após a sua chegada no Rio de Janeiro, em março de 1808, precisamos voltar ao passado. Nos meados do século XVI a Europa católica se viu dividida; primeiro por cleros que questionavam a ordem religiosa reinante e, depois, por um rei - Henrique VIII (1491-1547). As conseqüências foram múltiplicas: na Inglaterra os católicos foram perseguidos, primeiro com multas astronômicas. Mais tarde, padres católicos pegos em fragrante rezando a missa, eram enforcados em ''́Tyburn Tree'' (hoje Marble Arch, Londres). Como resultado desta herança, e com receio que os ''papistas'' poderiam infiltrar as forças armadas, a Real Marinha Britânica forçava seus integrantes à prestar juramento mostrando que não eram católicos. Portugal impunha restrições àqueles cidadãos que não eram católicos. Em 1717 fundava na Rua São Jorge à Estrela (Lisboa) o Cemitério dos Ingleses, pois as terras portuguesas sendo católicas, não poderiam nelas enterrar protestantes. Com a vinda da corte portuguesa para o Brasil em 1808 logo sentiu-se os reflexos desta cultura: o primeiro ocorreu quando D. João decidiu condecorar os oficiais ingleses das naus (pequenas embarcações) de linha britânicas que tinham escoltado a esquadra portuguesa na sua viagem. Como as ordens disponíveis eram todas religiosas e só poderiam ser dadas à católicos, D. João restabeleceu a antiga Ordem da Espada, criada por D. Afonso V, em 1459. O contra almirante sir Sidney Smith foi agraciado com o grau de grã-cruz, os capitães comendadores, e os primeiros-tenentes (imediatos) de todos os navios cavaleiros desta mesma ordem. Prevendo que o número de estrangeiros (protestantes) aumentaria, não só porque tinha concordado com o estabelecimento de uma base naval inglesa no Rio de Janeiro para proteger-se da ameaça francesa, mas também pelo fato que ao chegar na Bahia tinha aberto os portos ao comércio com nações amigase assinou a compra do terreno em 24 de dezembro de 1808. Em 8 de janeiro 1809, pelo decreto no. 3 o Cemitério dos Ingleses na Gamboa passou a ser uma realidade.
Cemitério dos Ingleses pintado por Maria Graham (Maria Callcott) em 1823.
- Rituais funerários
Combatentes britânicos possuem espaço reservado chamando War Grave.
O Cemitérios dos Ingleses foi a primeira necrópole a céu aberto da cidade do Rio de Janeiro. Em 1809, Lord Strangfort, que havia obtido a autorização para construir uma necrópole protestante, compra a chácara de Simão Martins de Castro e, a partir de 1811, começam os seultamentos. E o primeiro a ser enterrado no cemitério foi um senhor da comunidade chamado Mr. William Bently.
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