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O FENÔMENO RELIGIOSO E AS QUESTÕES DE GÊNERO

Por:   •  23/9/2018  •  Pesquisas Acadêmicas  •  1.950 Palavras (8 Páginas)  •  218 Visualizações

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UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Professora: Silvia Fernandes

Aluna: Yasmin de Oliveira Falcão

Trabalho final para a obtenção de nota referente a disciplina Sociologia da Religião.

O FENÔMENO RELIGIOSO E A QUESTÕES DE GÊNERO

O presente estudo tratará dos vínculos entre o fenômeno religioso, sobretudo as grandes religiões ocidentais cristãs, sob a ótica do feminismo contemporâneo.

A hipótese surgiu com base nas pesquisas realizadas pelo DATAFOLHA no ano de 2007 que evidenciam a perda de fiéis do sexo feminino nas religiões cristãs. O estudo será trabalhado a partir desses dados com o objetivo de compreender sociologicamente a relação da mulher com esse fenômeno religioso e construir uma crítica no que se refere a influência coercitiva da religião na vida da mulher.

Tratará, também, de uma investigação os motivos da busca das mulheres pelas religiões cristãs, isto que tais religiões as oferece um lugar subalterno na sociedade.

Para realizar essas análises, será tomado como referencial teórico o capítulo 3 do livro "Modernidade, pluralismo e crise de sentido", onde Peter Berger aborda questões sobre o indivíduo moderno e sua identidade pessoal inserido em uma sociedade, trabalhando e relacionando os conceitos de crise de sentido e pluralismo com o tema abordado nesse estudo.

"O peregrino e o convertido", mais precisamente o capítulo intitulado "A religião fragmentada" de Daniele Hervieu-Léger, também servirá de base no que se refere à sua análise das sociedades modernas e seu processo de secularização, bem como a construção de valores sociais através da religião.

O livro "Uma Igreja sem voz: análise de gênero da violência doméstica entre mulheres evangélicas" da Mestre em Ciências da Religião, Valéria Vilhena, também foi utilizado brevemente para discutir alguns pontos.

Maria das Dores Campos Machado em seu artigo "Representações e relações de gênero" também ofereceu uma contribuição para a presente pesquisa.

Para iniciar esse estudo, partiremos do princípio de que existe um sistema de classificação das relações sociais na sociedade que é a separação entre homem e mulher. Além disso, é hierárquico também. Os dois gêneros têm criações, oportunidades e permissões diferentes como um todo, em todas as esferas da nossa sociedade, pois estrutura as relações sociais. As religiões, por sua vez, não escapam desse sistema, sendo afetadas diretamente pela opressão de gênero.

Nesse campo da religião e do gênero feminino, existem diversos conflitos, onde o maior deles são as limitações. Para exercer funções religiosas, para ter autonomia sobre suas ações e seu corpo, para os seus direitos... E não para por aí. Há nesse sentido, então, uma questão importante a ser tratada: poder-religão-gênero. 

A questão gênero esteve quase ausente nos estudos religiosos até pouco tempo atrás. Esse cenário foi revertido apenas depois dos anos de 1960 com a "segunda onda" do feminismo, que propõe uma transformação radical em todos os meios da vida social no que diz respeitos às relações de gênero. É, enquanto movimento social, um mecanismo de resistência à submissão das mulheres, atuando nesse sentido, no campo religioso.

Dados estatísticos em geral costumam afirmar o senso comum de que o percentual de mulheres adeptas a religião é maior do que o dos homens. A partir dessa visão, o fundamentalismo religioso se esconde. Por excelência, as religiões são um campo de investimento masculino. Os homens ao longo da história dominam a regra do que é o "sagrado" nas sociedades, onde as práticas e os discursos religiosos sofrem a marca dessa dominação.

A ausência da mulher nesses espaços definidores de crenças e organizações das instituições religiosas ainda é um fato. A presença da população feminina nas religiões se restringe até os dias atuais ao campo da prática religiosa.

Os discursos religiosos definem a natureza humana como uma determinação divina imutável e indiscutível, tendo em sua prática institucional e histórica uma delimitação do papel masculino e feminino, discurso esse que se torna um dogma e forma, a partir disso, valores sociais. As linhas de pensamento feministas, no entanto, são antagônicas a isso. Todavia, o lugar das mulheres nesse discurso ainda não é livre de equívocos.

Porém, mesmo diante de grupos fundamentalistas, a presença feminina ainda é forte e compõe a maioria da população de fiéis da igreja cristã. Como compreender esse apelo que o meio religioso provoca nas mulheres mesmo diante de uma sujeição?

Porém, até chegar a atualidade, muitas coisas transformaram, principalmente no que diz respeito a perpetuação dos valores sociais ditados pela Igreja.

HERVIEU-LÉGER (1999), pontua uma nova perspectiva das sociedades modernas que através da racionalização faz com que não haja a predominância da religião na construção de valores sociais. Ou seja, através do processo de secularização das sociedades, que seria como colocar o Estado e a Igreja em esferas distintas, havendo assim um apagamento da cultura religiosa, um enfraquecimento do poder dessas instituições na vida social.

Surge, segundo Hervieu-Léger, uma emergência de novas formações de devoção. Abre-se, assim, um espaço e uma liberdade individual para que novas construções religiosas se formem, construindo sua fé sem base alguma em qualquer instituição religiosa. Os indivíduos, então, afirmam uma espiritualidade ou crença através de uma "bricolagem", conceito utilizado pela própria autora para descrever tal fenômeno. Cabe deixar claro, porém, que a crença não desaparece, apenas se diversifica, causando uma desregulação das vivências e práticas sociais, que se tornam cada vez mais livres.

Já BERGER (2004), dialoga e concorda com a autora acima no que se refere as sociedades secularizadas. Ele pontua que a Igreja ao passo que perde seu poder normativo, tem como consequência a liberdade religiosa que, por sua vez, gera uma oferta por demandas individuais de religião.

O autor descreve a sociedade moderna, por meio de uma construção histórica comparando-a com as sociedades arcaicas e pré-modernas, buscando desenvolver uma espécie de orientação para os indivíduos que se encontram presos a uma crise de sentido que são consequências que resultam do pluralismo.

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