RESENHA DO LIVRO : A SOCIOLOGIA DO CORPO
Por: Virgínia Silva • 22/5/2018 • Artigo • 1.719 Palavras (7 Páginas) • 1.593 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ECONOMIA DOMÉSTICA
RESENHA DO LIVRO: A SOCIOLOGIA DO CORPO
Virginia Arlinda da Silva Cardoso: ES 44697
VIÇOSA, 2016
Le Breton, D. A sociologia do Corpo. 2. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2007. 101 p.
David Le Breton nasceu em Le Mans, França. Tem formação em sociologia, antropologia e psicologia. É professor de sociologia da Universidade Mark Block de Estrasburgo, França, e membro do laboratório de Cultures et Sociétés em Europe. Desde a década de 80 se dedica à sociologia e antropologia do corpo, passando sua produção científica também pela dor, a paixão pelos riscos e aventuras, as identidades e as marcas corporais, o silêncio, o uso de remédios e outros temas.
Le Breton define a sociologia do corpo como um capítulo da sociologia destinado a compreensão da corporalidade humana enquanto fenômeno social e corporal, bem como motivo simbólico. O livro a Sociologia do Corpo dedica-se às lógicas sociais e culturais que envolvem a extensão e os movimentos do homem.
O capítulo I dedica-se às etapas históricas da reflexão da corporalidade humana, nos primórdios das ciências sociais no século XIX, destacando três etapas: a sociologia implícita, a sociologia em pontilhado e a sociologia do corpo. A primeira é a sociologia implícita ao corpo, ignorando-o e mostrando a miséria física e moral da classe trabalhadora na Revolução Industrial, nela a corporalidade humana é vista através de ângulos de análise mutuamente contraditórios na qual se destaca as incidências sociais sobre o corpo, o homem como produto do corpo, o posicionamento dos sociólogos e a psicanálise; todas trazendo contribuições acerca do entendimento do corpo em suas diferentes dimensões.
A segunda etapa, denominada “uma sociologia em pontilhado” destaca as contribuições sociológicas e etnológicas onde o homem é entendido enquanto um ser socialmente construído a partir das qualidades do corpo em interação com os outros e na imersão no campo simbólico. Concentra-se na supremacia sociológica do corpo, à qual mereceram destaque os estudos de Hertz e Mauss e outros autores que desenvolveram pesquisas e inventários etnológicos sobre os usos sociais do corpo.
A terceira etapa, designada pelo autor de sociologia detalhista, aproxima-se mais diretamente sobre o corpo, estabelecendo lógicas sociais e culturais que nele se propagam.
O capítulo II indaga acerca das ambiguidades dos discursos sociológicos sobre o corpo, perguntando-se: de que corpo se está falando? O autor fala que o corpo não é um fetiche, omitindo o homem, sendo imprescindível referir-se ao autor que o porta. O corpo é percebido como uma falsa evidência, uma vez que não é um dado inequívoco, mas o efeito de uma elaboração social e cultural. A visão moderna do corpo nas sociedades ocidentais repousa sobre uma concepção particular de pessoa. Um conjunto de estudos etnográficos demonstra as representações do corpo e da pessoa, inseridas na visão de mundo, a fisiologia simbólica da mulher e suas relações com o contexto, as concepções modernas do corpo separadas do cosmos, as concepções anatômicas e fisiológicas do pensamento ocidental.
O corpo enquanto imaginário social evidencia que o homem e o corpo são indissociáveis e, nas representações coletivas, os componentes da carne são misturados ao cosmo, à natureza. Em sociedades tradicionais e comunitárias o corpo é o elemento de ligação da energia coletiva e, através dele, cada homem é incluído no seio do seu grupo. Em sociedades individualistas o corpo interrompe o elemento que marca os limites da pessoa, lá onde começa e acaba a presença do indivíduo. Assim percebe-se que o argumento central do capítulo reforça a imersão da corporalidade no imaginário, nas representações e condutas que viriam segundo as diferentes sociedades.
O capítulo três aborda a tarefa de definir o corpo que nos interessa, dos pontos de vista sociológico e antropológico. Distancia-se da ideia de ser ele atributo da pessoa, um pertencimento da identidade em recusa à ideologia individualista. O autor abraça a ideia da realidade construída do corpo, com múltiplas significações culturalmente operantes e associadas aos atores, vistos como corporalidade. O corpo inexiste em estado natural, ele se insere na trama de sentidos, inclusive naquelas manifestações mais físicas, como na dor e na enfermidade, expressas nas percepções sensoriais e corporais dos atores. A análise sociológica se distingue das intervenções corporais terapêuticas que buscam reinserir o homem em sua comunidade. Para Le Breton, a sociologia aplicada ao corpo distancia-se das asserções médicas que desconhecem as dimensões pessoal, social e cultural de suas percepções sobre o corpo.
No capítulo IV Le Breton apresenta algumas orientações de pesquisas relacionadas à corporalidade partindo de textos fundadores da matéria e alargando progressivamente para um balanço dos trabalhos já realizados. Ao detalhar as investigações sociais e culturais do corpo, o autor parte dos estudos de Marcel Mauss sobre as técnicas corporais e as expressões dos sentimentos, das emoções e da dor. Trata-se da modalidade de ação, de sequências de gestos, de sincronias musculares que se sucedem na busca de uma finalidade precisa. Mauss observa que a tecnicidade não é monopólio único da relação do homem com a ferramenta, modelado conforme os hábitos culturais, ele produz eficácias práticas. O autor propõe uma classificação das técnicas do corpo segundo diferentes perspectivas: conforme o sexo, a idade e o rendimento. As técnicas do corpo e os estilos de sua produção não são os mesmos de uma classe social para outra. As técnicas do corpo são inúmeras e desaparecem frequentemente com as condições sociais e culturais que as viram nascer. A memória de uma comunidade humana não reside somente nas tradições orais e escritas, ela se constrói também na esfera dos gestos eficazes.
Le Breton acrescenta contemporâneos que estudaram assuntos relativos ao corpo como a gestualidade, referindo-se às ações do corpo quando os atores se encontram. Em contraposição às teses genéticas ou raciais, demonstra que a gestualidade humana é um fato de sociedade e de cultura e não da natureza congênita ou biológica. Os movimentos da palavra e do gesto estão mesclados num sistema e não podem ser estudados isoladamente. A etiqueta corporal é outro assunto trazido onde as interações implicam em código, em sistemas de espera e de reciprocidade aos quais os atores se sujeitam. Não importam quais sejam as circunstâncias da vida social, uma etiqueta corporal é usada e adotada espontaneamente. Um desconforto emerge a cada ruptura das convenções. Pode-se chamar a atenção para as dificuldades relacionadas com as pessoas que possuem deficiência mental.
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