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Elucubrações Acerca do Conceito de Alteridade

Por:   •  2/4/2017  •  Trabalho acadêmico  •  2.671 Palavras (11 Páginas)  •  264 Visualizações

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        Elucubrações acerca do conceito de alteridade -Por Otavio Rangel de Souza        

        Tendo em vista, que os Europeus ao chegar na América imbuídos da crença na civilização e no processo civilizatório adotou-se comumente o referencial de civilização que não existia no chamado novo mundo, assim o Europeu ao chegar na América se deu conta de um outro modo de vida, de uma outra organização social, e outros valores e naturalmente uma outra cultura. A questão do outro que pode ser definida como eixo central da obra de Todorov: "A conquista da América a questão do outro" é o tema que pretende-se abordar neste ensaio. Á luz de pensadores como Todorov, Sahlins entre outros, que servirão para aprofundar a discussão que gradualmente ganhará contornos mais densos, a fim de dar conta da complexidade ontológica da questão. No entanto, cabe ressaltar que o incurso pelo pensamento dos dois autores demandaria mais tempo de pesquisa, e um arcabouço teórico maior, logo  o objetivo central deste trabalho será ensaiar ou esboçar uma breve reflexão acerca da questão de alteridade, dito de outra maneira, quer-se fomentar o diálogo sobre a questão da alteridade e analisar o estranhamento que o desconhecimento causa evidenciando com isso o choque cultural e o choque  das distintas moralidades envolvidas nas distintas estruturações sociais e suas distintas relações com tempo. Como veremos num artigo de jornal escrito por Maria Rita Kehl sobre Guarani-kaiowás.

        Quero falar da descoberta que o eu faz do outro, O assunto é imenso. Mal acabamos de formulá-lo em linhas gerais já o vemos subdividir-se em categorias e direções múltiplas, infinitas. Podem-se descobrir os outros em si mesmo, e perceber que não se é uma substância homogênea, e radicalmente diferente de tudo o que não é si mesmo; eu é um outro. Mas cada um dos outros é um eu também, sujeito como eu. Somente meu ponto de vista, segundo o qual todos estão lá e eu estou só aqui, pode realmente separá-los e distingui-los de mim. (TODOROV. 1998, p. 3). Dessa relação do 'eu' com o 'outro' surge as questões que vão permear este trabalho. Como exemplo: como nomear o outro? Como nomear aquilo que desconheço? É possível firmar um acordo com o outro e assim estabelecer um pacto entre objeto e observador? Nesse caso, qual seria o papel de cada um? É possível desconstruir a visão que os Europeus tinham sobre outras civilizações?

        Tais questões oferecem a possibilidade de expandir o horizonte teórico em busca de uma a contextualização temporal, no qual será possível traçar as conexões de diferentes discursos produzidos em diferentes períodos históricos, mas que ainda reverberam e dialogam com nossa realidade. “Posso conceber os outros como uma abstração, como uma instância da configuração psíquica de todo indivíduo, como o Outro, outro ou outrem em relação a mim. Ou então como um grupo social concreto ao qual nós não pertencemos”. (TODOROV. 1998, p. 3) A possibilidade de encontrar naquilo que causa estranhamento um pouco de si é um problema não só existencial, mas antropológico e fundamenta a tentativa de comunicação que aparece em uma das acepções da palavra: "tornar comum" atribuído dessa maneira ao ato de repartir, dividir com o outro, aquilo que é nosso. O ponto comum ou de encontro entre duas civilizações: o conhecido e o desconhecido, o familiar e estrangeiro podem estar “contidos numa sociedade: as mulheres para os homens, os ricos para os pobres, os loucos para os "normais". Ou pode ser exterior a ela, uma outra sociedade que, dependendo do caso, será próxima ou longínqua: seres que em tudo se aproximam de nós, no plano cultural, moral e histórico, ou desconhecidos, estrangeiros cuja língua e costumes não compreendo, tão estrangeiros que chego a hesitar em reconhecer que pertencemos a uma mesma espécie”. (TODOROV. 1998, p. 2). Esta problemática do outro exterior, do outro estanho a minha cultura é o ponto de partida, para começar a firmar em linhas gerais a tentativa de estabelecer uma comunicação, e como as interações sociais são norteadas pelo simbólico.

         Desse modo, “as principais relações culturais passam através de urtla série de formas progressivamente distintas e delimitadas, correspondentes à passagem, na esfera social ou nível segmentar, dos mitos primordiais às lendas tribais e clânicas e dessas às histórias familiares, até — do modo como são levados adiante por referências ancestrais de ditos proverbiais, nomes próprios ou o pronome "eu" — tornarem-se a ordem da atual existência. A forma final do mito cósmico, é acontecimento corrente”. (SAHLINS.1990, p. 81-82) A estrutura social é constituída pela crença, pelo mito, ou alegoria que serve como um fator de coesão social e também serve a disseminação de valores e princípios que orientam o modo ser e estar no mundo. Além dessa dimensão mais religiosa o mito serve também para a representação simbólica de um povo, para a preservação da memória de feitos heroicos de uma civilização, e nesse sentido, suas crenças e tradições se traduzem num modo de vida peculiar.

         “A vida que os ancestrais levaram adiante na história é a mesma que está ativa nos vivos" (Johansen, 1954:163). Johansen introduz assim um contraste maori ao senso histórico ocidental, análogo à hábil crítica feita por Furet à histoire événementielle enquanto cliente necessária de ideologias finalistas, não havendo outro modo de tornar os acontecimentos inteligíveis quando são concedidos como irrupções do "único e do novo na concatenação do; tempo" (1972:54). Para os Maori, esses eventos estão longe de serem únicos ou novos; ao contrário, são imediatamente percebidos dentro da ordem recebida da estrutura como sendo idênticos aos originais”. (SAHLINS.1990, p. 82). Assim, encontramos amparo na afirmação de Parmênides o Ser é. O Ser encerra, portanto, igualmente tudo que é, numa unidade perfeita. O ser guarda em si toda essa dimensão simbólica dita anteriormente. Pois, ele fixa em si atribuídos herdados de uma dada cultura e tais atributos são naturalizados e estabelecem traços de identidade. O Ser amarra junto tudo que é, “pois de todo lado igual a si, se estende nos limites por igual” (PARMENIDES. 2006, VIII, 49) e “é todo pleno do que é. Por isso é todo contínuo: pois ente a ente acerca” (PARMENIDES. 2006, VIII, 24 e 25) .

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