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RITOS CORPORAIS ENTRE OS NACIREMA

Por:   •  24/5/2015  •  Artigo  •  3.140 Palavras (13 Páginas)  •  545 Visualizações

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RITOS CORPORAIS ENTRE OS NACIREMA

Horace Miner

In: A.K. Rooney e P.L. de Vore (orgs )

YOU AND THE OTHERS - Readings in Int roductor y Anthropology

(Cambr idge, Er l i ch)

1976

O ant ropólogo es tá tão fami l iar i zado com a di ver s idade das

formas de compor tamento que di ferentes povos apresentam em

s i tuações semelhantes, que é incapaz de surpreender - se mesmo

em face dos costumes mai s exót i cos. De fato, se nem todas as

as combinações logicamente poss íveis de compor tamento foram

ainda des cober tas, o ant ropólogo bem pode conjeturar que elas

devam exi st i r em alguma t r ibo ainda não desc r i ta.

Des te ponto de vi sta, as c renças e prát icas mágicas dos

Nac i rema apresentam aspectos tão inus i tados que parece

apropr iado des c revê- los como exemplo dos ext remos a que pode

chegar o compor tamento humano. Foi o Profes sor Linton, em

1936, o pr imei ro a chamar a atenção dos ant ropólogos para os

r i tuais dos Nac i rema, mas a cul tura desse povo permanece

insuf i c ientemente compreendida ainda hoje.

Trata-se de um grupo nor te-amer icano que vi ve no ter r i tór io

ent re os Cree do Canadá, os Yaqui e os Tarahumare do México,

e os Car ib e Arawak das Ant i lhas. Pouco se sabe sobre sua

or igem, embora a t radi ção relate que vieram do les te. Conforme

a mi tologia dos Nac i rema, um herói cul tural , Notgnihsaw, deu

or igem à sua nação; ele é, por out ro lado, conhec ido por duas

façanhas de força: ter at i rado um colar de conchas , usado pelos

Nac i rema como dinhei ro, at ravés do r io Po- To- Mac e ter

der rubado uma cerejei ra na qual residi r ia o Espí r i to da Verdade.

A cul tura Nac i rema caracter i za- se por uma economia de mercado

al tamente desenvol vida, que evolui em um r ico habi tat . Apesar

do povo dedicar mui to do seu tempo às at i vidades econômi cas ,

uma grande par te dos f rutos deste t rabalho e uma considerável

por ção do dia são dispensados em at i vidades r i tuai s. O foco

destas at i vidades é o corpo humano, cuja aparênc ia e saúde

surgem como o interesse dominante no ethos deste povo.

Embora tal t ipo de interesse não seja, por cer to, raro, seus

aspec tos cer imoniai s e a f i losof ia a eles associadas são

s ingulares.

A c rença fundamental subjacente a todo o s i stema parece ser a

de que o corpo humano é repugnante e que sua tendência

natural é para a debi l idade e a doença. Encarcerado em tal

corpo, a única esperança do homem é des viar estas

caracter íst i cas at ravés do uso das poderosas inf luênc ias do

r i tual e do cer imonial . Cada moradia tem um ou mais santuár ios

devotados a es te propós i to. Os indi víduos mais poderosos des ta

soc iedade têm mui tos santuár ios em suas casas e, de fato, a

alusão à opulênc ia de uma casa, mui to f reqüentemente, é fei ta

em termos do número de tais cent ros r i tuai s que pos sua. Mui tas

casas são cons t ruções de madei ra, toscamente pintadas, mas as

câmeras de cul to das mais r icas têm paredes de pedra. As

famí l ias mais pobres imi tam as r icas, apl icando placas de

cerâmi ca às paredes de seu santuár io.

Embora cada famí l ia tenha pelo menos um de tai s santuár ios , os

r i tuais a eles as sociados não são cer imônias fami l iares, mas sim

cer imônias pr i vadas e secretas. Os r i tos, normalmente, são

dis cut idos apenas com as cr ianças e, neste caso, somente

durante o per íodo em que estão sendo inic iadas em seus

mistér ios. Eu pude, contudo, es tabelecer contato suf i ciente com

os nat i vos para examinar es tes santuár ios e obter des cr i ções

dos r i tuais .

O ponto focal do santuár io é uma cai xa ou cof re embut ido na

parede. Nes te cof re são guardados os inúmeros encantamentos

e poções mágicas sem os quai s nenhum nat i vo ac redi ta que

poder ia vi ver . Tai s preparados são conseguidos at ravés de uma

ser ie de prof i ss ionais espec ial i zados, os mais poderosos dos

quai s são os médi cos - fei t icei ros , cujo auxi l io deve ser

recompensado com dádi vas subs tanciais . Contudo, os médicos -

fei t i cei ros não fornecem a seus c l ientes as poções de cura;

somente dec idem quai s devem ser seus ingredientes e então os

esc revem em sua l inguagem ant iga e secreta. Esta es cr i ta é

entendida apenas pelos médi cos - fei t i cei ros e pelos er vatár ios ,

os quais , em t roca de out ra dadi va, providenc iam o

encantamento necessár io. Os Nac i rema não se desfazem do

encantamento após seu uso, mas os colocam na cai xa-deencantamento

do santuár io domést i co. Como tais substânc ias

mágicas são especi f i cas para cer tas doenças e as doenças do

povo, reai s ou imaginár ias , são mui tas, a caixa-deencantamentos

es tá geralmente a ponto de t ransbordar . Os

pacotes mágicos são tão numerosos que as pessoas esquecem

quai s são suas f inal idades e temem usá- los de novo. Embora os

nat i vos sejam mui to vagos quanto a este aspec to, só podemos

conc lui r que aqui lo que os leva a conser var todas as velhas

subs tânc ias é a idéia de que sua presença na cai xa-deencantamentos

, em f rente à qual são efetuados os r i tos

corporai s, i rá, de alguma forma, proteger o adorador .

Abai xo da cai xa-de-encantamentos exi ste uma pequena pia

bat i smal . Todos os dias cada membro da famí l ia, um após o

out ro, ent ra no santuár io, inc l ina sua f ronte ante a caixa-deencantamentos

, mistura di ferentes t ipos de águas sagradas na

...

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