O DESENCANTAMENTO DO MUNDO
Por: Gabriela Pedroso • 4/5/2018 • Resenha • 1.334 Palavras (6 Páginas) • 323 Visualizações
PIERUCCI, F. O desencantamento do mundo: todos os passos do conceito em Max Weber. São Paulo: Ed. 34, 2003, p. 135-149.
Gabriela Pedroso dos Santos
(00193883)
10.
Passos 5 e 6: Consideração Intermediária
BREVE NOTÍCIA DA OBRA
Pierucci (2003) organiza uma reflexão acerca das diferentes traduções do título Zwischenbetrachtung, obra de Max Weber, e as possíveis implicações semânticas disso, diretamente vinculadas à compreensão conceitual-teórica do autor.
No inglês: Zwischenbetrachtung > Intermediate Reflexions (no plural).
No espanhol: Zwischenbetrachtung > Excurso = tradução medíocre, perde o sentido do prefixo alemão zwischen, correspondente na língua inglesa (between), mas ausente nas línguas latinas.
Título adotado no Brasil: Consideração Intermediária > propositalmente colocado por Weber entre o ensaio sobre as religiões da China e os da Índia.
Versão francesa do título: Archieves de Sciences Sociales des Religions > tradução melhor aplicada que a castelhana (p.135).
Versão final em alemão (1920), Weber acrescentou ao título a palavra “Theorie” > título definitivo = Zwischenbetrachtung: Theorie der Stufen und Richtungen religiöser Weltablehnug.
Literalmente em português: “Consideração intermediária: teoria dos estágios e direções da rejeição religiosa do mundo” (p.136).
A inclusão da palavra ‘teoria’ no título da última versão do ensaio demonstra uma informação factual bastante considerável, pois indica a crescente importância atribuída ao estudo por Weber, em seus últimos de sua vida.
De acordo com Pierucci (2003), Zwischenbetrachtung não foi produzida de imediato. A obra é fruto de diversas composições e recomposições. Existem três versões sucessivas. Versão definitiva (1920) > volume I dos Ensaios reunidos de Sociologia da Religião = única versão totalmente elaborada por Weber antes de morrer (p.137).
COMENTÁRIO
Consideração Intermediária: Weber desenvolve sua tipologia das esferas de valor > duplo ponto de vista: teoria da diversidade dos processos de racionalização e teorização sobre a cultura como conflito de valores.
Teoria da modernização cultural > autonomização das esferas de valor sob diferentes pontos de vista.
O autor orienta que o tema central da Consideração Intermediária é a racionalização cultural do Ocidente, onde Weber analisa minuciosamente os seguintes aspectos: diferenciação, autonomização e institucionalização das diferentes esferas da vida > condensa-os em termos metafóricos > “politeísmo dos valores”.
Weber: Politeísmo = metáfora para representar a modernidade cultural: na medida em que remete o “mundo encantado” da Antiguidade Clássica ao mundo das “altas culturas” do mundo antigo.
Politeísmo helênico (Weber) > perspectiva histórico-evolutiva > viés da crescente imposição e autoafirmação do monoteísmo judaico-cristão = detonador histórico do desencantamento religioso do mundo.
Desencantamento do mundo pelo monoteísmo ético > atravessa o Ocidente no bojo da milenar dominância cultural à imagem de um mundo metafísico-religioso unificado e sistematizado > fundamento legítimo da ordem social geral (p.138).
Advento da modernidade > ruptura dos laços tradicionais (planos cultural e de personalidade) = Weber identifica um desvio no processo de racionalização ocidental: possibilidade de racionalizar cada esfera de valor da vida social independente das fundamentações axiológicas religiosas > encontra em si sua própria lógica interna = legalidade própria > institucionalização autônoma > consolidação e reprodução social (p. 138).
Para Weber o mundo encantando assemelha-se ao caos indiferenciado, ao império do monismo mágico que submerge deuses, espíritos, seres humanos > há sempre um ser “divino”. Contudo, o autor orienta que diz respeito também com o mundo diferenciado e hierarquizado dos deuses funcionais dos panteões politeístas.
Mundo encantado > hierarquização intra-olímpica: figuras principais x secundárias, até os semideuses.
Hoje = mundo que monoteísmo triunfante no Ocidente desencantou > “unificou” e “despovoou” a imagem de mundo religiosa = destitui deuses do panteão > moralizou radicalmente a religiosidade na base do pecado e da internalização do senso de culpa > estado de tensão “permanente” e “insolúvel”. Permanente “estado de guerra” = égide do “politeísmo dos valores” (p.139).
Mundo duplamente desencantando: religião e ciência moderna = guerra politeísta > valores em luta “deste mundo”.
Pierucci (2003) explica que os “valores deste mundo”, referente ao desencantamento do mundo religioso e à modernidade científica, são tão exigentes quanto os deuses antigos costumavam ser. Isso impõe uma lógica interna de falta de lógica unitária, própria do politeísmo.
Weber: mundo moderno radicalmente desencantado = “desdivinizado” pela profecia monoteísta = sem deus e sem profeta > melhores valores mundanos apresentam-se como como deuses sempre já-guerreiros: hostis entre si / leais apenas a si / obedientes à sua “legalidade própria” (p. 140).
É nesse sentido que o conceito weberiano de “desencantamento” associado à ciência moderna, refere-se “perda de sentido”.
Weber: Consideração intermediária: o mais radical dos conflitos axiológicos = luta entre ética religiosa da fraternidade e a esfera do conhecimento racional-intelectual (p.141).
Pierucci (2003) atenta para o testemunho de Weber sobre a Consideração intermediária estar escrita já em 1913: período inaugura o uso do termo desencantamento > “dar conta também dos efeitos corrosivos da ciência experimental moderna sobre as pretensões de validade objetiva das visões de mundo (...) dotado de um sentido objetivo (...)”. À luz desta consideração, o autor revela aproximação junto a sua tese: dois significados do mesmo significante são coexistentes, concomitante e não sucessivos (p.142).
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