Etnografia Alcoolicos Anonimos
Artigos Científicos: Etnografia Alcoolicos Anonimos. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: manuvikini • 26/9/2014 • 2.042 Palavras (9 Páginas) • 405 Visualizações
Introdução
A presente etnografia teve como base a visitação em reuniões da irmandade “Alcoólicos Anônimos” observando e analisando o comportamento do grupo a fim de entender a doença e suas implicações na vida social dos seus portadores.
A escolha do tema veio, inicialmente, por certa curiosidade e perplexidade em função do quanto a doença interfere nos assuntos familiares, profissionais e sociais.
Inicialmente, a questão estava voltada para o fato de quais eram os motivos que levavam ao alcoolismo e a partir de que o ponto em que o alcoólico se via como um doente. No entanto, com as reuniões essas questões ficaram sem um propósito, visto que as respostas eram sempre as mesmas, que chegaram ao alcoolismo como uma brincadeira, por gostarem de beber e com o tempo não se viam mais sem a bebida e que passaram a se perceberem como doentes ao chegar ao grupo intermediado por algum familiar ou amigo.
Diante disso, o foco ficou na vida social do alcoólico. A perda de suas noções da família, de trabalho e de dignidade.
Da pesquisa de campo
Escolhido o tema, fui em busca de informações sobre a irmandade na internet. Com um site de fácil acessibilidade, encontrei as informações básicas de um grupo situado em Sobradinho, Quadra 11 Área Reservada, Ed. Renascer, sala 06. No dia seguinte fui até lá para conseguir informações.
Os Alcoólicos Anônimos são uma irmandade de homens e mulheres que compartilham suas experiências, forças e esperanças, a fim de resolver seu problema comum e ajudar outros a se recuperarem do alcoolismo.
A forma de tratamento utilizada é um programa de recuperação, expresso nos Doze Passos e nas Doze Tradições, cujo objetivo é ajudar os alcoólicos a evitar o “primeiro gole”. Assim, a principal atuação da irmandade é a ajuda mútua.
A pesquisa consistiu basicamente no comparecimento às reuniões. Elas acontecem aos domingos (10:00), segundas (20:00), quartas (20:00), sextas (20:00) e sábados (20:00).
A primeira reunião se deu em uma quarta feira, dia de reunião de estudos. Neste dia, a reunião consistia no estudo do livro “Os doze passos e as doze tradições”, com a leitura e a análise do sexto passo. Fizeram questão de passar as primeiras noções a respeito do tema e me deixaram livre para fazer qualquer tipo de pergunta.
Cabe ressaltar que as reuniões iniciam-se pontualmente no horário ,de acordo com o dia da semana, com a oração da serenidade:
"Concedei-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar aquelas que posso e sabedoria para distinguir umas das outras".
Percebi a importância desta oração para o grupo não só pelo fato dela iniciar as reuniões, mas sim por ela ter conotação de um hino para os membros, pois a partir dela o membro passa a entender sua condição de doente, a coragem para tentar modificar sua forma de vida e realizar um auto-exame de sua consciência.
Esta oração não foi criada pela irmandade e nem possui uma autoria certa e embora possa passar uma idéia religiosa, eles fazem questão de destacar que não possuem nenhuma vinculação com qualquer religião. Entretanto, a idéia de um poder superior que rege a existência humana é uma das bases primordiais dos terceiro e quarto passos:
“Viemos a acreditar que um Poder Superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade.” (3° passo).
“Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de um Poder Superior, na forma em que o concebíamos.” (4° passo).
Isso mostra que a irmandade mesmo sem possuir vínculo religioso não abre mão da religiosidade como forma de norteamento, de se auto-encontrar, mostrando que somos todos impotentes diante de uma força superior e que somente com a ajuda dela podemos viver de forma equilibrada.
Seguiu-se para o estudo do sexto passo:
“Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter” (6° passo).
O sexto passo mostra a importância do reconhecimento pelo alcoólico de suas falhas como conseqüência do quarto e quinto passos, evidenciando no sétimo passo a necessidade de ter em Deus a força para se livrar de suas falhas:
“Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.’ (4° passo).
“ Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas.” (5° passo).
“Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições” (6° passo).
Utilizando o método dos 12 Passos para a recuperação, o alcoólico aprende a conviver com a sua doença, sem beber. Tudo começa com o primeiro passo, sem o qual nada é possível na recuperação do dependente. Diz o Primeiro Passo:
“Admitimos que éramos impotentes perante o álcool; que havíamos perdido o domínio de nossas vidas”.
Os passos 8, 9 e 10 mostram a importância do alcoólico assumir que prejudicou várias pessoas e como conseqüência a si mesmo e a necessidade de reparar o mal que cometeram:
“Fizemos uma relação de todas as pessoas a quem tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados.” (8° passo).
“Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-las significasse prejudicá-las ou a outrem. (9° passo).
“Continuamos fazendo o inventário pessoal e quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.” (10° passo).
Para finalizar os doze passos, o 11° e o 12° retomam a temática de um poder superior como norteador com a necessidade de encarar esse despertar espiritual praticando e transmitindo essa nova forma de consciência:
“Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que o concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade e relação a nós, e forças para realizar essa vontade.” (11° passo).
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