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Ficha de leitura Geertz - Pessoa, tempo e conduta em Bali

Por:   •  7/10/2018  •  Resenha  •  7.893 Palavras (32 Páginas)  •  392 Visualizações

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Ficha de Leitura: GEERTZ, Clifford. Pessoa, Tempo e Conduta em Bali. In: A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1989.

A Natureza Social do Pensamento

“O pensamento humano é rematadamente social: social em sua origem, em suas funções, social em suas formas, social em suas aplicações. Fundamentalmente, é uma atividade pública – seu habitat natural é o pátio da casa, o local do mercado e a praça da cidade. (...)” (p. 225)

“(...)  um exame do aparato cultural nos termos do qual o povo de Bati define, percebe e reage às pessoas individuais – isto é: o que pensa sobre elas. (...) Vistos, porém, contra o pano de fundo de um objetivo teórico geral – determinar o que se segue para a análise da cultura a partir da proposição de que o pensamento humano é essencialmente uma atividade social – os dados balineses assumem peculiar importância.” (p. 225)

“(...) Eles apontam particularmente para algumas conexões não-óbvias entre a maneira como um povo percebe a si mesmo e aos outros, o modo pelo qual eles sentem o tempo e o tom afetivo de sua vida coletiva – conexões que têm sentido para se compreender não apenas a sociedade balinesa, mas também a sociedade humana em geral.” (p. 226)

O Estudo da Cultura

“Grande parte da recente teorização científica social voltou-se para uma tentativa de distinguir e especificar dois conceitos analíticos principais: cultura e estrutura social. (...) Para evitar ter que ver as idéias, conceitos, valores e formas expressivas como sombras lançadas pela organização da sociedade sobre as densas superfícies da história ou como a alma da história cujo progresso não é mais que a elaboração de sua dialética interna, foi necessário ver esses fatores como forças independentes, mas não auto-suficientes – atuantes, mas causando impacto apenas em contextos sociais específicos aos quais se adaptam, pelos quais são estimulados, mas sobre os quais eles têm uma influência determinante, em grau maior ou menor.” (p. 226 – 227)

“Há pouca dúvida, no entanto, de que dentro desse desenvolvimento de duas faces foi o lado cultural que provou ser o mais refratário e que permaneceu o mais atrasado. Pela própria natureza do caso, é mais difícil lidar cientificamente com as idéias do que com as relações econômicas, políticas e sociais entre os indivíduos e grupos que essas idéias informam. (...) são noções apenas meio formuladas, assumidas como certas, indiferentemente sistematizadas, que guiam as atividades normais de homens comuns na vida cotidiana. (...)” (p. 227).

“É neste ponto que a concepção do pensar como sendo basicamente um ato social, que ocorre no mesmo público em que ocorrem outros atos sociais, pode desempenhar um papel muito construtivo. (...) Os significados que os símbolos, os veículos materiais do pensamento, incorporam são muitas vezes evasivos, vagos, flutuantes e distorcidos, porém eles são, em principio, tão capazes de serem descobertos através de uma investigação empírica sistemática – principalmente se as pessoas que os percebem cooperam um pouco (...) O estudo da cultura, a totalidade acumulada de tais padrões, é, portanto, o estudo da maquinaria que os indivíduos ou grupos de indivíduos empregam para orientar a si mesmos num mundo que de outra forma seria obscuro.” (p. 227 – 228).

“Em qualquer sociedade particular, o número de padrões culturais geralmente aceitos e freqüentemente usados é extremamente grande, o que torna o trabalho analítico de selecionar apenas os padrões mais importantes e reconstituir quaisquer relações que possam ter uns com os outros uma tarefa vertiginosa. O que alivia um pouco essa tarefa é o fato de que certos tipos de padrões e certas espécies de relações entre os padrões reaparecem de uma sociedade para outra pela razão muito simples de que as exigências orientacionais que eles servem são genericamente humanas. (...)” (p. 228)

“Uma dessas necessidades orientacionais difundidas é certamente a caracterização dos seres humanos individuais. Todos os povos desenvolveram estruturas simbólicas nos termos das quais as pessoas são percebidas exatamente como tais, como simples membros sem adorno da raça humana, mas como representantes de certas categorias distintas de pessoas, tipos específicos de indivíduos. (...) O mundo cotidiano no qual se movem (...) é habitado não por homens quaisquer, sem rosto, sem qualidades, mas por homens personalizados, classes concretas de pessoas determinadas, positivamente caracterizadas e adequadamente rotuladas. Os sistemas de símbolos que definem essas classes não são dados pela natureza das coisas – eles são construídos historicamente, mantidos socialmente e aplicados individualmente.” (p. 228 – 229)

“(...) O que é necessário é alguma forma sistemática, em vez de apenas literária ou impressionista, de descobrir o que é dado, como é percebida realmente a estrutura conceptual encarnada nas formas simbólicas através das quais as pessoas são percebidas. O que queremos, e não temos ainda, é um método desenvolvido para descrever e analisar a estrutura significativa da experiência (aqui, a experiência das pessoas) conforme ela é apreendida por membros representativos de uma sociedade particular, num ponto do tempo particular – em suma, uma fenomenologia científica da cultura.” (p. 229)

Predecessores, Contemporâneos, Consócios e Sucessores

“Algumas tentativas esparsas e muito abstratas ocorreram, porém, na análise cultural assim concebida, de cujos resultados é possível tirar algumas indicações úteis para a nossa pesquisa mais estreitamente localizada. As mais interessantes dentre essas incursões foram as levadas a efeito pelo falecido filósofo-sociólogo Alfred Schutz, (...) Um de seus exercícios na fenomenologia social especulativa – a desagregação da noção amortecedora de ‘companheiros’ em ‘predecessores’, ‘contemporâneos’, ‘consócios’ e ‘sucessores’ – fornece um ponto de partida especialmente valioso para nossos próprios objetivos. (...)” (p. 229 – 230)

“As distinções em si mesmas não são abstrusas, mas o fato de as classes que eles definem se sobreporem e se interpenetrarem torna difícil formulá-las com a agudeza decisiva que as categorias analíticas exigem. ‘Consócios’ são indivíduos que se encontram realmente, pessoas que se encontram umas com as outras em qualquer lugar no curso da vida cotidiana. Eles compartilham, assim, embora breve ou superficialmente, de uma comunidade não apenas no tempo, mas também no espaço. (...)” (p. 230).

“Os contemporâneos são pessoas que partilham uma comunidade no tempo, mas não no espaço: eles vivem (mais ou menos) no mesmo período da história e muitas vezes mantêm relações sociais muito tênues entre si, porém não se encontram – pelo menos no curso normal das coisas. Eles se ligam não através de uma interação social direta, mas através de um conjunto generalizado de pressupostos formulados simbolicamente (isto é, culturalmente) sobre os modos típicos de comportamento um do outro. (...)” (p. 230 – 231).

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