Opinião Sobre as Manifestações de 13 de Março

Era uma vez um país que construía cidadania sem cidadãos

Historicamente, nós, o povo brasileiro não participamos – ou participamos menos do que deveríamos – das transformações mais importantes do nosso país. A intensa mistura racial e cultural, uma das nossas principais características, possibilita um tempero especial na nossa gente, mas ao mesmo tempo nos divide e nos rouba a identidade e sentimento de pertencimento, desde a chegada de Santa Maria, Pinta e Niña.

Embora tímida, a participação popular na história do Brasil, vem se fortalecendo. Podemos destacar alguns momentos emblemáticos resultantes dessa organização: A conquista da Anistia, nos anos 70, em favor dos cidadãos que resistiram contra a ditadura militar; As Diretas Já, nos anos 80, que almejavam a realização de eleições diretas para presidente do país; A luta pela convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, também nos anos 80 e O Movimento Caras Pintadas, nos anos 90, que protestava contra o governo do então presidente Collor.

Nos dias atuais, ocorreram duas grandes manifestações: em junho de 2013, também conhecida como Jornadas de Junho ou Manifestação dos 20 centavos que inicialmente surgiram para contestar os aumentos nas tarifas de transporte público e, a ocorrida em 13 de março de 2016 que se configura como a maior manifestação da história do país, presente em mais de 200 cidades nas 5 regiões, pedindo a saída da petista Dilma Rousseff, da presidência da República. Os protestos ricochetearam também no ex-presidente Lula, alvo das investigações da Operação Lava Jato.

Nesta última segunda-feira, dia 11 de abril de 2016, a Comissão Especial do Impeachment realizou a votação que emite um parecer recomendando o afastamento de Dilma, a próxima fase deve ocorrer no domingo, dia 17, na Câmara dos Deputados. Ontem mesmo, 12 de abril, Boris Casoy, apresentador do Jornal da Noite, veiculado pela TV Bandeirantes, deixou sua opinião: “Independente do resultado da votação na Câmara, o governo Dilma Rousseff chega ao seu fim!”.

As manifestações de 13 de março reoxigenam a crença no povo brasileiro e evidenciam o surgimento de uma nação mais envolvida com a própria realidade, com o próprio futuro, abandonando o jeito “deixa a vida me levar”. Cada vez mais, política torna-se tema de bate-papos informais e desconstrói o jargão “futebol, política e religião não se discutem”. Como não se discute? Se é justamente esse silêncio que nos acorrenta! Se é justamente essa ignorância que nos amedronta! Conversemos sim, discutamos sim, sobre política, futebol e religião. Mesmo que briguemos, amanhã poderemos fazer as pazes e talvez o seu pensamento pode gerar frutos na minha mente.