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O Pensamento Canábico

Por:   •  19/9/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.966 Palavras (8 Páginas)  •  153 Visualizações

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   UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
Departamento de Ciências Sociais

Antropologia Contemporânea II

Prof.: Lorena Avellar de Muniagurria

 O PENSAMENTO CANÁBICO

maconha: um signo em risco

Otávio Macacari

        

São Carlos, SP.

2017

Maconha, erva, marijuana, dirijo, ganja, banza, verde, buxa, hemp; os significantes para essa planta são diversos, porém o que eles carregam além do significado? O nome científico é Cannabis, esse gênero pertence ao grupo das angiospermas e apresenta três variedades: Cannabis sativa, Cannabis indica e Cannabis ruderalis. Ela apresenta diversos compostos químicos, porém os que recebem maior destaque são o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD), principais responsáveis por afetar os seres humanos.

        As primeiras evidências do uso da Cannabis datam de três milênios de anos a.C em um antigo cemitério no que hoje é a Romênia, nessa época ela também era utilizada por diversos povos da região central e setentrional da Ásia, seu local de origem. Atualmente, a ONU (Organização das Nações Unidas) estima que 162 milhões de pessoas a utilizem pelo menos uma vez no ano e 22,5 milhões a utilizem diariamente.  Esses dados fazem com que ela seja a droga ilícita mais utilizada em todo o globo, ultrapassando narcóticos como a cocaína, o ecstasy e o LSD.

        Ao pensarmos em efeitos instantâneos da maconha podemos fazer uma divisão entre aqueles considerados físicos e os psíquicos.  Os primeiros são marcados pela presença de olhos vermelhos, boca seca e aumentos dos batimentos cardíacos. Já aqueles que atingem a mente do usuário são o bem-estar, relaxamento, fome, ataques de riso, angústia e medo, os dois últimos são conhecidos como pertencentes às bad trips.

        Esses efeitos comumente são atingidos através da inalação da fumaça. A forma mais notada de consumo da erva é através do ato de fuma-la em um cigarro, mais conhecido como baseado. Porém ela também pode ser consumida através de cachimbos, vaporizadores ou ao comer alimentos feitos à base da mesma.

Os princípios ativos dessa erva podem ser encontrados de diversas formas, a mais comum é na flor, a qual carrega a maior parte do THC e CBD da planta. Dessa flor irão surgir derivados como o haxixe, que é uma resina da maconha, extratos de óleo ou kief, que é como um pó feito através dos tricomas da mesma. Atualmente, os psicoativos da planta podem ser encontrados de diversas outras maneiras como em bebidas e comidas, devido ao que nesse trabalho vamos chamar de “ascensão da maconha”.

Essa ascensão tem como palco principal o fato que essa erva caiu na boca do povo, inclusive daqueles que a não utilizam. No início do século XX um movimento de proibição do uso da cannabis surgiu nos Estados Unidos e se espalhou pelo mundo rapidamente. Contudo, essa política proibicionista tem sido repensada em diversos locais do globo nas últimas décadas. Em 2001 Portugal descriminalizou o uso da planta e o Canadá legalizou seu uso medicinal, nos últimos anos diversos estados americanos seguiram esses exemplos. Alguns como Colorado, Califórnia e Washington tonaram legais o plantio, consumo, venda e compra da maconha para maiores de 21 anos, tal política de legalização se iniciou no Uruguai no ano de 2013. Nos estados onde a planta é legalizada sua venda se dá em coffe shops, locais que se assemelham à um café tradicional, mas ao invés de se aterem ao ramo alimentício se preocupam com a venda da planta.

Porém o que faz com que a maconha seja a rainha das ervas em nossa sociedade? Se nos aproximarmos da visão materialista de Karl Marx podemos afirmar que o local da cannabis se dá devido ao papel que ela exerce entre nós. Para o pensamento marxista o consumidor busca a utilidade do objeto e o produtor visa o lucro: se pensamos em donos de coffe shops e traficantes ficam claros seus interesses lucrativos, exemplo disso é a presença de redes, legais e ilegais, que distribuem maconha por diversos cantos do mundo; no caso dos usuários podemos pensar na busca por diversão, ou tratamentos providos da planta. Essa visão é pautada em um pensar estruturalista, onde as ações dos indivíduos inseridos no sistema capitalista são guiadas por uma razão prática que visa à maximização material. Mas o próprio exemplo contradiz essa noção: ao pensarmos o uso da maconha como forma de diversão notamos uma finalidade, já no caso do uso medicinal o que se busca é totalmente diferente; nessa contra argumentação ainda poderíamos enquadrar o uso da planta por grupos como os rastafáris que buscam através da erva o contato com o divino.

Para Marshall Sahlins (2007, p. 182), “a razão prática é uma explicação indeterminada da forma cultural; para ser mais do que isso, teria de presumir aquilo que tem a pretensão de explicar – a forma cultural”. Ou seja, a noção de que uso da maconha é feito pela simples busca de alguma finalidade não basta, é necessário compreender os enigmas por trás do ato de fumar um baseado.

Aqui, vale a pena reformular a clássica frase lévi-straussiana e afirmar que a maconha não é escolhida por ser “boa para fumar” mas por ser “boa para pensar” a sociedade em que vivemos. Por que para alguns ela representa a salvação enquanto para outros é sinônimo de morte? Por que certos usuários optam por utilizar a cannabis em grupo enquanto outros preferem consumi-la apenas para ter uma boa noite de sono? Por que alguns usuários consomem a maconha através de um cigarro enquanto outros a consomem através de alimentos? Para chegarmos a essas respostas é necessário resignificar o uso da planta e compreender o inconsciente da cultura canábica.

Em seu livro “A Cultura do Novo Capitalismo”, Richard Sennet (2006) afirma que não reduzimos nosso querer a sua utilidade, ou seja, o ser humano não adquiri algo simplesmente pelo que pode fazer com mesmo. Por trás de nossas ações existem questões simbólicas, estas irão gerar diversas consequências que podem não estar totalmente relacionadas com a finalidade em si. Exemplo disso é a compra de um celular de última geração que pouco difere de seu antecessor: se pensarmos simplesmente nas inovações adquiridas, que costumam ser poucas, não há sentido na aquisição deste; porém, o aparelho telefônico mais moderno carrega consigo uma questão de status, que futuramente vai contribuir para enquadrar o comprador em um grupo especifico.

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