Especificidade do comportamento político dos estudantes
Artigo: Especificidade do comportamento político dos estudantes. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: angell • 15/5/2014 • Artigo • 1.018 Palavras (5 Páginas) • 261 Visualizações
Introdução
De um modo geral, os estudos clássicos sobre a juventude, sobretudo aqueles que procuram enfatizar os diferentes modos de ser jovem na sociedade moderna, tomam o trabalho como um indicador privilegiado para identificar, de maneira contrastiva, dois segmentos da juventude: de um lado, o grupo constituído por jovens estudantes; de outro, o formado por jovens trabalhadores. A noção de trabalho, funcionando como um divisor de águas, transforma-se em um marco rígido: o que caracteriza o jovem trabalhador é sua precoce inserção no mercado de trabalho, através do exercício de uma ocupação de pouco prestígio e baixa remuneração. Em uma situação oposta, encontram-se os jovens que, por prolongarem sua formação escolar, - incluindo a formação de nível superior - postergam também sua entrada no mercado de trabalho. Todavia, uma vez inseridos nesse mercado, os jovens diplomados passam a ocupar cargos de prestígio e a obter salários elevados. O que está por trás desse tipo de análise é a idéia de que trabalho e estudo são situações mutuamente excludentes. Nem a formação de nível superior faz parte do universo dos jovens trabalhadores nem o trabalho é cogitado pelos jovens universitários.
E verdade que o objetivo de grande parte desses estudos consiste em buscar o que há de mais específico nesses grupos juvenis e, desse modo, as atividades ligadas ao trabalho ou à condição de estudante tornam-se o eixo em torno do qual suas identidades, envolvendo aspectos simbólicos e políticos, são constituídas.(1) É nesse quadro de uma sociologia diferencial da juventude que J. Habermas, L.F. Ch. Oehler e F. Weitz discutem o comportamento político dos estudantes. (2) A especificidade do comportamento político desse segmento explica-se pela forma particular de inserção do grupo na sociedade. Ou seja, é enquanto um não profissional, um não trabalhador, que o estudante tende a orientar seu comportamento político.
"A situação do estudante é, antes de mais nada, peculiar. Por um lado, é considerado adulto e, por outro, não tem licença para sê-lo. Tem sido feita, freqüentemente, a observação de que se trata, em certo sentido, de uma situação infantil conservada, apesar do amadurecimento físico e de certos atributos adultos (...). Desligados da casa paterna, mas ainda não incorporados à vida profissional, ainda não atingidos pelas condições específicas de uma profissão, os estudantes aparentam ser dotados do privilégio de poder distanciar-se da concorrência de interesses e ideologias. Os interesses "ligados à formação" dos estudantes são transitórios".(3)
Não interessa aqui discutir a tese sustentada pelos autores, de que o desinteresse dos estudantes pela política deve-se à condição de transitoriedade do grupo, a sua situação de aprendizes de profissionais. (4) O que importa notar é que a construção do argumento acentua a oposição entre trabalho e estudo. Em contraste com os estudantes, outros segmentos da juventude envolvidos desde a adolescência em atividades profissionais manifestariam maior interesse pela política.
Também deve ser notado que boa parte dessas análises, especialmente aquelas voltadas à caracterização do jovem estudante, teve sua origem em um contexto em que a universidade era muito diferente do que é hoje. Por muito tempo, a função precípua da universidade foi a formação de profissionais (5) recrutados entre os filhos da elite. Uma vez egressos das escolas de nível superior, esses jovens passavam a preencher os quadros políticos e administrativos da sociedade. Nessa época, o trabalho estava excluído da vida do jovem durante o período de aprendizado profissional. Por sua vez, o acesso ao ensino superior, por parte de jovens oriundos de famílias sem recursos e que, portanto, precisavam sustentar-se durante os estudos, era muito raro. Quando acontecia de um ou outro jovem transpor as barreiras da universidade, o estudante não só ganhava notoriedade como passava a encarnar o próprio mito da ideologia liberal. (6)
Em suma, sob a perspectiva da sociologia da juventude,
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