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O Campo E O Método Da Antropologia

Por:   •  16/10/2023  •  Resenha  •  7.206 Palavras (29 Páginas)  •  52 Visualizações

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Tema 1

O campo e o método da antropologia

1.1 A Antropologia e a compreensão do mundo contemporâneo

Ponto 1:

O que é a antropologia, para que serve, e qual o seu contexto nas ciências sociais

“Quem se arrisca a definir a atividade antropológica acaba sempre por definir os limites da sua definição, que serve apenas para orientar estudantes em iniciação. Uma das vantagens da antropologia, como afirmou Geertz (1985:623), é a de que ninguém, incluindo aqueles que a praticam, sabe exatamente o que é. E, portanto ela pode ser um conjunto de atividades de investigação suficientemente variado para acomodar interesses e fauna académica variados.” Batalha (2005:20)

Antropologia numa perspetiva geral: debruça-se na compreensão do próprio termo, dado que envolve uma multiplicidade de interesses e de práticas, que se integram entre si como temas de estudo.

Antropologia num sentido mais específico: é vista como ciência que faz parte do ramo das Ciências Sociais, que se dedica ao estudo aprofundado do homem, da humanidade, das sociedades e suas culturas. Uma disciplina que se integra na reflexão do ser humano como um “todo”, na diversidade cultural, nos costumes e valores, e complementa-se com as diversas disciplinas que procuram refletir sobre todas as dimensões humanas e sociais.

Além disso, o estudo do homem relaciona-se com o campo das ciências humanas: Sociologia, Política, Economia, entre outras, onde sobressai a objetividade e a lógica do homem integrada no campo da Filosofia, da Lógica, da Metafísica e da Hermenêutica (arte de interpretar os livros sagrados e os textos antigos) num contexto mais subjetivo e sensitivo. Convergentes entre si, todas elas se complementam num mesmo objeto de estudo.

Na reflexão sobre as sociedades, o homem e o seu comportamento social, a Antropologia, inicialmente, direciona-se no campo da Filosofia, cuja caraterística mais proeminente é “Olhar o Outro” como um possível ser igual a si mesmo. Este modo de pensar, a capacidade de se colocar no lugar do Outro (empatia), como um ser único e inigualável, e procurar ver para além de si mesmo, de modo ultrapassar a nossa própria ignorância, conhecendo-nos mais profundamente. Identificá-lo, como um “todo”, reconhecer, compreender, valorizar a cultura, os valores, os costumes do Outro, pelo aceitar sem juízos de valor, pois, somos todos iguais e tão diferentes, todos diferentes e tão iguais.

Sem esta abordagem, perder-se-ia todo o pensamento antropológico, e a sua existência não teria sentido, no entanto, é um ideal difícil de ser alcançado, dada a sua impermanência, mudança e constante construção, o que leva o pesquisador, a vivenciar um princípio difícil de ser realizado em pleno.

Ponto 2:

Entender as diferentes aceções do termo

Origem etimológica da palavra:

Antropologia deriva de um termo de origem grega: “anthropos” (homem, ser humano) e “logos” (estudo, conhecimento), e por inerência a “razão” (lógica), que significa, literalmente, “estudo da humanidade”.

Porém, a antropologia, na época antiga, não era exatamente o que é na atualidade. Para os gregos e romanos, a “antropologia” era uma “ciência dedutiva”, isto é, discutiam-se teorias baseadas em deduções abstratas sobre a natureza dos seres humanos e o significado da existência humana. O método, através de princípios universais, partia do conhecimento geral para chegar a uma conclusão individual do objeto em estudo.

Até ao séc. XVIII, o saber antropológico centrava-se na contribuição dos cronistas, viajantes, soldados, missionários e comerciantes que discutiam, sobre os povos que conheciam nas suas viagens, relatavam não só verbal, mas também por escrito, o meio e maneira como viviam, cultivavam seus hábitos, normas, características, os seus rituais, a sua linguagem. Só no século XVIII, a Antropologia adquire a categoria de ciência, tendo como objeto a análise e classificação das "raças humanas".

Mais tarde, no século XIX, durante o Iluminismo, a Antropologia organiza-se como disciplina científica e institucionaliza-se como ciência. No entanto, divide o objeto de estudo em povos “primitivos”, distantes do Ocidente, e “civilização”, um conceito que tende a superiorizar uma civilização e cultura em detrimento de outra, que inferioriza, com a finalidade de os dominar.

Com o surgimento da teoria da evolução (baseada na luta de todos os seres vivos pela sobrevivência, motivada pelas constantes transformações de que foram alvo ao longo do tempo), a Antropologia sentiu a necessidade de enquadrar o Homem num plano biológico.

Desta forma, desenvolvem-se duas perspetivas que definem o seu objeto de estudo e se complementam na análise desse mesmo objeto:

  • A Biológica – virada para a objetividade, trata da questão básica da natureza, da sua condição privilegiada como espécie biológica na escala da evolução, localizada na ordem dos primatas, como Homo Sapiens.

  • A Filosófica – direcionada para a subjetividade, trata o homem como Ser cultural, Ser social com o seu modo de ser e de se posicionar no mundo, muito além das condicionantes da sua natureza biológica. O homem é um ser social por excelência e não consegue viver sem a convivência e interação com outras pessoas, com capacidade de apreender conhecimentos, de os transmitir de geração em geração, dando a conhecer factos da sociedade a que pertence.

“Como diz Rappaport (1994:154), duas tradições se definiram desde que a antropologia se definiu como disciplina académica: uma objetiva nas suas aspirações e inspirada nas ciências biológicas, e que procura causas e leis; a outra, inspirada na linguística, filosofia e humanidades, mais subjetivista e interpretativa, procurando apenas elucidar possíveis significados.” - Batalha (2005:19).

Após a II Grande Guerra Mundial, com a independência da maior parte dos países colonizados e a perda do seu espaço de trabalho, a “antropologia” voltou-se para as sociedades de origem, direcionando o seu estudo para a diversidade étnica e social das mesmas, inicialmente, em contexto rural, e mais tarde, em contexto urbano, englobando também as culturas e subculturas que lhes são inerentes.  

“Foi a conceção evolucionista progressivista que unificou o estudo da “humanidade” sobre uma mesma disciplina chamada antropologia. O desacreditar dessa conceção ao longo do século XX contribui para a fragmentação da antropologia, sobretudo nas academias europeias. Hoje existe maior afinidade departamental e académica, entre, por exemplo, a antropologia social, a história e os estudos culturais do que entre aquela e a antropologia física, ou mesmo cultural.” - Batalha (2005, 15-16)

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