Complexidade
Por: taifortes • 11/5/2015 • Trabalho acadêmico • 1.553 Palavras (7 Páginas) • 127 Visualizações
Perspectiva Complexa
Na linguagem cotidiana, a palavra complexo é usada com freqüência como sinônimo de complicado e a idéia que nos fica de complexidade é desordem e caos. Complicado é um adjetivo que significa emaranhado, algo difícil de compreender porque inclui um grande número de peças, enquanto que a palavra complexidade significa tranças, enlace, abraço.
Do ponto de vista etimológico, a palavra “complexidade” é de origem latina, provém de complectere, cuja raiz plectere significa trançar, enlaçar. A presença do prefixo “com” acrescenta o sentido da dualidade de dois elementos opostos que se enlaçam intimamente, mas sem anular sua dualidade. Em francês, a palavra “complexo” aparece no século XVI: vem do latim complexus, que significa “que abraça”, particípio do verbo complector, que significa “eu abraço”, “eu ligo” (Morin, 2003);
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O termo latino complexus é o cerne da epistemologia da complexidade, proposta pelo pensador contemporâneo francês Edgar Morin, o qual com uma vasta bibliografia, traduzida para diversas línguas ocidentais e orientais, se denomina “um contrabandista dos saberes” (Petraglia, 2000).
Pensador crítico, reflexivo e muito produtivo, dedica-se ao estudo da complexidade, termo que apropriou da cibernética e incorporou à sua obra desde a década de 1960, onde faz reflexões sobre ciência e filosofia, contrapondo-se ao pensamento reducionista, linear e simplificador, destacando dependências multidimensionais de todos os saberes.
Morin (2003) entende a complexidade como um tipo de pensamento que não separa, mas une e busca as relações necessárias e interdependentes de todos os aspectos da vida humana. Esse pensamento considera todas as influências recebidas, internas e externas, e ainda enfrenta a incerteza e a contradição, sem deixar de conviver com a solidariedade dos fenômenos existentes. Morin (2003:14) descreve o pensamento complexo, da seguinte maneira:
(...) digo que o pensamento complexo quer sempre contextualizar e globalizar. (...) o termo “complexo” deve ser tomado no sentido original, que significa “aquilo que forma um conjunto”.
Assim, o pensamento complexo é tecido por elementos heterogêneos associados, como uma tapeçaria composta por diversos fios. Não separa, mas une, trazendo uma nova possibilidade de refletir sobre o mundo, sobre o ser humano e suas relações. Um pensamento desprovido de certezas e verdades absolutas, que considera a diversidade e a incompatibilidade de idéias, crenças e percepções, integrando-as à sua complementaridade.
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Tapeçaria
A complexidade surgiu para questionar a fragmentação do conhecimento, em que o pensamento linear, oriundo do século XIX, colocava o desenvolvimento da especialização como supremacia da ciência. A complexidade parte da noção de totalidade e incorporam a solidariedade, colocando, lado a lado, razão e subjetividade humana.
Dessa forma, a complexidade propõe uma prática emancipadora porque favorece a reflexão do cotidiano, o questionamento e a transformação social, ao passo que concepções reducionistas, revestidos de pensamentos lineares e fragmentados, valorizam o consenso, visando à harmonia e a unidade, desta forma há um estímulo à domesticação e a acomodação (Petraglia, 2000).
Afirma Morin (1997) que para compreendermos o homem, devemos unir as noções contraditórias do nosso entendimento. Assim, ordem e desordem, verdade e erro são antagonistas e complementares, na auto-organização e no devir da errância humana, pois:
O ser humano traz em si um conjunto de características antagônicas e bipolares. Ao mesmo tempo em que é sábio é louco; é prosaico e é poético; é trabalhador e lúdico; é simultaneamente empírico e imaginário, e assim por diante. Vive de muitos jeitos e se apresenta de várias perspectivas. É unidade e dualidade; é multiplicidade, pluralidade, antagonismo, complementaridade e indissociabilidade; é corpo, mente, idéias, espírito, magia, afetividade... É um homo complexus: (MORIN, 1997:145)
O sujeito, na visão moriniana de complexidade, é aquele capaz de se auto-organizar e de estabelecer relações com o outro, das mais diversas formas, transformando-se continuamente. É nessa relação que ele interfere e modifica o seu meio numa auto-eco-organização[1] a partir de sua dimensão ética, que reflete as suas escolhas, percepções, valores e ideais.
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Mas, Morin (1997) nos lembra:
A ética, no entanto, só faz sentido na sua aplicação prática. Nossas atitudes devem ser amorosas, o que implica cuidado que temos com a vida em suas diversas dimensões: com nosso corpo e nosso espírito, com o planeta e com o outro. Exercemos nossa cidadania quando agimos e participamos das tomadas de decisão, quando somos efetivamente políticos e democráticos, quando tomamos partido e nos posicionamos crítica e criativamente no espaço que ocupamos, quando escolhemos – e ao escolher, amamos.
Uma ética revestida de complexidade é aquela capaz de ver e compreender o outro como um ser importante em sua dimensão humana, que pressupõem o entender e o sentir, o prosaico e o poético, as idéias e os sentimentos. O ser humano é um ser em relação, Nesse sentido, estamos inseridos em diversos contextos, com diversas pessoas, situações e emoções, e essas interações dizem respeito à compreensão humana.
Para tanto, Morin (2004) nos aponta que só conseguiremos compreender o outro, quando nos dispusermos a fazer uma reforma no pensamento, que para o autor significa:
...a substituição de um pensamento que isola e separa por um pensamento que distingue e une. A substituição de um pensamento disjuntivo e redutor por um pensamento do complexo, no sentido originário do termo complexus: o que é tecido junto. (MORIN:2004:89)
Essa reforma, não se encerra no pensamento, passa pela mudança na educação, na formação profissional, na visão dos fenômenos sociais que muitas vezes está sedimentado num paradigma de simplificação, correndo o risco de ficar em permanente estado de reprodução.
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