Povo Indigena E Sua Concepcao Sobre A Morte
Trabalho Universitário: Povo Indigena E Sua Concepcao Sobre A Morte. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: hellencassiano • 21/4/2014 • 2.262 Palavras (10 Páginas) • 10.708 Visualizações
TRABALHO SOBRE INDIGENAS
As crenças religiosas dos índios possuíam papel ativo na vida da tribo. Praticavam-se diversos rituais mágico-sagrados, relacionados ao plantio, à caça, à guerra, ao casamento, ao luto e à antropofagia.
Antropofagia e vida após a morte
Basicamente, os tupi-guaranis acreditavam em duas entidades supremas - Monan e Maíra - identificados com a origem do universo. Ao lado das divindades criadoras, figurava também uma entidade - Tupã - associada à destruição do mundo, que os índios consideravam inevitável no futuro, além de ter ocorrido em passado remoto. Acreditavam também na vida após a morte, quando o espírito do morto iniciava uma viagem para o Guajupiá, um paraíso onde se encontraria com seus ancestrais e viveria eternamente. A prática da antropofagia talvez estivesse especialmente ligada a essa viagem sobrenatural, sendo uma espécie de ritual preparatório para ela, segundo alguns estudiosos.
Para outros, o ritual antropofágico servia para reverenciar os espíritos dos antepassados e vingar os membros da aldeia mortos em combate. Não se descarta a hipótese de que tivesse também um significado alimentar, em época de escassez de recursos. De qualquer modo, após as batalhas contra tribos inimigas, o ritual antropofágico tinha caráter apoteótico, mobilizando todos os membros da aldeia numa sucessão de danças e encenações que terminavam com a matança de prisioneiros e o devoramento de seus corpos.
Na organização política de uma aldeia, destacava-se a figura do chefe, o morubixaba, mas este só exercia efetivamente o poder em tempos de guerra. Ainda assim não podia impor a sua vontade, devendo convencer um conselho da aldeia, por meio de discursos. A guerra era uma atividade epidêmica. Acontecia por razões materiais, como conquistar terras privilegiadas; morais e sentimentais, como a vingança da morte de parentes ou amigos por grupos adversários; ou ainda religiosas, vinculadas à antropofagia.
Gravura de Thodore de Bry, mostrando pernis, costelas e paletas humanas sendo preparados no moqum,
a churrasqueira indgena
A morte é encarada, na maioria das sociedades, como uma passagem desse mundo para um outro. Diversos grupos indígenas realizam elaborados ritos funerários, que além de cultuar o espírito do morto, servem como celebração da identidade do povo.
Os índios do Alto Xingu realizam, uma vez por ano, uma grande festa a que chamam Kuarup. Na festa, os índios relembram a lenda do primeiro herói que caminhou pela terra, Mavutsinin, que reviveu os mortos a partir de troncos de árvores. No Kuarup, além de chorar os mortos, os índios reúnem várias aldeias e realizam uma grande festa onde ocorrem disputas esportivas.
Para os índios Bororo, dos cerrados do Mato Grosso, os ritos funerários são os mais importantes de sua cultura. Os funerais duram meses, e durante esse tempo são realizados outros ritos de passagem, como a puberdade dos meninos. Os Bororo consideram que o mundo torna-se incompleto com a morte de uma pessoa e precisa ser "recriado" quando isso ocorre. É isso que acontece em seus funerais.
Os índios Kaingang, do sul do Brasil, também realizam uma complexa homenagem aos mortos recentes, que ocorre anualmente entre abril e junho: a festa do Kikikoi. São três noites - não seguidas - de festa. Após as homenagens aos mortos, os índios dançam por toda a noite, embalados por Kiki, uma bebida fermentada feita com água, mel e açúcar.
Um dos mais complexos ritos funerários, que hoje deixou de ser realizado, é o que era feito pelos índios Wari (também chamados Pakaa-Novas), de Rondônia. Eles comiam os próprios mortos. Além disso queimavam os cabelos e órgãos internos do morto, e mudavam o aspecto da casa onde ele vivia e dos lugares onde costumava ir. A explicação que davam para isso, é que o espírito sentia saudades desse mundo, e portanto os vivos tratavam de cortar todas as lembranças que pudessem fazer com que o espírito desejasse voltar à terra, inclusive seu próprio corpo. Logo após o contato com os não-índios, na década de 60, os Wari abandonaram esse costume e hoje em dia enterram seus mortos. Mas os índios mais velhos consideram o enterro como uma falta de respeito
Para que se entenda mais de medicina indígena, é preciso mergulhar um pouco em seus mitos e rituais, uma vez que toda a sua cultura influencia sua saúde e a forma como lidam com seus corpos. No ritual de morte, por exemplo, os índios colocam o corpo pendurados em árvores.
Após algum tempo, quando o corpo já se decompôs, eles recolhem os ossos e cremam. Em rituais familiares os parentes misturam um pouco das cinzas ao mingau de banana e tomam. O restante é enterrado no mesmo lugar onde fizeram o fogo. Estes são outros indicativos das crenças mágicas dos indígenas.
Pode parecer paradoxal, mas é exatamente por meio do funeral que a sociedade Bororo reafirma a vitalidade de sua cultura. Este é um momento especial na socialização dos jovens, não só porque é nessa época que muitos deles são formalmente iniciados, mas também porque é por meio de sua participação nos cantos, danças, caçadas e pescarias coletivas, realizados nessa ocasião, que eles têm a oportunidade de aprender e perceber a riqueza de sua cultura. Mas porque fazer de um momento de perda, como a morte de uma pessoa, um momento de reafirmação cultural e, até mesmo de recriação da vida?
Para os Bororo, a morte é o resultado da ação do bope, uma entidade sobrenatural envolvida em todos os processos de criação e transformação, como o nascimento, a puberdade, a morte. Quando uma pessoa morre, sua alma, que os Bororo denominamaroe, passa a habitar o corpo de certos animais, como a onça pintada, a onça parda, a jaguatirica. O corpo do morto é envolto em esteiras e enterrado em cova rasa, aberta no pátio central da aldeia circular. Diariamente, esta cova é regada, para acelerar a decomposição do corpo, cujos ossos deverão, ao final deste processo, ser ornamentados. Entre a morte de um indivíduo e a ornamentação de seus ossos, que serão depois definitivamente enterrados, passam-se de dois a três meses. Um tempo longo, em que os grandes rituais são realizados. Um homem será escolhido para representar o morto. Todo ornamentado, seu corpo é inteiramente recoberto de penugens e pinturas, tendo em sua cabeça um enorme cocar de penas e a face coberta por uma viseira de penas amarelas. No pátio da aldeia já não é um homem que dança e sim o aroemaiwu, literalmente, a alma nova que, com suas evoluções, se apresenta ao mundo dos
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