Fale Da Cultura Como Um Objeto Da Antropologia E Se Na Contemporaneidade Ainda É Relevante
Por: k1ddo • 20/10/2023 • Trabalho acadêmico • 864 Palavras (4 Páginas) • 63 Visualizações
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Fale da cultura como um objeto da antropologia e se na contemporaneidade ainda é relevante.
Definir cultura de forma científica sempre foi uma preocupação dos antropólogos desde o século 19, entretanto nunca houve um consenso acerca do conceito. O Evolucionista britânico, Edward Tylor em 1870 fez uma das primeiras propostas científicas de que cultura seria “em seu amplo sentido etnográfico, este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou quaisquer outras capacidades ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”.
Note o adquirido e o membro de uma sociedade nessa definição. Apesar de não ficar tão claro a cultura material na proposta de Tylor, a cultura seria algo socialmente adquirido, não genético ou inato. Em uma definição menos estática, Franz Boas, antropólogo alemão culturalista, definiu como cultura aquilo que “abrange todas as manifestações de hábitos sociais de uma comunidade, as reações do indivíduo afetado pelos hábitos do grupo em que vive e o produto das atividades humanas, como determinado por esses hábitos.” Boas também criou a dimensão do que cunhou como particularismo histórico, noção que partia do princípio de que cada cultura possuía sua história e como tal era única e singular. A partir disto, Boas criou a noção do Relativismo Cultural.
Claude Lévi-Strauss, antropólogo estruturalista, compreende a cultura mediante o inconsciente humano, que possui funções simbólicas para classificar o mundo, desse modo as estruturas que organizam as sociedades originam-se dessas funções. Clifford Geertz, antropólogo americano interpretativista, se opõe a Lévi-Strauss, quando afirma que a cultura é uma ideação, mas não existe em nossa “mente”, ela não é física.Com isto, ele propõe uma visão não-essencialista de cultura como “um padrão historicamente transmitido de significados incorporados em símbolos, um sistema de concepções herdadas expressas em formas simbólicas por meio das quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e atitudes em relação à vida”.
Geertz ainda defende que a cultura é “um documento de atuação pública” e que não devemos nos preocupar com o seu status ontológico da cultura, mas qual a sua importância. Essas perspectivas refletem uma falsa dicotomia no debate sobre a cultura, ponto de um lado a cultura como um parâmetro de comportamento social e de outro, a cultura como um sistema simbólico de valores e significados. Em 1952 os antropólogos A.L. Kroeber e Clyde Kluckhohn analisaram 162 diferentes definições de cultura e concluíram que não seria possível uma definição de cultura que contentaria a maioria dos antropólogos. Entretanto, a cultura jamais deixou de ser um objeto antropológico. Também há a preocupação acerca da extinção da cultura como objeto da antropologia devido às pressões da sociedade capitalista sob os grupos sociais não ocidentais.
Porém Sahlins, em seu artigo Pessimismo Sentimental, argumenta que a cultura como objeto científico jamais será extinta. Pois, em contexto globalizado, as sociedades não ocidentais que sofrem pressões capitalistas, tem uma capacidade de se reinventar, através de um poder de agência que cria novas formas de se organizar de acordo com as mudanças sociais e políticas impostas. É como se esses grupos instrumentalizasse o capitalismo para manter a sobrevivência. Sahlins ainda ressalta que neste contexto globalizado há diversas novas formas de organização e de cultura inéditas que podem vir a ser objeto da antropologia. O autor sugere que a cultura é uma aposta na natureza, os eventos transformam-se naquilo que lhe é dado como significado (interpretação). Muda-se o significado, altera-se as noções de mundo dos sujeitos. A transformação da cultura também é uma forma de reprodução. Significa dizer que essa dinâmica não representa uma ameaça à extinção das culturas, como parece querer pensar o estruturalismo quando enfatiza os universos culturais. Logo, enquanto houver diferença, estranhamento, haverá a cultura como objeto antropológico.
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