TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

Crítica do etnocentrismo

Artigo: Crítica do etnocentrismo. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  17/11/2014  •  Artigo  •  823 Palavras (4 Páginas)  •  275 Visualizações

Página 1 de 4

Para o historiador Fernando Novais, professor aposentado do Departamento de História da USP e professor do Instituto de Economia da Unicamp, o ano de 1500 marca para a História do Brasil o surgimento das bases da colonização portuguesa, e nunca o descobrimento do Brasil. Autor de um dos principais clássicos da historiografia colonial - "Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1801)" - Fernando Novais, em entrevista publicada no jornal Folha de São Paulo em 24 de abril de 2000, enfatiza a crítica ao etnocentrismo e ao anacronismo presentes na história do Brasil com a viagem de Cabral.

Quando utilizamos o termo Descobrimento do Brasil, encontramos tanto etnocentrismo como anacronismo. O primeiro está presente na palavra Descobrimento e o segundo em Brasil. Para o historiador, o etnocentrismo encontra-se em nossa história, evidenciando a visão do conquistador, do vencedor, onde os portugueses seriam "o agente" e os índios "os descobertos", os protagonistas passivos do episódio. A crítica ao etnocentrismo porém, não deve nos levar à idéia de reconstituir a história do ponto de vista dos vencidos: "... nós não podemos nos transformar em índios. Uma coisa é fazer o estudo da visão dos índios e outra é reconstituir a história a partir do seu ponto de vista. A história precisa ultrapassar os pontos de vista do vencido e do vencedor e dizer alguma coisa a mais. Como nação, somos herdeiros dos europeus, dos índios e dos negros, mas todos não participam da mesma maneira na nossa formação. Um foi o vencedor e os outros foram os vencidos."

A questão do anacronismo é um pouco mais delicada, já que os historiadores não a discutem, como discutem o etnocentrismo. Para Fernando Novais, o anacronismo somente seria evitado se, no momento de reconstituir determinado segmento do passado, o historiador não soubesse o que aconteceu depois. "O historiador incorre no anacronismo quando ele imputa aos protagonistas o conhecimento sobre os acontecimentos posteriores. A reconstituição se torna uma profecia do passado."

O perigo do anacronismo é muito maior principalmente quando a nação, como objeto do discurso do historiador, precisa de passado para se legitimar. "Os franceses, por exemplo, vêem seu passado mais remoto na Gália romana. No caso do Brasil, reconstituir a viagem de Cabral como Descobrimento do Brasil pressupõe imaginar que ele já sabia que iria se reconstituir no século XIX uma nação com esse nome. Isso é anacronismo. E a viagem se torna fundadora, isto é, um mito."

Fernando Novais afirma que o Brasil é um povo que se constituiu numa nação, que posteriormente se organizou como Estado. Em 1500 não havia nenhuma dessas três coisas. Logo, não houve Descobrimento do Brasil, porque o Brasil não existia nem estava encoberto. Naquele momento surgiram apenas as bases da colonização portuguesa, que é a base da nossa formação. "A história do Brasil é essencialmente a de uma colônia que se transformou numa nação. Logo, a colonização é a base de nossa história e nesse sentido Cabral é importante."

Outra questão colocada na entrevista trata do momento em que a população começou a se pensar como diferente de seus antecessores. Esse sentimento da diferença do colonizador surge somente na segunda metade do século XVlll, como desdobramento de uma evolução

...

Baixar como (para membros premium)  txt (5.3 Kb)  
Continuar por mais 3 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com