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Fichamento Da Razão Tupiniquim

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Por:   •  12/4/2014  •  3.505 Palavras (15 Páginas)  •  809 Visualizações

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Capítulo 1 - Um título

“(...) Razão Tupiniquim? Tratando- se de título de um livro, supõe-se que denuncie um tema. Ocorre que este tema jamais foi explicitado, não existindo. Fácil constatar que entre nós esta Razão estará adormecida ou pulverizada (...)

(...) mal sabemos o que seja uma Razão Tupiniquim. Uma piada, talvez. Hipótese que nos causaria grande prazer. Gostamos muito de piadas. Há todo um espírito brasileiro que se delicia com a própria agilidade mental, esta capacidade de ver o avesso das coisas revelado numa palavra, frase, fato. Somos, os brasileiros, muito bem humorados. Conseguimos rir de tudo(...) Chegamos a fazer piadas sobre nossa capacidade de fazer piadas. (...). Embora tenhamos uma imensa mitologia construída em cima de nosso jeito piadístico, no momento de pensar não admitimos piada. Queremos a coisa séria. Frases na ordem inversa, palavras raras, citações latinas - e é impossível qualquer piada em latim, (...). Isto criou situações constrangedoras, (...) mas na hora das coisas "culturais" mergulha num escafandro greco-romano (...). Desconhecendo-se, mal sabendo de uma Razão Tupiniquim, o brasileiro aliena-se de dois modos: rindo de sua sem-importância ou delirando em torno do "país do futuro", (...).

(...). A questão de um pensamento brasileiro deverá brotar de uma realidade brasileira - não do "pensamento" e da "realidade" oficiais. (...). Não se trata de "inventar" uma Razão Tupiniquim, mas de propor um projeto, um certo tipo de pretensão (...)”. ( p.4-8)

Capítulo 2 - A sério: a seriedade

“(...)Filosofia brasileira só existirá a partir do momento que vier a ser, como a piada, uma investigação do avesso da seriedade vigente. Obras sérias são feitas com arquivos, (...) É esta máscara séria que vem sufocando o pensamento brasileiro, (...). A ritualização, triunfo do sério, consiste exatamente nisto: fala-se agora sobre temas adequados, pouco importando se importam. (...). Assim, perdeu-se a ligação e a referência crítica à realidade, que sempre foi a pretensão básica da Filosofia (...).

(...). No intelectual brasileiro que discursa, triunfa o sério - expressão de uma classe privilegiada diante da multidão analfabeta. No homem sério, triunfa a Razão Ornamental. (...)mais do que se poderia supor. (...). O que levanta a questão fundamental sobre as condições de possibilidade de um juízo filosófico brasileiro: a Filosofia, de terno e gravata, pensa? Eis o que desejaria mostrar: nossa aversão à pompa acaba convertendo-se em seu oposto - o triunfo da cultura formalística. E, pois, urgente que assumamos a capacidade a seno do humor como forma de conhecimento. Só no momento em que, abandonada a tirania do sério, percebermos que nossa atitude mais profunda encontra-se em ver o avesso das coisas é que poderemos retirar de nossas costas o peso de séculos de academismo. (...).

Creio ser isto suficiente para denunciar nossa inautenticidade intelectual. Quando, com um mínimo de consciência crítica, (...)temas ainda não adquiriram o status de assunto sério, pois o intelectual brasileiro só leva a sério o que é sério, óbvia inversão. Onde o hábito faz o monge. (p.9-16)

Capítulo 3 - Uma Razão que se expressa

“(...) O que chamamos de Filosofia grega nada mais é do que o streep tease cultural que a Razão grega realizou de si mesma. É deste ato mais simples do que gostariam de supor os pensadores tupiniquins, no qual uma Razão se descobre em sua originalidade e conhece seus mais íntimos projetos, que emerge a possibilidade de Filosofia (...)

De fato, descobrir-se é encontrar-se em, pelo simples fato de não haver um "outro" que eu deva descobrir - desde o início sou eu quem está em questão. A descoberta é, pois, fenômeno primário: um reconhecimento. (...). A consciência é primariamente este contato com a proximidade, com os contornos que imediatamente me chocam, exigem e perturbam. (...). A Filosofia, onde uma Razão se expressa, sempre se revelou pela fidelidade a este dado. (...). Por mais abstrato que possa parecer um pensamento, sempre traz em si a marca de seu tempo e lugar. (...). A consciência aguda, altamente diferenciada da Razão grega naquele momento, eis a raiz de sua profundidade e a natureza de sua lição. Seu pensamento torna-se incompreensível se não levarmos em conta a íntima conexão que aí existe entre Política e Filosofia, sendo esta esclarecida por aquela, na medida em que reflete a seu respeito. (...)

(...) o pensamento filosófico nada pressupõe além da Razão, que a história trata da Razão, e somente da Razão, e que o Estado é a realização da Razão. (...). O vital é reconhecermos que um pensamento é original não por superar sua posição – (...) -, mais precisamente por dar forma e consistência a este tempo e apresentar uma revisão crítica das questões de sua época, aí tendo origem. O pensamento é superior não a despeito de ser situado, mas justamente por situar-se.

(...)Filosofia não ser apenas algo entre nós, mas Filosofia brasileira, é claro que estamos supondo uma originalidade, a nossa. Um erro seria, (...), apegar-se a uma resposta estranha, que aqui não tenha nascido. (...), confundir originalidade com novidade. O novo é apenas um acidente do original(...).

(...) uma Filosofia brasileira só terá condições de originalidade e existência quando se descobrir no Brasil. (...). Desde sempre nosso pensar tem sido(...), providenciado no estrangeiro. (...). A grande dificuldade, no sentido de fazer explodir toda uma construção séria da Filosofia que entre nós se instalou, é realizar a consciência de que o pensamento e seus objetos são pura invenção. (...).

(...). Insista-se que os filósofos, ao inventarem Filosofia, inventaram (...)o que importava e destacaram o que era urgente, (...) A noção de que o pensamento é uma espécie de ápice reflexivo da consciência(...) é inevitável. Assim, Filosofia é uma Razão que se expressa (...)E uma Filosofia brasileira precisaria ser o desnudamento desta Razão que viemos a ser (...)”.(p.17-25)

Capítulo 4 - Filosofia e negação

A Filosofia goza de um destino certamente trágico: deve justificar-se. (...). A ciência e seu saber procedem de um movimento do espírito em direção ao real que nos circunda, (...). Em nossos dias isto assumiu um caráter pragmático: (...). A ciência nos importa, sendo úteis os seus resultados. Antes mesmo de questionarmos a respeito de seus supostos e consequências, damos por admitido que os resultados do saber científico são desejáveis, gerando progresso da ciência. (...). As coisas mudam quando tratamos

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