Relações Entre Pesquisa Universitária E Sociedade: Leitura, Produção E Professor Pesquisador1
Artigos Científicos: Relações Entre Pesquisa Universitária E Sociedade: Leitura, Produção E Professor Pesquisador1. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: edui • 15/3/2015 • 5.723 Palavras (23 Páginas) • 352 Visualizações
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Rita Maria Diniz Zozzoli
Linguagem & Ensino, Pelotas, v.13, n.1, p.121-138, jan./jun. 2010
Relações entre pesquisa universitária e sociedade:
leitura, produção e professor pesquisador1
Rita Maria Diniz Zozzoli
Universidade Federal de Alagoas
Resumo: O presente trabalho parte de uma reflexão sobre as relações entre pesquisa
universitária e sociedade para, com o auxílio de dados de pesquisa em sala de aula,
considerar a possibilidade de propor um trabalho com a formação do professor, enquanto
leitor e produtor ativo (Bakhtine/Volochinov, 1977 e Bakhtin, 2003) dos conhecimentos
específicos veiculados nas situações de ensino e de aprendizagem de língua materna, bem
como dos conhecimentos mais amplos relativos a seu papel no contexto social. Para tanto,
verifica-se a necessidade de pesquisas que impliquem um trabalho coletivo no qual a
articulação entre mundo acadêmico e as práticas sociais é indispensável (Bourdieu, 2004).
Palavras-chave: pesquisa-ação; formação do professor; leitura e produção.
INTRODUÇÃO
Diversos fatores encontram-se na origem das dificuldades
em criar atividades de sala de aula que possam efetivamente
contribuir para a formação de um aluno responsivo ativo2. Dentre
eles estão, por exemplo, a formação do professor, as histórias de
vida dos alunos e o quadro institucional limitador. Nas reflexões
que se seguem, procurarei focalizar de forma mais específica a
formação do professor - no que concerne ao trabalho com leitura e
produção de textos em sala de aula de língua materna - e sua
relação com a pesquisa acadêmica, sem entretanto isolar esse tema
da ampla gama de elementos interdependentes que compõem as
situações de ensino e aprendizagem, dificilmente apreensíveis de
forma isolada.
1 Parte deste texto foi apresentada no 16º INPLA (Intercâmbio de Pesquisas em
Linguística Aplicada), em abril/maio de 2007.
2 A noção de atitude responsiva ativa, bem como a de compreensão responsiva
ativa são definidas em Bakhtine/Volochinov, 1977 e em Bakhtin, 2003. Em
“Estética da criação verbal”, tem-se: “Toda compreensão da fala viva, do
enunciado vivo é de natureza ativamente responsiva (embora o grau desse
ativismo seja bastante diverso); toda compreensão é prenhe de resposta, e
nessa ou naquela forma a gera obrigatoriamente: o ouvinte se torna falante.”
(BAKHTIN, 2003, p. 271).
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A discussão sobre essa questão tem origem em análises
sobre produções de alunos de diferentes níveis de escolaridade,
obtidas primeiramente através de procedimentos de observação
etnográfica efetuados em nosso grupo de pesquisa3. Os dados
obtidos revelaram pouca expressividade na autonomia relativa
desses alunos na leitura e na produção de textos orais e escritos
(Zozzoli, 1999, 2002, 2006-a, 2006-b). Por sua vez, professores
demonstram pouco envolvimento com a leitura e quase nenhum
com a escrita e parecem considerar, na maioria das vezes, da
mesma forma que os alunos, essas atividades apenas como tarefas.
Assim, os resultados dessas investigações levam a pretender que
qualquer contribuição para a autonomia relativa dos alunos passa
pela transformação da relação entre professor e leitura/produção,
como também pela mudança de posicionamento dos alunos em
relação às orientações propostas pelo professor acerca de um
trabalho que vise a essa autonomia.
Minha reflexão se inicia a partir de um trecho de gravação
em sala de aula de língua portuguesa para alunos pré-vestibulandos,
extraído dos dados de Albuquerque (2002)4:
P- Agora, eu vou falar a verdade: não pode sair da proposta do tema,
ouviram? Ouviu minha filha? ((vira-se para a aluna S)) Só pode ter
três parágrafos, que é um de introdução, um de desenvolvimento
e um de conclusão, não pode ultrapassar isso; não pode colocar
coisas pessoais.
AS - Como assim professora? Não é pra dizer o que a gente acha do
assunto não?
P- Claro que não minha filha. Numa redação não pode ter achismos
tem que falar sobre a realidade do que acontece.
Muitas pesquisas, tanto em Linguística Aplicada como em
Educação, já chamaram a atenção para o fato de que muitas vezes
o professor tem se limitado a
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