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Racismo: Fenômeno Histórico E Antropológico

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Por:   •  3/4/2014  •  1.879 Palavras (8 Páginas)  •  1.401 Visualizações

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Racismo: Fenômeno Histórico e antropológico

O texto Uma História de “Diferenças e Desigualdades” As Doutrinas Raciais do Século XIX, referente ao segundo capítulo do livro O Espetáculo das Raças Cientistas, Instituições e Questão Racial no Brasil 1870-1930, de Lília Moritz Schwarcz e o documentário Racismo: Uma História, produzido pela BBC Four, retratam, através de uma retrospectiva histórica, a temática da questão racial. Enquanto o texto realiza um balanço das diferentes teorias raciais do século XIX, o documentário traz de maneira mais abrangente, a história do racismo, abarcando de que maneira é criada a ideia de raça e a que contexto histórico está associado ao seu surgimento.

Lília Moritz, através de um passeio pela história, observa que os teóricos raciais do século XIX referiam-se com frequência aos pensadores do século XVIII. Os antagonistas à ideia de raça referiam-se à literatura iluminista e em especial Rousseau. Já os teóricos a favor do racismo, citavam constantemente os autores De Pauw e Buffon, os quais são tidos como grandes influências quando se tem a intenção de justificar diferenças fundamentais entre os homens. A autora relembra que na experiência de contato com o outro (estranho e diferente), como revelam os relatos na época das grandes navegações, inaugurou um momento específico na história do ocidente, quando a percepção de tal diferença leva a constantes debates e reflexões sobre a mesma.

Para situar as teorias racistas, Lília Moritz Schwarcz, faz uma retrospectiva a respeito das ideias iluministas, em particular Rousseau; e sobre as teorias de Buffon e De Pauw.

Em relação a Rousseau, sua teoria humanista sobre a “perfectibilidade” humana é citada no texto. A perfectibilidade, segundo Rousseau seria a faculdade inerente aos humanos de sempre se superarem e se aperfeiçoarem. Para ele esta seria a marca de uma humanidade una ainda que diversa em seus caminhos, anunciava a origem da desigualdade entre os homens.

A Reflexão sobre a diversidade no século XVIII, a partir da tradição humanista e dos legados da Revolução Francesa e dos ensinamentos da ilustração, torna-se central quando se estabelecem as bases filosóficas para se pensar a humanidade enquanto totalidade. Imaginar a igualdade e a liberdade como naturais levava à determinação da unidade do gênero humano. Com a noção do “bom selvagem”, Rousseau fazia presente esta ideia. Refletindo sobre um progresso às avessas, ele entendia que o “estado de natureza” era o modelo ideal e moralmente superior. Este servia não só para a análise da própria sociedade ocidental como também era um instrumento adequado para se discutir o “estado de civilização”.

As vertentes mais negativas começam a se intensificar, segundo o autor Melo e Souza, a partir da segunda metade do século XVIII quando o selvagem começa a deixar de ser percebido como genuinamente inocente para ser visto como mau.

São vários os pensadores que contribuem com essa visão negativa, mas a autora enfatiza Buffon e De Pauw. Buffon com a sua tese da “infantilidade do continente” passando a estereotipar o continente americano sob o signo da carência. E De Pauw com a teoria da “degeneração americana”, sendo o termo degeneração um desvio patológico. O que se observa é que primeiramente se introduz um senso de hierarquia entre os povos para depois desconfigurar a ideia da unidade de gênero humano.

O termo raça é introduzido na Literatura, por Georgis Cuvier, estabelecendo pela primeira vez a ideia de heranças físicas permanentes entre os vários grupos humanos. Percebe-se a partir de então, como observa o texto, certa reorientação intelectual apoiada na ideia de raça, uma reação à visão iluminista da humanidade unitária.

Outro debate também é retomado no texto: a origem do homem. A esse respeito duas vertentes se opuseram na época e ambas predominaram até meados do século XIX. De um lado, a visão monogenista, a qual julgava que o homem tinha uma origem comum sendo os diferentes tipos humanos um produto “da maior degeneração ou perfeição do Éden” (Quatrefage, 1857 apud Stocking, 1968). Por outro lado, a visão poligenista, a qual defendia a existência de vários centros de criação, o que explicaria as diferenças raciais.

Analisar os comportamentos humanos através da biologia foi um método fortalecido a partir da hipótese poligenista. Duas teorias passaram a interpretar a capacidade humana como resultados biológicos e naturais, encorajadas por esse modo de pensar determinista: a frenologia e a antropometria. Ambas são também citadas no documentário e são descritas como teorias que levando em conta o tamanho e a proporção do cérebro de diferentes povos, buscavam estabelecer diferenças de capacidade essenciais entre os mesmos. Essas duas grandes vertentes de interpretação acerca da origem do homem também opuseram sociedades, como as sociedades antropológicas e as etnológicas.

O Darwinismo tornou-se uma espécie de paradigma de época, a partir da publicação de A Origem das Espécies, por Charles Darwin em 1859. As teorias evolucionistas de Darwin forneciam uma nova relação com a natureza e foram aplicadas a várias disciplinas sociais. Seus reflexos se deram inclusive para a análise do comportamento das sociedades humanas, como ocorreu na Sociologia Evolutiva de Spencer e na História Determinista de Buckle. Na esfera política, o darwinismo significou um suporte teórico para práticas de cunho bastante conservador. Assim como é relatado no documentário, o imperialismo europeu serve como exemplo dessas práticas. Este tomou a noção de seleção natural como justificativa para a domínio ocidental, julgando que o ocidente dominava por ser “mais forte e adaptado”.

O pensamento social da época foi bastante influenciado pelas ideias de Darwin. A mistura de raças se configurou como uma questão fundamental. Poligenistas como Broca, defendia a ideia de infertilidade das populações mestiças. Já teóricos deterministas como Gobineau e Le Bon defendiam que tais populações eram extremamente férteis e que herdavam as características mais negativas das raças em cruzamento. Assim, a miscigenação se revelava, através da maioria dos teóricos da época, como um fenômeno indesejado e que deveria ser evitado. O texto observa que uma só teoria (a darwinista) era base para diferentes entendimentos.

Os chamados darwinistas sociais eram partidários de outro determinismo de cunho racial. Eles viam de forma pessimista a miscigenação, pois acreditavam que não se transmitiria características adquiridas, nem mesmo através de uma evolução social. Assim, as raças constituiriam fenômenos finais e imutáveis. Logo, qualquer cruzamento

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