RITOS CORPORAIS ENTRE OS NACIREMA
Por: joaosts • 24/5/2015 • Artigo • 3.140 Palavras (13 Páginas) • 561 Visualizações
RITOS CORPORAIS ENTRE OS NACIREMA
Horace Miner
In: A.K. Rooney e P.L. de Vore (orgs )
YOU AND THE OTHERS - Readings in Int roductor y Anthropology
(Cambr idge, Er l i ch)
1976
O ant ropólogo es tá tão fami l iar i zado com a di ver s idade das
formas de compor tamento que di ferentes povos apresentam em
s i tuações semelhantes, que é incapaz de surpreender - se mesmo
em face dos costumes mai s exót i cos. De fato, se nem todas as
as combinações logicamente poss íveis de compor tamento foram
ainda des cober tas, o ant ropólogo bem pode conjeturar que elas
devam exi st i r em alguma t r ibo ainda não desc r i ta.
Des te ponto de vi sta, as c renças e prát icas mágicas dos
Nac i rema apresentam aspectos tão inus i tados que parece
apropr iado des c revê- los como exemplo dos ext remos a que pode
chegar o compor tamento humano. Foi o Profes sor Linton, em
1936, o pr imei ro a chamar a atenção dos ant ropólogos para os
r i tuais dos Nac i rema, mas a cul tura desse povo permanece
insuf i c ientemente compreendida ainda hoje.
Trata-se de um grupo nor te-amer icano que vi ve no ter r i tór io
ent re os Cree do Canadá, os Yaqui e os Tarahumare do México,
e os Car ib e Arawak das Ant i lhas. Pouco se sabe sobre sua
or igem, embora a t radi ção relate que vieram do les te. Conforme
a mi tologia dos Nac i rema, um herói cul tural , Notgnihsaw, deu
or igem à sua nação; ele é, por out ro lado, conhec ido por duas
façanhas de força: ter at i rado um colar de conchas , usado pelos
Nac i rema como dinhei ro, at ravés do r io Po- To- Mac e ter
der rubado uma cerejei ra na qual residi r ia o Espí r i to da Verdade.
A cul tura Nac i rema caracter i za- se por uma economia de mercado
al tamente desenvol vida, que evolui em um r ico habi tat . Apesar
do povo dedicar mui to do seu tempo às at i vidades econômi cas ,
uma grande par te dos f rutos deste t rabalho e uma considerável
por ção do dia são dispensados em at i vidades r i tuai s. O foco
destas at i vidades é o corpo humano, cuja aparênc ia e saúde
surgem como o interesse dominante no ethos deste povo.
Embora tal t ipo de interesse não seja, por cer to, raro, seus
aspec tos cer imoniai s e a f i losof ia a eles associadas são
s ingulares.
A c rença fundamental subjacente a todo o s i stema parece ser a
de que o corpo humano é repugnante e que sua tendência
natural é para a debi l idade e a doença. Encarcerado em tal
corpo, a única esperança do homem é des viar estas
caracter íst i cas at ravés do uso das poderosas inf luênc ias do
r i tual e do cer imonial . Cada moradia tem um ou mais santuár ios
devotados a es te propós i to. Os indi víduos mais poderosos des ta
soc iedade têm mui tos santuár ios em suas casas e, de fato, a
alusão à opulênc ia de uma casa, mui to f reqüentemente, é fei ta
em termos do número de tais cent ros r i tuai s que pos sua. Mui tas
casas são cons t ruções de madei ra, toscamente pintadas, mas as
câmeras de cul to das mais r icas têm paredes de pedra. As
famí l ias mais pobres imi tam as r icas, apl icando placas de
cerâmi ca às paredes de seu santuár io.
Embora cada famí l ia tenha pelo menos um de tai s santuár ios , os
r i tuais a eles as sociados não são cer imônias fami l iares, mas sim
cer imônias pr i vadas e secretas. Os r i tos, normalmente, são
dis cut idos apenas com as cr ianças e, neste caso, somente
durante o per íodo em que estão sendo inic iadas em seus
mistér ios. Eu pude, contudo, es tabelecer contato suf i ciente com
os nat i vos para examinar es tes santuár ios e obter des cr i ções
dos r i tuais .
O ponto focal do santuár io é uma cai xa ou cof re embut ido na
parede. Nes te cof re são guardados os inúmeros encantamentos
e poções mágicas sem os quai s nenhum nat i vo ac redi ta que
poder ia vi ver . Tai s preparados são conseguidos at ravés de uma
ser ie de prof i ss ionais espec ial i zados, os mais poderosos dos
quai s são os médi cos - fei t icei ros , cujo auxi l io deve ser
recompensado com dádi vas subs tanciais . Contudo, os médicos -
fei t i cei ros não fornecem a seus c l ientes as poções de cura;
somente dec idem quai s devem ser seus ingredientes e então os
esc revem em sua l inguagem ant iga e secreta. Esta es cr i ta é
entendida apenas pelos médi cos - fei t i cei ros e pelos er vatár ios ,
os quais , em t roca de out ra dadi va, providenc iam o
encantamento necessár io. Os Nac i rema não se desfazem do
encantamento após seu uso, mas os colocam na cai xa-deencantamento
do santuár io domést i co. Como tais substânc ias
mágicas são especi f i cas para cer tas doenças e as doenças do
povo, reai s ou imaginár ias , são mui tas, a caixa-deencantamentos
es tá geralmente a ponto de t ransbordar . Os
pacotes mágicos são tão numerosos que as pessoas esquecem
quai s são suas f inal idades e temem usá- los de novo. Embora os
nat i vos sejam mui to vagos quanto a este aspec to, só podemos
conc lui r que aqui lo que os leva a conser var todas as velhas
subs tânc ias é a idéia de que sua presença na cai xa-deencantamentos
, em f rente à qual são efetuados os r i tos
corporai s, i rá, de alguma forma, proteger o adorador .
Abai xo da cai xa-de-encantamentos exi ste uma pequena pia
bat i smal . Todos os dias cada membro da famí l ia, um após o
out ro, ent ra no santuár io, inc l ina sua f ronte ante a caixa-deencantamentos
, mistura di ferentes t ipos de águas sagradas na
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