Relação Com O Saber
Artigos Científicos: Relação Com O Saber. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: glcoach • 30/5/2014 • 3.624 Palavras (15 Páginas) • 248 Visualizações
Relação com o Saber, Formação de Professores e Globalização: questões para a educação hoje
Bernard Charlot
O livro apresenta nove textos do autor, pesquisador francês de ciências da educação que vive no Brasil, já publicados em diversos países. Esses textos foram escolhidos por tratarem de temas que parecem fazer sentido no Brasil, além de tratarem de questões relacionadas ao trabalho cotidiano. A primeira parte do livro principia pelas lógicas dos alunos em suas relações com o saber e a escola; a segunda considera o ponto de vista dos educadores; a terceira tem como tema o saber no mundo globalizado. O autor diz que as repetições dos textos, apesar de, em alguns momentos se tornarem um pouco irritantes, têm como objetivo explorar os múltiplos sentidos de suas idéias.
Introdução – Bernard Charlot: Uma relação com o saber
A Introdução é uma entrevista realizada com o autor por Jaime Giolo e apresenta, além do currículo do autor e alguns de seus livros, questões sobre algumas das idéias centrais de seus estudos. O pesquisador e escritor da educação Bernard Charlot começou a se tornar conhecido no Brasil nos anos de 1980, com um livro intitulado A mistificação Pedagógica e depois de 2000 retornou com os livros Da relação com o saber e Os jovens e o saber. Atualmente ele mora no Brasil, na cidade de Cuiabá - MT.
Apesar de ser formado em filosofia, ele se considera mais sociólogo que filósofo, e se envolveu com o tema da educação a partir da experiência que teve como professor na universidade de Tunis. Na época, apesar de nunca ter ensinado nem possuir formação em pedagogia, começou a ler livros, explicar para os alunos os conceitos e sugerir que eles trouxessem casos práticos de suas escolas, o que o levou a perceber a enorme defasagem existente entre o discurso teórico e a realidade social.
Sobre o tema de seu livro A mistificação pedagógica, livro marxista, ele quer dizer que o discurso pedagógico fala de tudo, menos de uma coisa: que a educação leva a um emprego e a uma divisão social do trabalho. Ao mesmo tempo em que o discurso político diz que “se deve lutar contra o fracasso escolar”, o fracasso escolar é programado para existir.
Depois desse livro, as preocupações intelectuais do autor mudaram de rumo, ao descobrir que a história é feita de contradições, por exemplo, o dono da mercearia da esquina é um empresário diferente do dono da Embratel, ou seja, as diferentes facções do empresariado possuem interesses históricos diferentes, assim como a relação que mantêm com o movimento operário. Com isso, descobriu que a pesquisa não tem como função dizer quem está certo e quem está errado, mas sim analisar as contradições.
As quatro razões que o levaram a uma mudança de rumo em suas pesquisas foram:
- a importância de considerar a questão do sentido: a busca de sentidos na qual o homem está envolvido;
- o contato com a pesquisa histórica e com as contradições, já explicadas acima;
- a prática do autor como formador de professores, ao mesmo tempo em que desenvolvia suas pesquisas;
- a reflexão que fez sobre o ensino de matemática: por que as crianças do meio popular têm mais dificuldade em aprender matemática que as crianças de classe média? Por causa do meio em que vivem, ou seja, da relação que estabelecem com o saber.
Sobre o conceito de mobilização, bastante citado pelo autor, ele o considera mais adequado que a motivação: o problema não é como fazer para motivar os alunos, mas como fazer para que o aluno se mobilize.
Também fala sobre suas pesquisas sobre fracasso escolar, que partem de três questões fundamentais:
- Para uma criança de família popular, qual é o sentido de ir à escola?
- Qual é o sentido de estudar e de não estudar na escola?
- Qual é o sentido de aprender/compreender quer na escola quer fora da escola?
Por trás destas questões está o problema do sentido e do prazer, que aparecem como problemas fundamentais da escola, do ensino e da aprendizagem. Para exemplificar, o autor utiliza três respostas diferentes dadas por alunos à seguinte pergunta: “O que, no conjunto de coisas que você aprendeu na família, na escola, na rua, foi mais importante?” Enquanto uma criança de 10 anos de classe média elabora um texto muito bem escrito, analisando o ensino que recebeu na escola, duas outras crianças, de bairros populares, tentam responder à questão elaborada, e deixam claro uma visão dos estudos como se fosse algo que caísse do céu. Para o autor, a diferença entre as classes sociais e sua relação com os estudos não é um problema de carência, mas de lógica, que é diferente nas famílias e na instituição escolar. Os filhos dos meios populares possuem uma relação com o mundo, com os outros e consigo mesmos que é diferente daquela que possibilita ser bem-sucedido na escola.
Nesse sentido, o autor distingue quatro tipos de alunos quanto ao seu relacionamento com o estudar ou o não estudar na escola: os jovens de classe média, que estudam sempre, inclusive nas férias e nos finais de semana; os jovens do meio popular muito bem-sucedidos na escola, que possuem uma mobilização forte para o estudo; os candidatos à evasão escolar, que estão totalmente perdidos na escola e nunca entenderam do que se trata a escola; e por fim, aqueles que vão à escola para ter um bom emprego mais tarde, mas querem tirar boas notas sem fazer esforço. A escola tem a possibilidade de melhorar a situação, o que não quer dizer que ela pode fazer tudo.
Quanto à globalização e à modernização, o autor tem medo de que estejamos saindo da sociedade do saber quando nos deparamos com a sociedade da informação. A informação só se torna um saber quando traz consigo um sentido, quando estabelece um sentido de relação com o mundo, de relação com os outros e da relação consigo mesmo. Como fenômeno da globalização, o perigo é que o saber está se tornando uma mercadoria.
PARTE I – RELAÇÃO COM O SABER
1 – A problemática da relação com o saber
Para analisar a questão da relação com o saber, o autor vai até a história da filosofia clássica. Desde Sócrates e Platão a questão está presente, com a frase “Conhece-te a ti mesmo” e os debates com os sofistas. Vai buscar a questão do saber nas problemáticas
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