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Identidade Surda

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Por:   •  15/10/2013  •  1.041 Palavras (5 Páginas)  •  1.585 Visualizações

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Identidade Surda RESUMO

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RESUMO

Como exemplo da suspensão provisória de identidades, é possível resgatar um trabalho

realizado anteriormente (KUMADA; SILVA, 2009, s/p.), em que descrevo minha própria

experiência com um grupo de crianças surdas. O estudo analisou um episódio de

discriminação a uma das crianças, não pelo fato de ser surda, visto que todos no grupo eram

surdos, mas pelo fato de ser negra e pobre. Nesse caso, a identidade surda foi “suspensa”

pelo grupo, sendo tomadas como referência as outras identidades da criança.

Além disso, da mesma forma como é inviável acreditar na existência de apenas uma

identidade social, a pesquisadora surda Gladis Perlin (1998, p.62-65) acredita não ser

possível falar de uma única “identidade surda”. De acordo com a classificação proposta

pela autora, existem cinco modelos de identidades surdas, a saber:

1) identidade surda: surdos que vivenciam o mundo através de experiências visuais.

São incluídos nesse grupo os surdos militantes que reivindicam recursos visuais para

surdos e os surdos filhos de surdos que vivenciam desde a infância a língua de sinais,

diferente das crianças surdas filhas de pais ouvintes;

2) identidades surdas híbridas: surdos que nasceram ouvintes e, com o tempo,

tornaram-se surdos. São sujeitos que ainda interpretam o mundo, primeiramente,

através da língua portuguesa e, em seguida, passam suas impressões visuais para a

língua de sinais;

3) identidades surdas de transição: surdos que foram mantidos sob forte influência da

experiência ouvinte e posteriormente foram inseridos na comunidade surda. Como a

maioria dos surdos são filhos de pais ouvintes, Perlin (1998, p. 64) afirma que quase

todos os surdos passam por essa transição. Trata-se realmente de uma identidade

transitória, como a própria denominação sugere. Embora passando por esta transição,

a autora indica que é natural ainda permanecerem resquícios da representação

ouvintista;

4) identidade surda incompleta: surdos que vivem sob uma ideologia ouvintista latente,

que buscam orientar os surdos com base na cultura dominante, como uma tentativa

de reprodução da identidade ouvinte. Podem ser incluídos nesse grupo os surdos

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que negam a identidade surda ou que foram impedidos pelos ouvintes de conhecê-la

como, por exemplo, os surdos que são mantidos pela família longe de outras pessoas

surdas, convivendo apenas com ouvintes;

5) identidades surdas flutuantes: surdos que vivem e se manifestam a partir da

hegemonia dos ouvintes. São vistos pela autora como vítimas da ideologia ouvintista,

têm um forte desejo de serem ouvintizados, desprezam e negligenciam a cultura e

comunidade surda.

Não é sem fundamento que as identidades relatadas por Perlin (1998, p. 62-65) estão

arraigadas na diferenciação surdo/ouvinte. De fato a base da identidade está na diferença,

conforme Silva (2000, p. 74-75) e Woodward (2000, p. 39-40) defendem.

Na interpretação de Silva (2000, p. 74-75), seria como entender a identidade a partir daquilo

que se é, por exemplo: “sou brasileira”, “sou mulher”, “sou heterossexual” etc. Por outro

lado, o conceito de diferença seria centrado no que o outro é, por exemplo: “ele é argentino”,

“ele é homem”, “ele é homossexual”.

Dando continuidade à linha de pensamento estabelecida por Silva (2000, p. 81-82), a

diferenciação entre um grupo e outro nunca é ingênua, pois guarda estreita relação de poder

ao marcar quem são os incluídos e os excluídos, “nós” e “eles”, os “bons” e os “maus”, os

“puros” e os “impuros”, os “desenvolvidos e os “primitivos”, “normais” e os “anormais”.

A partir dessa lógica, facilmente compreendemos o que está implícito no binarismo surdo/

ouvinte, ou seja, a representação do surdo excluído e do ouvinte incluído ou do anormal

diante do normal. É válido destacar que essa representação ultrapassa o jogo de palavras,

pois a relação de poder está baseada na delegação da autoridade que um grupo tem para

decidir pelo outro.

Você deve recordar sobre o conteúdo aprendido durante a aula-tema 01, ao discorrermos

sobre o histórico de dominação que se arrasta desde a Antiguidade. Vimos que os ouvintes

da época decidiam pelo surdo seus direitos ao matrimônio, à educação, à religião e até

mesmo à vida. Não tão distante desse cenário, atualmente muitos ouvintes continuam

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impondo

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