ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL
Trabalho Universitário: ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: aldyrcampos • 4/4/2014 • 3.461 Palavras (14 Páginas) • 959 Visualizações
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ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL
1. Um preconceito renitente
Etnocentrismo é um preconceito que cada sociedade ou cada cultura
produz, ao mesmo tempo que procura incutir, em seus membros, normas e valores
peculiares. Se sua maneira de ser e proceder é a certa, então as outras estão
erradas, e as sociedades que as adotam constituem “aberrações”. Assim o
etnocentrismo julga os outros povos e culturas pelos padrões da própria sociedade,
que servem para aferir até que ponto são corretos e humanos os costumes alheios.
Desse modo, a identificação de um indivíduo com sua sociedade induz à rejeição
das outras. O idioma estrangeiro parece “enrolado” e ridículo; seus alimentos,
asquerosos; sua maneira de trajar, extravagante ou indecente; seus deuses,
demônios; seus cultos, abominações; sua moral, uma perversão etc.
É verdade que os povos mais primitivos têm uma forte rejeição etnocentrista
dos povos circunvizinhos. Porém nada se compara com o etnocentrismo combinado
com o sentimento de superioridade que o grupo ou a nação dominante dedica aos
dominados e oprimidos. Considerá-los sub-humanos, ou seres humanos de segunda
classe, é pretexto e efeito de uma relação de dominação.
Decerto, o preconceito etnocentrista nunca é inocente, como certos
antropólogos deixam entender. É pernicioso, por trazer no seu bojo um elemento da
mais alta periculosidade: a negação do “Outro” enquanto tal. E nega-o por senti-lo
como uma ameça à sua própria maneira de ser, e mesmo ao seu ser. E como a
melhor defesa é o ataque, pode partir para a eliminação física do Outro. Isso
aconteceu, parece, com outras espécies do homo sapiens que nossos antepassados
enfrentaram na pré-história. Talvez tenha sucedido o mesmo com a população
africana a que pertenceu “Luzia” - nossa mais recente descoberta arqueológica -,
quando levas humanas mongólicas invadiram as Américas. Perto de nós, foi a
“solução definitiva” que Hitler quis dar ao problema judaico e Slobodan Milosevic
adotou, em relação aos bósnios e kosovares, com sua famigerada “limpeza étnica”.
Nosso século se destacou por seus etnocídios e massacres.
Mas a rejeição do Outro, combinada com a dominação, assume também outra
forma: não tirar a vida do Outro, mas apenas a diferença, ou seja, extirpar-lhe a
alteridade que o constitui como Outro, assimilando-o e reduzindo-o à imagem e
semelhança do Mesmo. Os colonizadores europeus, menos tolerantes que os
impérios romano e mulçumano, tenderam a homogeneizar as populações que
dominavam. No mundo ibérico, os judeus foram obrigados a tornar-se “cristãos
novos” para salvarem a vida ou o patrimônio.
E ainda há uma forma mais sutil e oportunista de lidar com o Outro:
conservar-lhe a alteridade, mas, então, fazendo dela pretexto para oprimi-lo. A
diferença torna-se título que legitima a dominação e exploração, já que demonstra
uma degradação da condição humana; por isso, merece um estatuto de inferioridade
e de discriminação. Por exemplo, maior esforço na produção, menor fatia na
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distribuição, privação do poder decisório; não ter a plenitude dos direitos do cidadão;
ser considerado como objeto e não como sujeito da história.
Esse esquema é a matriz básica das diversas formas de opressão ou
dominação entre sexos, raças, nações. O preconceito etnocentrista, chegado a tal
ponto, produz suas ideologias que justificam essa “negação do Outro”. Para sua
elaboração, não faltam “intelectuais orgânicos” que tecem teorias e tratados a
serviço da dominação: onde se mistura a pseudociência com uma certa
grandiloqüência como o apelo a um destino excelso, no verso de Virgílio “Tu regere
império populos, Romane, memento” ou as tiradas de Kipling sobre “o fardo do
homem branco”. São ideologias que justificam as práticas de discriminação e as
políticas de opressão.
2. Ideologias etnocentristas
Há toda uma linhagem de ideologias desse tipo, pois diante das mudanças
culturais, o etnocentrismo tem de recorrer a outras motivações para justificar-se na
“consciência social que sempre mente a si mesma” (Marx).
a) Na época dos descobrimentos, exaltava-se a supremacia da cristandade e sua
missão de dilatar “a fé e o império”. Para isso, faziam-se “súbditos del rey”
nações e povos livres à custa de muito massacre. Os missionários iam com os
conquistadores, para extirpar cultos e costumes “ímpios e monstruosos”, pois
os pagãos estariam sob o poder de Satanás, do qual tinham de ser libertados a
todo custo, inclusive
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