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Resenha - Hibridismo Cultural de Peter Burke

Por:   •  30/4/2018  •  Resenha  •  1.377 Palavras (6 Páginas)  •  1.454 Visualizações

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Hibridismo Cultural (116 páginas), de Peter Burke, publicado (2003) pela Editora Unisinos de São Leopoldo/RS, faz parte da Coleção Aldus, é uma obra composta de seis capítulos. Entre eles, ressaltam-se: Variedades de objetos; Variedades de terminologias; Variedades de situações; Variedades de reações; e Variedades de resultados.

A obra de Peter Burke é iniciada com a abordagem do fenômeno “hibridismo” como sendo algo bom para alguns e condenado para outros. O autor aponta para o uso crescente do “essencialismo” com a finalidade de criticar o oponente, havendo uma “descontrução” das entidades tidas como falsas. Ele sublinha também a tendência global que existe referente à mistura e à hibridização com a criação de grupos de teóricos que abordam essa temática no âmbito econômico, social, político e de miscigenação.

No capítulo Variedades de Objetos, Burke enfatiza sobre três tipos de hibridismo ou processos de hibridização: artefatos híbridos – por meio da arquitetura, mobília, imagens, traduções; práticas híbridas – por meio da religião, música, linguagem, esporte, festividades e alhures que favorecem as formas hibridas como o resultado de encontros múltiplos; e povos híbridos – grupos que se transformam de uma cultura para a outra por razão política, religiosa ou econômica. Neste último tipo, existe o indivíduo híbrido que possui uma vida entre culturas que resulta em uma “consciência dúplice” e que é tido como o mediador cultural.

No capítulo Variedades de Terminologias, o autor destaca que a variedade de objetos híbridos é superada pela quantidade de termos e que existem muitas palavras para descrever o mesmo fenômeno. Todavia, os termos devem ser manuseados com cuidado e considerados como parte da história da cultura. Entre os termos, Burke considera: imitação e apropriação – a interação cultural no Ocidente é discutida pela imitação que quase sempre foi duramente criticada. Porém, há também a ideia de apropriação ou “espoliação”, mas que, consequentemente, é acusada de plágio. Outro termo pode ser o “empréstimo” cultural, também muito criticado, mas que por outro lado é o que de fato acontece na história de todas as culturas. Contudo, o termo mais técnico é aculturação (forjado em 1880) em que a cultura subordinada adora características da cultura dominante. Existem também o termo “transculturação” para dar o sentido de mão-dupla, o termo “transferência” que se refere a outros tipos de empréstimos; e a expressão “troca cultural” que é recente e muito utilizada devido a um crescente relativismo; acomodação e negociação – “acomodação” é um termo antigo, mas que recentemente começou a ser utilizado para criticar os conceitos de “aculturação” e “sincretismo”. Neste caso a mudança cultural acontece por acréscimo e não por substituição. Os termos alternativos para “acomodação” são: “diálogo” e “negociação”; mistura, sincretismo, hibridização – “hibridismo” é quase sempre um processo e não um estado e foi muito difundido por botânicos nos séculos XIX e XX; “sincretismo” é um termo originalmente negativo para deplorar tentativas de unir diferente grupos, mas que, de maneira positiva, pode ser retratado como harmonização; conceitos em questão – os conceitos anteriormente apresentados criam problemas próprios, ou seja, “apropriação” possui o problema de descobrir o fundamento lógico, consciente ou inconsciente, para seleção de alguns itens e rejeição de outros; o “sincretismo”, além do problema da lógica da escolha, o que precisa ser investigado em especial e até que ponto os diferentes elementos são fundidos; e o “hibridismo” é um termo escorregadio, ambíguo e, ao mesmo tempo, literal e metafórico, descritivo e explicativo; tradução cultural – o autor dá ênfase na metáfora linguística porque parece ser a mais útil e a menos enganosa. Porém, há o problema prático de como traduzir termos-chave utilizados por um povo que é objeto de estudo. Alguns elementos não são plenamente traduzidos, havendo, portando, perdas de tradução; crioulização – é quando duas culturas em contato se modificam/convergem e formam uma terceira.

No capítulo Variedades de Situações, o autor apresenta as diversas situações, contextos e locais nos quais ocorrem encontros culturais: iguais e desiguais – os relatos de encontros culturais entre iguais em termos de poder e aqueles entre desiguais, têm enredos diferentes; tradições de apropriação – há culturas fracas ou fortes de apropriação e adaptação. Algumas tem propensão maior para incorporar elementos estrangeiros do que outras. Há lugares que são mais favoráveis à troca cultural, como por exemplo, as metrópoles e as fronteiras; a metrópole e a fronteira – são locais para o entendimento mútuo onde pessoas de diferentes origens se encontram e interagem. Na metrópole há cruzamento de cultura e de comércio, bem como a presença de diferentes grupos de imigrantes que muitas vezes tentavam se isolar no passado para manter sua língua e sua identidade original, mas que com o tempo assimilavam e acrescentavam algo novo à mistura. A fronteira, por sua vez, é uma zona de “interculturas” de encontro não apenas locais, mas também de sobreposição ou interseções entre culturas; classes como culturas – existência da influência das classes mais altas sobre as mais baixas e duelo entre classes profissionais.

No capítulo Variedades de Reações, Burke destaca a existência de quatro reações a “importação” ou “invasões” culturais: aceitação, rejeição, segregação e adaptação. Para explicá-las, o autor faz a seguinte subdivisão: a moda de tudo o que é estrangeiro – a primeira reação é de acolhida/aceitação, mas não se pode dizer que a troca de cultura é sempre de tolerância. Existe a combinação da harmonia com a desarmonia social e essa existência se dá pelos símbolos de cada cultura; resistência – quando há a defesa das fronteiras culturais contra a invasão; purificação cultural – quando há extremismo pela purificação, isto é, uma limpeza étnica e não apenas linguística; segregação cultural – é uma linha divisória interna dentro de uma mesma cultura em que há a concentração em manter parte de um território livre de estrangeirismo. Essa reação permite a existência de uma vida dupla, isto é, uma pessoal e outra profissional, por exemplo. No decorrer das gerações, a segregação se transforma em adaptação; adaptação – é a incorporação das partes em uma estrutura tradicional. Pode ser tratada como um movimento duplo de des-contextualização e re-contextualização, em que se retira um item de seu local original e o modifica para se encaixar em seu novo ambiente. Neste caso, há uma “negociação” cultural em que merecem ser enfatizados os diferentes estágios do processo, o número de pessoas envolvidas e o fato de que as mudanças se dão dos dois lados; circularidade – utilização da metáfora do círculo para se referir às adaptações culturais estrangeiras que são tão completas que o resultado pode ser “re-exportado” para o seu lugar de origem; tradutores – são pessoas deslocadas, em grande parte, e que possuem uma “consciência dúplice” que auxilia no processo de tradução.

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