Fórmula Canônica do Mito
Por: Ian Carmo • 17/9/2022 • Artigo • 7.577 Palavras (31 Páginas) • 155 Visualizações
Ian Barcellos Ferri Souza Carmo
Resumo
O objetivo deste artigo foi investigar e delinear a evolução do conceito de Fórmula Canônica do Mito ao longo do trabalho do antropólogo e etnologista francês Claude Lévi-Strauss, mostrando sua centralidade à noção de mito proposta pelo autor. Este estudo foi feito principalmente através da leitura e listagem de várias obras de Lévi-Strauss em que a Fórmula Canônica do Mito aparece e é aplicada, além de outros textos do autor, a fim de fundamentar sua própria definição de mito. Uma segunda parte da pesquisa bibliográfica foi feita por meio da leitura de artigos e livros de outros pesquisadores que aplicaram a Fórmula Canônica às suas análises.
As seguintes aplicações da Fórmula Canonical ocorrem em A Oleira Ciumenta, e na História de Lince nestes dois livros, o conceito é aplicado a uma miríade de mitos muitas vezes de regiões geográficas e histórico-linguísticas distintas, mas que passam por transformações, as chamadas torções duplas, à medida que cruzam essas fronteiras. Já com a leitura do livro The Double Twist pode-se ver sua possível aplicabilidade, bem como suas limitações e contribuições para o estudo de mitos e Antropologia Contemporânea. Por fim, a análise das obras de Eduardo Viveiros de Castro, permitiu-nos perceber o quanto o pensamento de Lévi-Strauss e, especialmente, as possibilidades da Fórmula Canônica do Mito influenciaram debates e temas tão relevantes, como por exemplo, o perspectivismo ameríndio.
Palavras-chave: Etnologia, Lévi-Strauss, Estruturalismo, Mitologia, Fórmula Canônica
Abstract
The aim of this article was to investigate and delineate the evolution of the concept of Canonical Formula of Myth throughout the work of the French anthropologist and ethnologist Claude Lévi-Strauss, showing its centrality to the notion of myth proposed by the author. This study was mainly done through the reading and listing of several works by Lévi-Strauss in which the Canonical Formula of Myth appears and is applied, in addition to other texts of the author, in order to substantiate his own definition of myth. A second part of the bibliographic research was done by reading articles and books by other researchers who applied Formula Canonical to their analyses.
The following applications of Canonical Formula take place in The Jealous Pottery, and in the History of Lynx in these two books, the concept is applied to a myriad of myths often of distinct geographical and historical-linguistic regions, but which undergo transformations, the so-called double sprains, as they cross these borders. Already with the reading of the book The Double Twist one can see its possible applicability, as well as its limitations and contributions to the study of myths and Contemporary Anthropology. Finally, the analysis of the works of Eduardo Viveiros de Castro allowed us to realize how much lévi-strauss' thinking and, especially, the possibilities of the Canonical Formula of Myth influenced debates and topics as relevant, as for example, Amerindian perspectivism.
Keywords: Ethnology, Lévi-Strauss, Structuralism, Mythology, Canonical Formula
Introdução
Em seu texto “A Fórmula Canônica do Mito” o antropólogo brasileiro Mauro Almeida busca fazer uma análise da formulação e evolução da fórmula canônica do mito na obra de Lévi-Strauss e problematiza o desenvolvimento dela em obras posteriores, propondo uma nova interpretação, à luz dos escritos do antropólogo francês. Segundo Almeida:
Essa continuidade não é apenas superficial: ela relaciona-se com o fato de que em todas essas publicações a fórmula canônica é aplicada principalmente à análise de sintagmas completos, isto é, ritos e narrativas individualizadas, sendo este emprego aparentemente justificado pela formalização baseada na teoria das catástrofes. É, contudo, paradoxal que Lévi-Strauss, tanto em suas primeiras formulações programáticas quanto em seus últimos escritos sobre a fórmula (Lévi-Strauss, 2001 [1994]) tenha, ao contrário, utilizado a fórmula para conectar objetos culturais de conjuntos geográfica e historicamente descontínuos, com a atenção em paradigmas, e, não em sintagmas individuais. (ALMEIDA, 2009, p.2)
Ou seja, a utilização da fórmula canônica do mito em obras posteriores àquelas de Lévi-Strauss desviou-se do objetivo original daquele proposto pelo autor, que seria o de justamente servir como ponte teórica e conceitual entre mundos com conjuntos culturais e formulações de pensamento diferentes. A proposta do autor é a de retomar a formulação original de Lévi-Strauss e mostrar como a “fórmula canônica do mito” constitui uma receita para introduzir “uma conexão entre mitos de regiões geográficas ou entre domínios históricos distintos.” (ALMEIDA, 2009, p. 8) na medida em que ela se relaciona intimamente com a própria definição que Lévi-Strauss dá ao mito.
Este artigo tem, portanto, como objetivo principal realizar um estudo sobre a evolução do conceito de fórmula canônica do mito na obra do antropólogo e etnólogo francês Claude Lévi-Strauss mostrando sua centralidade na noção de mito proposta pelo autor.
Assim, porque a fórmula canônica do mito é tão central ao pensamento lévi-straussiano e aos estudos dos mitos de maneira geral, é imperativo que se estude a formulação e evolução do conceito. Tanto as obras de Lévi-Strauss quanto as que, influenciadas pelo autor, dão um novo entendimento ao conceito, já que este delimita, em última instância, a forma como se estrutura o pensamento mítico e, mais ainda, como esse pensamento é, pois, universal a todas as culturas. Se, uma das grandes questões que antropologia propõe ao mundo, e que é a sua por excelência, é a da alteridade, do outro, do lidar com o outro; então estudar a fórmula canônica do mito e a universalidade que ela pressupõe, é perceber como as fundações do pensamento e do ser humano são uma só. E talvez, mais importante que isso é fazer com que nós, a sociedade ocidental, que tem a pretensão de produzir um conhecimento último, se questione sobre si mesma, sobre seus pressupostos e paradigmas. E assim fazendo, permita que novas formas de conhecimento, de entendimento do mundo, de si e dos outros — como a dos povos ameríndios estudados com tanto afinco por Lévi-Strauss — tenham espaço e relevância.
Este estudo foi feito fundamentalmente através da leitura do corpus teórico das obras de Claude Lévi-Strauss que fundamentam o conceito de Fórmula
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