Hedva E Eu, Romance Picaresco Ou De Formação
Exames: Hedva E Eu, Romance Picaresco Ou De Formação. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: ednazanoni • 9/10/2014 • 3.820 Palavras (16 Páginas) • 149 Visualizações
HEDVA E EU, romance picaresco ou de formação?
Este trabalho tem como objetivo fazer uma análise de alguns aspectos presentes no romance Hedva e eu (1954), de Aaron Megued, como trabalho final da disciplina Literatura Hebraica IV, segundo semestre de 2011, utilizando anotações de classe e a bibliografia sugerida.
Na leitura da obra percebem-se várias tendências, sendo que ficaram bastante evidentes os elementos picarescos/satíricos e a intenção didática/educativa, pois o autor, além de descrever criticamente a sociedade, tenta educar. Vale observar que Mario González coloca
Como estudioso do romance picaresco, foi-me muito instigante descobrir que os teóricos (do romance de formação) elencavam na genealogia deste último gênero não apenas obras que podem ser entendidas também como precedentes do romance picaresco, mas também romances tidos tradicionalmente como picarescos. É interessante constatar que certos textos que se procuram ver como manifestações do romance de formação podem ser facilmente elencados como exemplo de realizações do romance picaresco.
Este trabalho, portanto, levará em consideração esses dois aspectos, enfatizando, no entanto, aspectos relacionados ao romance de formação.
O romance estudado retrata o período do pós-guerra de independência e criação do Estado Israel, que ocorreu em 1948. Período em que houve a chegada maciça de imigrantes, que causou um enorme crescimento demográfico, fazendo com que em três anos a população israelense dobrasse. A integração de centenas de milhares de imigrantes foi uma tarefa difícil para o pequeno país que acabava de ser criado, a que faltavam recursos naturais, tornando os primeiros anos bastante difíceis.
A população original teve de arcar com as conseqüências dessa imigração, tornando-se ela própria uma minoria no recém-criado país. O desemprego e o racionamento de alimentos e de produtos foram outras das conseqüências dessa imigração em massa. São realidades que serão mostradas na ficção do período.
Aaron Megued nasceu em Wloclavek, Polônia, em 1920 e aos cinco anos, em 1926, sua família migrou para Palestina, como integrantes da quarta aliyá. Cresceu em um assentamento agrícola e integrou-se depois a um kibutz. Em 1940 deixou o kibutz para morar em Tel Aviv.
Embora não tenha nascido na terra de Israel, faz parte do grupo conhecido como “geração da terra”, isto é, escritores nascidos em Israel, ou que para ele vieram quando crianças, e que tiveram o hebraico como língua materna. O período do Mandato Britânico (1922-1948), o holocausto, a Guerra de Independência e o estabelecimento do Estado de Israel são os elementos formadores dessa geração.
A literatura da época reflete a história e os valores desse povo, nessa luta para conseguir não só autonomia política, mas também cultural. A ideologia sionista de que estavam imbuídos pregava o amor á terra, o retorno à natureza, o sacrificar-se pelo bem comum, e que os levaram a participar na juventude na luta pela independência e pela criação do Estado de Israel, heranças presentes nessa literatura..
Embora o setor agrícola não ocupasse mais do que 20% da população, seus valores ocupavam um lugar central na consciência coletiva, sendo o cenário eleito pelos escritores para sua ficção.
A transição de uma sociedade comunitária para a sociedade urbana em formação, com seus funcionários burocratas e seus governantes, representou um choque para esses escritores e soldados que voltavam dos campos de batalha. A decepção pela destruição de suas esperanças torna-se um dos temas da ficção pós-1948.
Como coloca Guerschon Schaked
a literatura dos anos cinqüenta e início dos sessenta é uma literatura de desengano. Assim, as decepções ideológicas dão origem a obras satíricas, nostálgicas, elegíacas e outras, nas quais os escritores tentam colocar novas bases para a existência individual.
A sátira foi usada como base para a ficção de muitos autores, entre eles, Aaron Megued, que capta e retrata em sua ficção a atmosfera da época. Como cronista social de sua época, mostra as mudanças que ocorrem na sociedade israelense, descrevendo, com humor, essas transformações. É o que percebemos no romance ora estudado.
Hedva e eu é o primeiro romance de Aaron Megued. É um romance realista, que narra as aventuras de um ex-membro do kibutz, que, contra sua vontade, por insistência da esposa Hedva, abandona o kibutz. O protagonista é um exemplo de anti-herói: solitário, atormentado pelas suas falhas, preocupado em não ser ridicularizado e humilhado, sente-se um estranho na sociedade urbana de Tel Aviv. A narração é feita em primeira pessoa pelo protagonista, uma forma de dar maior credibilidade à narrativa.
Vale observar que o romance é uma paródia da expulsão do paraíso (nesse caso, o kibutz), em que mulher (Hedva), através de artimanhas e chantagem emocional, consegue fazer com que o marido (Schlomo) abandone o paraíso para ir em busca de uma vida melhor, isto é, conhecer e tentar uma nova forma de vida, em Tel Aviv.
É na narração dessas aventuras e peripécias que podemos observar o romance ora como picaresco, ora como romance de formação.
O romance picaresco teve origem na Espanha, em meados do século XVI, com o aparecimento de A vida de Lazarilho de Tormes. É
(...) a pseudo-autobiografia de um anti-herói que aparece definido como marginal à sociedade; a narração das suas aventuras é a síntese crítica do processo de tentativa de ascensão social pela trapaça; e nessa narração é traçada uma sátira da sociedade contemporânea do pícaro.
Tomando essa definição como ponto de partida para uma análise da narrativa, podemos considerar que Schlomo, o protagonista, é “marginal” nessa sociedade urbana de Tel Aviv a que acaba de chegar. Tentará conseguir seu lugar e ascender socialmente a fim de atender as ambições da esposa Hedva.
A tentativa de ascensão social, no caso do pícaro, realiza-se com a exclusão do trabalho, que, no caso em estudo, significa obter uma posição de funcionário público. Pois, embora não saiba fazer nada dentro dessa função, já que sua experiência anterior limita-se aos trabalhos braçais que realizava dentro do kibutz, procura conseguir esse cargo graças a amigos da esposa
- ¡Así que usted es el marido de Jedva! – me dijo, mientras se dirigía al escritorio -. Bueno, usted comprende, cuando veo un muchacho con un gorro semejante, completamente distinto a la gente que suele venir
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