Resenha do Filme: Pro Dia Nascer Feliz
Por: Kaíque Riccaldoni • 18/9/2018 • Resenha • 1.554 Palavras (7 Páginas) • 715 Visualizações
O filme “Pro dia nascer feliz”, de João Jardim, aborda a realidade cotidiana das escolas brasileiras e os conflitos nelas existentes em diversas regiões do país. São elas: Colégio Estadual Guadalajara e Colégio Santo Inácio, RJ; Escola Estadual Levi Carneiro, Escola Estadual Parque Piratininga II e Colégio Santa Cruz, ambos em SP, além da Escola Estadual Dias Lima e Escola Estadual Cel. Souza Neto, PE, onde inicia a filmagem. Traz à discursão assuntos que norteiam a vida estudantil, levando à reflexão os mais variados temas, com diferentes abordagens e protagonismos.
Como principal tópico, observa-se a questão da oportunidade. Seriam elas iguais nas diferentes escolas visitadas? Há no país uma política educacional pública de qualidade onde todos tenham a mesma motivação que os estudantes que não utilizam o sistema público de ensino? Oportunidades X Futuro, fica como ponto de partida para se compreender o ciclo da educação (ou da falta dela) no Brasil.
No decorrer do filme, são exibidas as seguintes estatísticas:
“ 97% das crianças em idade escolar entram na escola. Com o passar dos anos, muitos abandonam. Além disso, 42% não concluem a 8ª série. Segundo avaliações promovidas pelo MEC, a metade dos estudantes do Ensino Fundamental não conseguem ler ou escrever corretamente". “ Existem 210 mil escolas no Brasil. 13,7 mil não têm banheiro. 1,9 mil não têm água. Fonte: Censo Escolar 2004, MEC, INEP".
A estudante Clécia, 13 anos, ao ser entrevistada, relata a situação de sua escola. Diz que não há descarga nos banheiros e não há água sequer para lavar as mãos. Sua família também aparece no filme, e seus pais falam sobre o orgulho que sentem ao vê-la estudando e que, mesmo com as dificuldades, ela ainda encontra motivação para continuar.
Ainda em Pernambuco, entrevistam Valéria, 16 anos: “na maioria das vezes - aqui - não temos nem chance de sonhar...”. Ela conta a dificuldade que encontra em permanecer na escola e tirar boas notas. Durante a filmagem, por dois dias o ônibus que a leva para o colégio quebrou. Além disso, por escrever tão bem, os professores duvidam que suas redações sejam realmente de sua autoria. Normalmente, sequer se dão ao trabalho de corrigi-las. Condenam-na sem julgamento, desmotivam-na por não acreditarem em sua capacidade.
Na mesma escola, a professora Denise fala sobre os problemas que os professores encontram. Segundo ela, as alunas vão para as aulas como um escape. Deixam o material na mesa e vão para o portão. Não há motivação por parte da maioria dos profissionais, que muitas das vezes mandam substitutos ou, quando dão aula, não avaliam corretamente seus alunos. Ou seja, a desmotivação decorre em ciclos na escola. Em aula, ela diz para sua turma de magistério:
No futuro teremos a chance de mudar, ou deixaremos como está porque a nossa realidade é essa? Ou porque aqui é Pernambuco? Porque é Nordeste ou porque é Brasil? Nós debatemos isso sempre... a vida fraca do docente... como é que você vai se comportar? Como será sua prática pedagógica? De que lado você quer estar? Do sistema, tampando os olhos fazendo tudo do mesmo jeito? (Aqui tenho dúvidas em quais ‘pq’ usar, pq apesar de ser uma indagação, to fazendo uma afirmação)
Com a reflexão da professora Denise, percebe-se que há professores comprometidos com a educação e formação dos estudantes e, mais importante, há ainda a vontade de formar novos profissionais que atendam as demandas dessa juventude.
Exemplo disso é o outro jovem entrevistado, Deivison Douglas, 16 anos. Ele estuda em Duque de Caxias, numa escola bem próxima a ‘boca de fumo’ do bairro. Além de ser extrovertido e desenvolto (o que o torna conhecido e popular no bairro), o menino tem um estreito relacionamento com a bandidagem local, segundo relatos. Apesar de boa parte da sua vida cotidiana ser entrelaçada à violência, ele ainda permanece na escola, principalmente devido ao apoio que recebe do “núcleo de cultura da escola’. Utiliza toda sua potencialidade de comunicação e carisma como músico, apresentando-se em colégios e festas locais. Edilene, educadora da escola, fala: “se tiver o mínimo de acompanhamento, será apenas uma fase, do contrário, pelo convívio e influencia que ele tem com bandidos no bairro, dificilmente ele escapa. E não será apenas uma fase, a adolescência”.
Já em São Paulo, Piratininga, entrevistam a professora Celsa. Ela relata que faz terapia com psiquiatra e que por muitas vezes se sente desmotivada a continuar. Diz também que há um abismo entre aluno e professor e, professor e diretor, sendo isso um grande obstáculo. Apesar das dificuldades, ela mantém uma fanzine com os estudantes, onde abordam temas como violência, homossexualidade, preconceitos e etc.... Nesse grupo há uma aluna, a Keila, 16 anos, que conta que adora escrever. Antes de participar da revistinha, se sentia desmotivada e depressiva. Ao descobrir seu talento e capacidade para escrita, ela mesma se surpreendeu e utilizava da sua tristeza e indignação como inspiração para suas poesias e textos.
Em comum nas três histórias acima, há a capacidade individual de cada um desses jovens destacada e reconhecida e, mesmo mergulhados num mundo de profissionais desmotivados e alunos desestimulados, conseguem enxergar dentro de si talentos que a sociedade em geral e até mesmo eles, desconhecem existir.
Percebe-se no decorrer do filme que, mesmo com idades iguais ou próximas, os medos e conflitos dos adolescentes mudam de acordo com a classe social em que estão inseridos. E mais, a forma de se resolver essas questões também se diferenciam muito umas das outras. Mas como ponto em comum entre os alunos das diferentes escolas no Brasil, há a dificuldade em lidar com os sentimentos na adolescência, e se motivar para a vida estudantil e para o convívio na escola.
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