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PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM EM UMA MÉDIA EMPRESA DESDE O PONTO DE VISTA DA TEORIA CRÍTICA: UM ESTUDO TEÓRICO-EMPÍRICO.

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Por:   •  27/3/2014  •  9.347 Palavras (38 Páginas)  •  1.194 Visualizações

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PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM EM UMA MÉDIA EMPRESA DESDE O PONTO DE VISTA DA TEORIA CRÍTICA: UM ESTUDO TEÓRICO-EMPÍRICO.

Luciana Holanda Nepomuceno

Luiz Alcione Albandes Moreira

Parece que de repente/ sabes que te falta uma mão / os dois olhos / a língua/ ou a esperança.

É possível, Pedro / João ou Tiago/ Que perdesses algo / tão necessário/ Sem que percebesses?

Pablo Neruda

RESUMO

Este estudo discute o processo ensino-aprendizagem em uma média empresa no Nordeste brasileiro, nos tempos de capitalismo flexível, tal como narrado pelos sujeitos que o vivenciam. Orientando-se, epistemológica e metodologicamente pela Teoria Crítica (cf. HELD, 2001); realizou-se uma pesquisa qualitativa, utilizando como técnica de coleta de dados a entrevista com questão-estímulo. As categorias críticas emancipação e dialética nortearam a coleta e a análise dos dados. Os discursos foram tomados como uma totalidade e as metáforas e analogias utilizadas pelos sujeitos foram consideradas, neste trabalho, sob duas perspectivas: (1) via compreensão do território da empresa como um espaço sócio-político; (2) via uma perspectiva psicanalítica onde se desvela a relação fraterna entre os trabalhadores da organização. Há uma naturalização das relações sociais no âmbito organizacional - legitimando a situação de divisão radical do trabalho e as relações de poder presentes na organização - viabilizada pelos sujeitos via metaforização da empresa como família.

Abstract

Introdução

Este estudo sintetiza a compreensão de como se dá a dialética do processo ensino-aprendizagem em uma média empresa no Nordeste brasileiro, em uma economia de mercado, nos tempos de capitalismo flexível. Partindo do pressuposto de que o homem se educa e se humaniza na produção e nas relações de produção, via um processo contraditório entre educação e des-educação, qualificação e desqualificação, humanização e desumanização (MARX, 1980), empreendeu-se uma pesquisa crítica, orientada pelas categorias dialética e emancipação (Cf. ADORNO, 1995; ASSOUN, 1987; FARIA, 2004a; HELD, 2001a; HORKHEIMER, 1980; MARCUSE, 1973). O material empírico que suporta as considerações deste trabalho provém das narrativas que os trabalhadores entrevistados fazem de sua práxis, já que é no trabalho e, destaque-se, para um dado trabalho que é educado o trabalhador (KUENZER, 2002). A relevância de explorar este tema apresenta-se na sua discussão sob um prisma radicalmente diferente do presente na literatura prevalente na Teoria Organizacional e Administrativa (TOA) e na compreensão de que, cotidianamente, um projeto pedagógico despercebido é forjado, de forma silenciosa e pouco explícita, em cada unidade produtiva e nas relações de produção.

Após esta introdução, seguem-se considerações acerca da organização como lugar de aprendizagem e a discussão sobre os novos discursos sobre aprendizagem organizacional (AO) na TOA. A seguir, apresenta-se o percurso metodológico da pesquisa. Em seguida, uma reflexão crítica é empreendida a partir das narrativas dos entrevistados, articuladas teórica e empiricamente. Finalmente, a quinta parte apresenta uma síntese possível e provisória oferecida ao leitor como um convite à interlocução.

2. A Organização é Lugar de Aprendizagem.

A organização é um fato político que se justifica e se viabiliza não apenas pela e para a produção, mas como um lugar de aprendizagem, na medida em que domicilia, através de um ato político, o ato pedagógico, um fenômeno de socialização do trabalhador (ALBANDES-MOREIRA, 1993). Assim, a organização é um lócus pedagógico, e um lócus de aprendizagem (LENNERLÖF, 1989; SCHURMAN, 1989). Ressalte-se que “toda ação pedagógica é objetivamente uma violência simbólica enquanto imposição, por um poder arbitrário, de um arbitrário cultural” (BOURDIEU; PASSERON, 1992, p.13). O processo ensino-aprendizagem, enquanto movimento dialético de criação, reprodução e socialização de conhecimento sempre ocorreu nas organizações capitalistas, destacando-se que o que se ensina e aprende nas organizações capitalistas transcende a aprendizagem de um fazer, caracterizando-se como um processo de socialização de crenças, valores e comportamentos que possibilitam a expropriação do saber do trabalhador e a integração das dimensões humanas à racionalidade da organização. Entretanto, a TOA prevalente apenas recentemente se deteve neste tópico com ênfase (FOX; GREY, 2000; STEIL, 2002). Ao fazê-lo, a TOA parece construir um conceito de AO que se caracteriza (1) como modismo; (2) como composto conceitual; (3) como multiforme.

2.1. Modismo. Estudado desde a segunda metade do século XX (cf. STEIL, 2002), apenas na década de 90 o tema aprendizagem nas empresas tem ocupado considerável espaço1. Alega-se mudanças no ambiente que exigem criar ambientes de trabalho mais favoráveis à promoção do ser humano e à constituição de processos de aprendizagem contínuos como medidas vitais para a sobrevivência das organizações. Autores contestadores apontam que esta supervalorização dos processos de aprendizagem nas organizações deriva da busca de novas formas de controle do comportamento humano nas empresas (ALBANDES-MOREIRA, 1993; BULGACOV, 2000; SCHURMAN, 1989; WOLFF, 2000).

A AO emerge na TOA prevalente atual como uma resposta às demandas de competitividade (DRUCKER, 1993; PORTER, 1990; SVEIBY, 1998). É possível identificar superposições e entrelaçamentos entre AO e outros conceitos organizacionais como qualidade, mudança, competências gerenciais e inovação, sempre focados na prescrição e normatização de procedimentos a fim de melhorar desempenho e produtividade organizacional. Este mesmo discurso, porém, parece sugerir uma valorização crescente do humano na empresa (KRUGLIANSKAS e TERRA, 2003; SENGE, 1990) o que caracteriza, para Bulgacov (2000, p.1), “a passagem de uma forma de controle ostensivo autoritário do comportamento humano para um controle positivo, cognitivo e menos legível”. Segundo Marcuse (1972), a racionalidade presente na pretensa valorização da subjetividade do indivíduo, alicerçada em critérios como produtividade, padronização e adaptação das ações, comporta, conseqüentemente, um padrão de normalidade: o sujeito aceito como saudável é aquele que extrapola seus limites físicos e mentais em direção ao melhor

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