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O mundo socio-tecnologico

Por:   •  21/4/2015  •  Resenha  •  1.552 Palavras (7 Páginas)  •  916 Visualizações

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O mundo sócio – tecnológico e o sujeito contemporâneo

        A modernidade, os avanços da tecnologia e do uso da técnica iniciados no final do século XX com a revolução industrial, trouxe impactos de relevante importância sobre a sociedade atual, provocando mudanças nos cenários políticos, sociais e culturais. A sociedade contemporânea, ou “sociedade líquido-moderna” como a define o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, está impregnada com todos os impasses frutos dessa modernização desenfreada, sendo marcada por uma vida líquida de consumo, na qual a volatilidade nas relações e a constante mudança estão presentes e são preceitos orientadores dessa forma de vida.

        Nessa sociedade o paradoxo da individualidade aparece como um impasse. O termo indivíduo foi cunhado para designar indivisibilidade, sendo alegado que se a sociedade se dividisse ela não passaria de um único homem, mas a atual interpretação de indivíduo prega o contrário, ela se refere à individualidade como o simples ato de diferir dos outros. Com essa nova compreensão de indivíduo, o mercado de consumo abre suas portas pronto para oferecer “coquetéis de individualidade”, o que a acaba fazendo cair numa intensa contradição e eterna aporia, já que até as coisas mais subjetivas só tem valor quando convertidas a moeda comum.  

        Com a modernidade líquida e a ideia de indivíduo autoconstruído, as relações interpessoais e a proximidade do face a face são afastadas do pensamento social. É nesse domínio do face a face que a individualidade se reafirma nas interações, sendo responsável por sua direção e consequência, e segundo Bauman é com a livre escolha que essa responsabilidade se reafirma. Mas para muitos ela é uma farsa, pois mesmo o direito e o dever da livre escolha sendo premissas da individualidade isso não garante que todos tenham acesso a ela. São esses excluídos que formam o lixo e a escória da sociedade moderna.

        Essa nova compreensão da individualidade aliada com o desenvolvimento tecnológico dos últimos séculos resultam em uma luta para permanecer ou alcançar os postos mais altos da hierarquia social. Nessa luta o consumo surge como resposta aos desafios impostos pela individualidade, tomando pra si a posição de objeto central, pois é ele que determina se você está dentro ou fora do lixo humano dessa sociedade. A luta pela singularidade torna-se o motor do consumo em massa, e os meios de comunicação tomam destaque nesse novo cenário, eles são os responsáveis por reafirmar que a individualidade está à venda em lojas e ditar o que é novo ou ultrapassado.

Graças às inovações tecnológicas, tornou-se mais fácil e rápido o acesso e compartilhamento de informações, as trocas de experiências e o acesso a culturas distintas, mas em contrapartida a estimulação de novos desejos e a ampliação do consumo tornou-se mais intensa, em síntese a luta pela permanência ficou mais acirrada e selvagem. Os contornos dessa luta pela singularidade tomam pra si características excludentes, pois grande parte da população mundial é obrigada a viver em condições de subsistência, decorrente das características concentradoras e excludentes do sistema capitalista. Dessa forma a individualidade é e continuará sendo um privilégio.

Aqui consumidores e objetos de consumo são indistintos e diferenciados em dois polos, nos quais todos os membros da sociedade de consumo movem-se de um polo a outro. Como assinala Bauman;

Na vida líquida, a distinção entre consumidores e objetos de consumo é frequentemente momentânea e efêmera – e sempre condicional. Podemos dizer que a regra aqui é a reversão de papeis, embora mesmo que essa afirmação distorça a realidade da vida líquida, na qual os dois papeis se interligam, se misturam e se fundem. (2005, pag. 18)

        Nessas relações de efemeridade e volatilidade até a educação, tida como o principal meio de modificação social, torna-se mercadoria. Ao ingressar no ensino superior ou técnico, o aluno já pensa no mercado de trabalho e sua inserção para a sociedade de consumo. Aos olhos do Estado, as escolas surgem como um meio de alcançar uma elevada posição na economia global, e para isso não medem esforços em desenvolver e mecanizar as áreas técnicas das universidades em detrimento dos cursos “humanistas”, que já não são tão importantes em sua visão.

        Ao mesmo passo que a educação começa a ser comercializada, a cultura entra nessa dinâmica. Os meios de comunicação capazes de trafegar informações numa velocidade quase instantânea tornam-se os grandes responsáveis pela incontrolável hibridização cultural. Os híbridos culturais tomam para si as características orientadoras da vida líquida, e assim a cultura começa a se transformar em algo volátil e passageiro, e cabe ao mercado de consumo dizer qual a cultura da moda.

        Para Hanna Arendt, “um objeto é cultural a medida em que sobreviva a qualquer uso que possa ter orientado sua criação” (ARENDT aput. BAUMAN, 2005, pag. 76), e complementa dizendo que retirar-se da política e do domínio público se transformará na “atitude básica do indivíduo moderno, que, em sua alienação em relação ao mundo, só pode realmente revelar-se na privacidade e na intimidade dos encontros face a face” (ARENDT aput. BAUMAN, 2005, pag. 78). Com isso surge a pergunta se a cultura conseguirá sobreviver ao mercado de consumo, e a resposta é incerta.

        Nessa dimensão da cultura atual, dominada pelo mercado de consumo, os produtos culturais são criados aos montes para que venham a dar certo, mas de nada adianta esses produtos mostrarem sua qualidades quando perdessem o seu valor. Em relação a isso Bauman sinaliza que;

A cultura líquido-moderna não se percebe mais como uma cultura do aprendizado e do acúmulo, como as outras registradas nos relatos de historiadores e etnógrafos. Parece, em vez disso, uma cultura do desengajamento, da descontinuidade e do esquecimento. (2005, pag. 83).

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