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Por:   •  26/11/2013  •  6.003 Palavras (25 Páginas)  •  817 Visualizações

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METODOLOGIA E TRABALHO CIENTÍFICO

(Ou tentando escapar dos horrores metodológicos)

“Acho que só há um caminho para a ciência — ou para a filosofia: encontrar um problema, ver a sua beleza e apaixonarmo-nos por ele; casarmo-nos com ele até que a morte nos separe — a não ser que encontremos outro problema ainda mais fascinante...” Karl Popper.

Ciência é uma forma peculiar de produzir conhecimento objetivo. Objetividade, ainda nesse senso comum, contrapõe-se à subjetividade. Um conhecimento objetivo seria aquele que independe das posições (ou das opiniões) de um sujeito qualquer. Tal forma de conhecimento, ainda nessa imagem comum, falaria da realidade, e não das opiniões desse ou daquele indivíduo, desse ou daquele grupo social. O conhecimento científico, nessa visão, se imporia a todos. É nesse sentido que ouvimos frequentemente frases como “a ciência demonstra isso”, ou “cientistas verificaram que...”.

Com efeito, a imagem da ciência ainda predominante no senso comum é a de uma prática capaz de revelar aspectos ocultos da realidade, inacessíveis aos mortais, a não ser através da prática científica. Caberia ao método científico a virtude de desvelar a realidade, de descobrir suas regularidades e leis. Ou seja, adotar o método científico seria a melhor forma de se chegar à verdade, de descobrir, para além das meras opiniões, o que de fato acontece na realidade.

Essa imagem é bem antiga. Ela foi construída juntamente com o nascimento da chamada ciência moderna, e é exemplificada pela física newtoniana.

Mas ela dá voz a uma antiga aspiração da civilização ocidental2: a de construir uma forma de conhecimento universal, cuja validade ultrapassasse as diversas culturas humanas. Um conhecimento que nos levasse para além da nossa paróquia (aliás, o termo paroquial hoje tem um sentido pejorativo, que desdenha daqueles que se apegam aos valores específicos de seu grupo social). A imagem serviu para animar o sonho de progresso moderno e de legitimar a prática da ciência. Mas, por outro lado, ela contribui para certa mistificação da ciência.

Os impactos dessa mistificação emergem com nitidez quando nos deparamos com a tarefa de redigir um trabalho dito científico. Muitos de nós, diante da tarefa, trememos. Afinal, aplicar as metodologias científicas parece algo muito especial, quase inalcançável. E pior, quando nos debruçamos sobre a tarefa, encontramos algo muito distinto da metodologia tão idealizada: aonde esperávamos encontrar um terreno sólido, encontramos algo que mais parece areia movediça. Parece que os bois estão atrás dos carros. Ficamos inseguros e temerosos. Vivemos a síndrome do horror metodológico.

Seria razoável viver intensamente essa síndrome se a imagem de ciência que predomina no senso comum caracterizasse bem o modo como de fato transcorre a prática da produção do conhecimento científico.

Não é tão simples sustentar essa posição à luz do debate da filosofia, da história e da sociologia das ciências. Sigamos um pouco, ainda que rapidamente, as críticas a essa imagem comum da ciência.

O que caracterizaria a ciência não seria a existência de um método que assegurasse a descoberta de certos aspectos da realidade. O que caracterizaria a ciência seria a dinâmica resumida na seguinte frase: ousadia nas formulações e rigor nas críticas.

Lições sobre o Método Científico:

1. Não há um método para descobrir uma teoria científica;

2. Não há um método para averiguar a verdade de uma hipótese científica, ou seja, não há um método de verificação;

3. Não há um método de determinar se uma hipótese é “provável”, ou provavelmente verdadeira (Popper, 1987, p. 40).

A elaboração de um trabalho científico pode ser vista como uma construção de argumentos feita com a intenção de convencer certo grupo de pessoas, certo auditório específico, a saber, a comunidade de cientistas à qual pertencemos. Toda vez que desejamos convencer alguém através de nossos argumentos, convém tomar como ponto de partida alguns pressupostos que não são controversos, ou seja, que partilhamos com o auditório a que nos dirigimos.

Uma comunidade de cientistas (e existem muitas comunidades científicas, cada qual com seu paradigma) partilha num certo momento de um conjunto de pressupostos que são considerados como verdadeiros, que não são objeto de controvérsia no interior dessa comunidade. São conceitos, teorias, instrumentos, técnicas de pesquisa que, por serem partilhados, constituem um conjunto de elementos que serão tomados como base para analisar os trabalhos acadêmicos apresentados a essa comunidade. Em outros termos, a produção do conhecimento científico tem um caráter fiduciário, ou seja, sempre partimos de um conjunto de conhecimentos que não colocaremos em dúvidas, tomando-os como se fossem verdades.

Analisando muitos outros exemplos tomados da física e da química, Bachelard romperá com essa idéia, afirmando de modo categórico que o conhecimento científico se ergue contra o senso comum, contra aquele tipo de experiência inicial espontânea, contra a primeira impressão que temos dos fatos e dos dados. Nas suas palavras:

Na formação de um espírito científico, o primeiro obstáculo é a experiência inicial, é a experiência situada antes e acima da crítica, que é necessariamente um elemento integrante do espírito científico. Dado que a crítica não operou explicitamente, a experiência inicial não pode, em caso algum, constituir um apoio seguro. Daremos inúmeras provas da fragilidade dos conhecimentos iniciais, mas opomo-nos desde já nitidamente a esta filosofia fácil que se baseia num sensualismo mais ou menos sincero, mais ou menos romanceado, e que pretende receber diretamente as suas lições de um dado claro, nítido, seguro, constante, sempre oferecido a um espírito sempre aberto. (BACHELARD, 1984, p. 170).

Tampouco a nossa opinião serve como ponto de partida seguro. Bachelard chamará nossa atenção de que:

É preciso, antes de tudo, saber formular problemas. E, diga-se o que se disser, na vida científicos problemas não se formulam a si próprios. É precisamente o sentido do problema que dá a marca do verdadeiro espírito científico. Para um espírito científico, todo o conhecimento é uma resposta a uma questão. Se não houver questão, não pode haver conhecimento científico. Nada é natural. Nada é dado. Tudo é construído. (BACHELARD, 1984, p.166)

Em

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