Programa de Subsídios Familiares: lições da experiência alemã
Resenha: Programa de Subsídios Familiares: lições da experiência alemã. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: brasfoo • 20/11/2014 • Resenha • 2.458 Palavras (10 Páginas) • 272 Visualizações
REVISTA ESPAÇO ACADÊMICO, nº 98, Julho de 2009, Ano IX, ISSN 1519-6186
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O Programa Bolsa Família: lições da experiência alemã
Clóvis Roberto Zimmermann* & Marina da Cruz Silva**
É possível constatar através de análise mais
acurada sobre as informações veiculadas, tanto na
mídia como na literatura científica, acerca das
políticas sociais no Brasil, em especial em relação
ao Programa Bolsa Família, que há muitos
equívocos, preconceitos e/ou informações
enviesadas em torno da referida temática. Nesse
sentido, para grande parte do senso comum, das
elites e da mídia brasileira, o Bolsa Família é
considerado responsável pelo “assombramento” do país, haja vista que causaria
acomodação e falta de independência financeira.
As análises supracitadas são no mínimo preconceituosas para com a população
beneficiária do Bolsa Família, isto é, para com as pessoas vivendo na extrema pobreza
e/ou pobreza. Ademais, não possuem uma fundamentação teórica com base em
experiências tradicionais sobre o impacto das políticas sociais no que tange à melhoria
das condições de vida de determinada população. Tal forma de concepção, além de ser
parca, sobretudo em torno da situação no cenário internacional, sugere que um
programa do tipo do Bolsa Família seria apenas necessário em países com grandes
contingentes de refugiados, atingidos por catástrofes climáticas ou por graves
epidemias. A citação a seguir serve de ilustrativo no que tange ao preconceito e/ou
problemas por parte de algumas análises:
Um programa como o “Bolsa Família” seria necessário para países que sofrem com
guerras, grandes contingentes de refugiados, catástrofes climáticas ou epidemias.
Mesmo nesses casos tal programa deveria ser temporário e focado na obtenção da
independência financeira dos beneficiados. Nada disso vem ocorrendo de fato. Nem o
Brasil foi castigado por “tsunamis” ou furacões e nem os assistidos conseguem sair da
humilhante situação de quem recebe uma esmola (SOUZA, 2007, p.1).
A percepção acima releva uma carência de fundamentação teórica e empírica acerca do
mundo real, uma vez que tal afirmativa não se baseou em nenhum estudo aprofundado,
além de não se pautar em nenhum conhecimento das diversas experiências
internacionais de programas transferência de renda, que surgiram nos países
desenvolvidos no século XX, no momento em que Estado de Bem-Estar Social ganha
concretude e consolidação. Bastaria estudar os países nórdicos da Europa, pioneiros na
introdução de programas de transferência de renda. O Bolsa Família, portanto, não
difere em sua concepção principal dos referidos programas adotados há mais de seis
décadas pelo Reino Unido em 1948, seguido pela Finlândia em 1956 e Suécia em 1957.
* Doutor em Sociologia pela Universidade de Heidelberg na Alemanha, professor de Ciências Políticas da
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e Relator Nacional para o Direito à Alimentação e
Terra Rural.
** Doutoranda em Psicogerontologia pela Universidade de Erlangen-Nürnberg na Alemanha, assistente
social e professora do curso de serviço social da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
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Os países baixos, por sua vez, introduziram esse tipo de proteção social na década de
1960, precisamente em 1963 e a Bélgica em 1974. Na Alemanha, uma lei federal de
auxílio social (Sozialhilfe) foi introduzida em 1961. No caso França, houve uma certa
polêmica em torno da introdução ou não de programas de transferência de renda,
contexto foi marcado por um intenso debate, culminando com a instituição tardia da
RMI (revenu minimum d’insertion) no ano de 1988. Saliente-se que na atual conjuntura,
em nenhum desses países, discute-se de forma veemente sobre a possibilidade de
término e/ou extinção de tais programas. Ao contrário, os mesmos são tidos como
fundamentais no que concerne à proteção social dos indivíduos fragilizados e/ou
expostos aos mais diversos riscos sociais. Todavia, no Brasil, informações deturpadas,
taxativas e simplistas acerca dos programas de transferência de renda são bastante
comuns, ainda que se reconheça a importância de tais medidas em relação ao combate à
fome.
Ademais, o tempo de concessão do Bolsa Família, isto é, o período de permanência das
famílias beneficiárias no programa é motivo de controversos debates, especialmente
porque visões simplistas e taxativas tomam mais uma vez o lugar de análises mais
sólidas e consistentes.
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