Linguagem e Comunicação
Por: Valniele Albuquerque • 8/4/2019 • Pesquisas Acadêmicas • 2.592 Palavras (11 Páginas) • 143 Visualizações
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Centro de Ciências Biológicas E Sociais Aplicadas
Departamento de Relações Internacionais
TEORIA DE POLÍTICA CONTEPORANÊA
PROFESSORA GIULIANA DIAS VIEIRA
ALUNA VALNIELE DE SÁ ALBUQUERQUE
FICHAMENTO: FERES JUNIOR, João. Teoria Política Contemporânea: uma introdução. Cap. 7 Linguagem e Comunicação
“A virada linguística, tal como denominada por Gustav Bergmann e Jurgen Habermas, entre outros, consiste em uma mudança de paradigma que realça o predomínio da filosofia da linguagem em detrimento da filosofia da consciência. Antes de Habermas e Rorty, foram associados a essa mudança conceitual autores como Husserl e Wittgenstein.” (p.199)
“De acordo com Rorty, essa mudança paradigmática não deve ser vista como a veem os positivistas lógicos, ou seja, como algo que permitiu que questões kantianas pudessem ser construídas sem infringir a aposta dos teóricos da psicologia em falar kantianamente de temas como a experiência e a consciência.” (p.199)
“O pragmatismo desenvolvido nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras do século XX por autores como Charles Sanders Peirce e George Herbert Mead é certamente uma das principais fontes nas quais vão beber importantes teóricos contemporâneos da comunicação, como é manifestamente o caso de Habermas. Mead, em seu mais famoso livro, intitulado Mind, Self, and Society, publicado originalmente em 1934, deu forma a uma verdadeira teoria da interação social, a qual, posteriormente, foi desenvolvida por seus discípulos na escola de Chicago, quando ganhou forma o chamado interacionismo simbólico, importante movimento de ideias do pensamento social do século XX.” (p.199 - 200)
“A importância da linguagem no desenvolvimento da experiência humana, segundo Mead, reside justamente no fato de que o estímulo reage tanto no sujeito que fala quanto no outro com quem ele fala. A relação entre o gesto vocal e as respostas obtidas tanto naquele que o emitiu como naquele a quem ele era dirigido, Mead chama de “símbolo significante” (significant symbol). (...). Em outras palavras, quando a resposta da outra pessoa (com quem o sujeito falante se comunica) é provocada e se torna um estímulo para controlar sua ação, o sujeito falante passa a ter o significado do ato dessa outra pessoa em sua própria experiência. Quando a resposta que se tenta provocar em outro indivíduo surge em si mesmo, o que se tem é uma “tomada do papel de outro” (taking the role of the other), isto é, uma tendência a agir conforme a outra pessoa age. Essa capacidade humana que Mead chama de reflexividade é, segundo ele, o que faz os homens diferirem dos outros animais. E o que seria distintivo da linguagem humana é a possibilidade de que um mesmo ato de fala afete tanto aquele que o emite quanto aquele a quem se dirige. Essa noção de “tomada de papel do outro” de Mead é central nos desenvolvimentos ulteriores da teoria da comunicação nas últimas décadas do século XX, em particular na obra de Habermas.” (p.200)
“Mead ressalva que esse processo pelo qual um indivíduo afeta outros indivíduos é transportado para a experiência de todos esses indivíduos afetados e, nesse sentido, é um processo social. Os indivíduos afetados pelo que ouvem tomam a atitude daquele que fala como sua, não por uma questão de repetição, mas como parte de uma elaborada reação social que se encontra em curso.” (p.201)
“O processo humano que possibilita que um indivíduo aponte significados para outros e para si mesmo, ou seja, aquilo que possibilita que os indivíduos exerçam um controle sobre os significados, Mead chama de mente (mind). A mente, portanto, emerge da linguagem. (...). Desse modo, a mente emerge e desenvolve-se no seio de um processo social, no contexto de uma matriz empírica de interações sociais. Isso se deve ao fato de que o processo de experiências tornadas possíveis pelo cérebro humano apenas é possível para um grupo de indivíduos que interagem.” (p.201)
“Além de fazer a mente emergir, a interação social também é responsável pela emergência do self. O self, como aquilo que pode ser um objeto para si mesmo, é essencialmente uma estrutura social, por sua vez surgida da experiência social. De acordo com Mead, é impossível conceber um self que surja fora da experiência social. E, assim como a mente, tampouco o self surgiria fora de um contexto linguístico. Quando o self se torna um objeto para si mesmo, através da sociedade e da linguagem, ele passa a ser um self reflexivo. É nesse fato que reside, segundo Mead, a importância da comunicação: ela consiste no único tipo de comportamento no qual o indivíduo responde a si mesmo. Nesse sentido, o pensamento é uma forma de conversação interna do sujeito consigo mesmo que o conduz, por conseguinte, à ação.” (p.201)
“À emergência do self, da personalidade, está associada um tipo específico de inteligência que Mead chama de inteligência reflexiva. O desenvolvimento dessa inteligência das pessoas, que culmina naquilo que pode então ser chamado de comunicação, depende do desenvolvimento daquela reação social pela qual os indivíduos influenciam a si mesmos da mesma forma que influenciam os outros. É a inteligência reflexiva, portanto, que torna possível que um indivíduo assuma e elabore as atitudes de outros indivíduos. A esse processo, por sua vez, Mead chama de produção de “outros generalizados”’ (generalized others), que também será extensamente apropriado por Habermas e outros teóricos contemporâneos da comunicação e da linguagem.” (p.201 - 202)
“Quando todos os indivíduos desempenham as atitudes de outros, e a atitude de um grupo é diferente daquela de um indivíduo separado, o que temos é um “outro generalizado” que contribui para a formação de uma comunidade também consciente de si mesma. Foi a linguagem, portanto, o princípio de organização social que fez a sociedade humana ser possível.” (p.202)
“A virada pragmática pode ser definida negativamente como um afastamento (ou uma virada em direção contrária a tanto das pré-modernas preocupações metafísicas com as estruturas do ser quanto das modernas preocupações epistemológicas com a possibilidade de acesso do sujeito a um mundo objetivo. Positivamente, a virada pragmática pode ser definida como uma aproximação (ou uma virada na direção das condições e pressupostos do uso da linguagem como o contexto e o meio inevitáveis para a investigação filosófica.” (p.202 - 203)
“Dois dos principais autores que encontraram destaque no âmbito da virada pragmática são os alemães Karl-Otto Apel e Jurgen Habermas. Ambos começaram a desenvolver juntos, a partir da década de 1960, uma fundação para a filosofia prática e para as ciências sociais por meio de uma concepção de racionalidade comunicativa (ou discursiva).” (p.203)
“A primeira dessas diferenças veio à tona já em 1976, quando ambos publicaram pela primeira vez as concepções básicas de sua abordagem em um mesmo volume editado originalmente naquele ano em alemão pelo próprio Apel, sob o título Sprachpragmatik und Philosophie. Nessa obra Habermas deu à sua abordagem o título de ‘pragmática universal’ (universalpragmatik), mantendo-se próximo às ciências sociais e à linguística, ao passo que Apel intitulou a sua abordagem de “pragmática transcendental” (transzendentalpragmatik), como uma tentativa de continuar um projeto de transformação da filosofia transcendental que ele havia enunciado pela primeira vez em 1973. A relevância dessa diferença entre as duas concepções reside no fato de que, apesar de ambos os teóricos compartilharem desde sempre o projeto comum de transformar a filosofia kantiana da consciência (ou do “sujeito transcendental”) na direção de uma filosofia da linguagem e da intersubjetividade, Habermas não apenas se distancia da metafísica em geral (do mesmo modo que Apel), como também se afasta da filosofia transcendental (a qual não distingue da metafísica).” (p.203)
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