Correntes Antropologicas
Por: Muassuela • 23/8/2017 • Trabalho acadêmico • 3.817 Palavras (16 Páginas) • 502 Visualizações
A. O MATRIMÓNIO NA SOCIEDADE MACUA
Matrimónio é a união entre indivíduos de sexo diferente.[1] O matrimónio é um assunto complexo em que os aspectos económicos, sociais e religiões estão intimamente ligados que não podem separar. Para nós africanos, o matrimónio é o centro da existência, é um lugar de encontro de todos os membros de uma comunidade: os defuntos, os vivos e o que ainda estão a nascer. O matrimónio é um dever, uma experiencia fixada pela comunidade e um ritmo de vida em que cada um deve tomar parte. Quem não prática é uma maldição para a comunidade, é um anormal como chega a um nível inferior ao homem. Em geral um indivíduo que não se casa, significa que rejeitou a sociedade e que a sociedade o rejeitou a ele[2]. Excepto o Sacerdote.
Na sociedade macua o casamento não é um evento que acontece entre duas pessoas, mas duas famílias.[3]
ETIMLOGIA
O sentido etimológico do casamento na sociedade macua. OTHELANA significa (matrimónio ou casar-se), Esta palavra é constituída pelo prefixo “O” o que indica sentimentos e ações; da exclamação “THE”, que equivale chamar alguém para que se aproxime; “LA” deriva “TLANE” (uma terá que esta sempre no sol); do sufixo “NA”, com o sentimento de reciprocidade, que pode significar “ um é a chama do outro”.
1. ASPECTOS DO CASAMENTO NA CULTURA MACUA
Aspecto Vital
O casamento é um acontecimento que ocupa um lugar importante no ciclo vital. Pelo casamento, o homem e a mulher, formando a célula mais elementar da sociedade, colocam-se na corrente vital, participando na função dos antepassados, intermediários entre a fonte original da vida e os homens. O casamento tem o seu fundamento neles e a sua raiz está na fonte vital.
Aspecto comunitário
O casamento na sociedade macua, não é de forma nenhum o assunto particular que só se interessa aos dois que se vãos se casar, mas também tem um valor social de primeira grandeza, que transparece logo nos primeiros ritos e depois em uma das sequências rituais, até chegar a conclusão de todo o processo matrimonial.
O casamento na sociedade macua significa a entrada de um novo membro na família, um aumento numérico e qualitativo, garantia segura do fortalecimento da linhagem da multiplicação dos membros dela, do profundo nas raízes originais e projeta-se com segurança palpável no fundo. Isto revela a grandeza do matrimónio nesta sociedade. Podemos dizer que o matrimónio está ao serviço da comunhão vital dentro da própria família e do intercâmbio vital entre as famílias que integram a sociedade.
Aspecto pessoal
Na cultura macua, a dimensão comunitária do matrimónio não destrói o facto pessoal e individual de quem se casa na sociedade, porem a personalidade do individuo enriquece-se e cresce integralmente na medida em que vive e participa na voda comunitária.
Daí podemos afirmar que no contexto cultural, o casamento não é só a união de duas famílias, mas também a união de duas pessoas em ordem à uma mútua complementaridade e perfeição pessoal. Isto quer dizer que o homem cresce na mulher e nela se aperfeiçoa vice-versa, isto por meio de ajuda, pela vivência da factividade e equilíbrio sexual.
Na cultura macua, o matrimónio compreende três (3) factores que são: económico, a exogamia e casamento uxorilocal.
a) Factor económico
Apesar de não existir a instituição do dote matrimonial, na sociedade macua, o factor económico do casamento é importante em vista de enriquecer a família da noiva, porque é esta que cresce com um membro e pelos benefícios que o noivo apresentará com o seu trabalho.
a) A exogamia
Por tradição, aconselha-se muito cedo em saber desde o início do casamento a que linhagem pertence a cada um dos cônjuges, para não cair na tentativa de se casar entre membro da mesma linhagem, ou seja, do mesmo clã (NIHIMO). Nesta cultura é proibido casar dentro do mesmo grupo familiar.
b) O casamento uxorilocal
O novo agregado familiar, que nasce com um casamento, constrói a própria casa perto da residência dos pais da noiva. Normalmente se situa na localidade dos grupos de familiares matrilineares da noiva. Por isso o modelo da residência uxorilocal é mais concretamente matrimonial.
B. O PROCESSO MATRIMONIAL
O processo matrimonial tem três fases que são: Período de negociação, Período de prova e festa comunitária
1. PRIMEIRA FASE
Período de negociação
Todo processo matrimonial macua começa com a fase de negociação entre as famílias dos noivos. O acordo entre as famílias é o primeiro acto de uma série de sequências rituais matrimoniais.
Conhecimento dos noivos
O conhecimento e atração entre os noivos podem acontecer espontaneamente, no poço, na escola, no divertimento ou em qualquer outro momento da vida, em qualquer sociedade.
Consulta da autoridade familiar
O jovem animado pelos sinais de consentimentos da rapariga, aconselha-se com o seu tio materno (TATA), que exerce autoridade na sua família, manifestando-lhes os sentimentos e o desejo de se casar com a rapariga.
O acordo
Durante o período de negociação, as duas famílias procuram elementos concretos e suficiente, não somente a cerca da vida dos jovens, mas também sobre as famílias dos jovens. Porque o casamento constitui uma aliança entre os dois grupos famílias, por isso interessa-lhes conhecer-se antes de se unirem.
A primeira aceitação
Depois de deixar um período razoável de reflexão (no mínimo três semanas), a família da rapariga avisa a família do rapaz, comunicando que o resultado das investigações foi positivo. A aceitação depende do resultado da análise minuciosa da sua família durante todo o tempo que vai durar a segunda fase do processo matrimonial.
A entrega do noivo à família da noiva
Num dia determinado pelas famílias dos noivos, de manhã cedo, o tio, o pai e alguns anciãos da família acompanham o noivo até à casa da noiva, munto de uma esteira, uma lança, um machado, seus objetos pessoais e alguns presentes da noiva. E é recebido à porta da casa da família do jovem, acompanhando-o até dentro e mostrando-lhe a sua nova habitação. A partir desse momento, ele viverá aí toda a segunda fase do processo matrimonial. Após a entrega, a família do jovem regressa a casa confiando de que se deu um passo importante na vida do rapaz mas também na história da família.
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