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Resumo MELATTI, Julio Cezar. A Antropologia No Brasil: Um Roteiro.

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Por:   •  12/10/2014  •  4.215 Palavras (17 Páginas)  •  4.459 Visualizações

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MELATTI, Julio Cezar. A Antropologia no Brasil: Um Roteiro. Série Antropologia, vol. 38. Brasília, 1983.

Como Melatti destaca a construção da Antropologia no Brasil?

Neste artigo, Julio Cezar Melatti dá sua interpretação da construção da Antropologia no Brasil, traçando sua história na forma de um roteiro, que ele inicia pelos cronistas. A razão da consideração deles é que, na inexistência ou ausência de cientistas sociais, eles nos deixaram registros de observações diretas e espontâneas, embora não controladas, ou seja, “relatos em que registram suas experiências com a população de determinados locais ou regiões do Brasil e suas observações a respeito dela” (MELATTI, 1983: 3). As informações por eles deixadas são, dessa forma, muito valiosas porque nos permite conhecer um pouco de culturas e formas de organizações sociais de épocas mais remotas. Entretanto, é imprescindível que haja uma análise e seleção criteriosa desses materiais, já que são, muitas vezes, tendenciosos, falsos ou baseados em informações de terceiros. Segundo Melatti, há períodos mais ricos e outros mais pobres em informações, assim como há regiões mais documentadas do que outras. Mas, para ele, há a impressão de que a partir da chegada da Família Real no Brasil há um aumento no número de cronistas, certamente devido à abertura dos portos e à transferência da capital de Portugal para o Brasil, que logo declara sua independência. Entretanto, o século XVIII, em relação a informações sobre indígenas, seria um período pobre.

Depois dos cronistas, Melatti detém sua atenção na Etnologia. A acepção que ele adota neste artigo é da Etnologia

“como parte da Antropologia Cultural ou Social que abrange os estudos em que o pesquisador entra em contato direto, face a face, com os membros da sociedade, ou segmento social estudado, contrastando-a com a Arqueologia, que abarca as pesquisas apoiadas em vestígios deixados por sociedades desaparecidas ou por períodos passados de sociedades que continuam a existir” (MELATTI, 1983: 5).

Ele explica que até a década de 1930 não havia a formação acadêmica de etnólogo no Brasil. As contribuições nessa área vinham de profissionais de áreas diversas, tais como a medicina, o direito, a engenharia e outras profissões. Até mesmo os etnólogos estrangeiros eram formados por centros de pesquisas de criação recente, porque a Antropologia era um ramo novo nas ciências. Melatti destaca que tanto os brasileiros como os estrangeiros desse período nem sempre eram somente etnólogos, mas antropólogos gerais, lidando com problemas etnológicos, arqueológicos, lingüísticos ou de Antropologia Física.

A partir de meados do século XIX, Melatti diz que alguns brasileiros realizam trabalhos de caráter etnológico. Esses pesquisadores eram quase todos autodidatas em Antropologia e interessavam-se pelo destino das populações estudadas, assim como pelo seu lugar na formação do povo brasileiro, cujo futuro os preocupava. Havia entre a maioria desses autores, segundo Melatti, um conflito entre a simpatia com as minorias estudadas e a situação de inferioridade apresentada na hierarquia biológica na qual as colocavam. No entanto, eles consideraram o problema do contato interétnico. Os folcloristas, como Alexandre José de Melo Morais Filho e Sílvio Romero, estariam, para o autor, entre os precursores dos etnólogos brasileiros, assim como Euclides da Cunha, com seu trabalho sobre os sertanejos de Canudos e os do sudoeste da Amazônia. Melatti também dá grande importância a dois iniciadores dos estudos sobre o negro no Brasil: o desenhista e arquiteto Manuel Raimundo Querino e o médico Raimundo Nina Rodrigues; e a outros dois que influenciaram muito os meios intelectuais brasileiros: Roquette Pinto e Oliveira Vianna.

O autor explica que, nesse primeiro período, os alemães eram maioria entre os etnólogos estrangeiros que procuravam o Brasil, e estavam mais interessados pelo estudo das culturas indígenas. Eles ficavam no país enquanto os estudos durassem, e alguns se radicaram posteriormente no Brasil ou em países vizinhos. Enquanto os alemães eram exploradores, e realizavam expedições de pesquisa, outros etnólogos estrangeiros preferiam o trabalho de gabinete, como o sueco Erland Nordenskiöld e o padre Wilhelm Schmidt. Nas décadas de 1920 e 1930, Melatti diz que ocorrem algumas alterações em relação às pesquisas com índios: aos poucos se abandonam as preocupações evolucionistas e difusionistas; diminui o número de pesquisadores alemães (embora a maioria continue sendo estrangeira); alguns desses pesquisadores estrangeiros se estabelecem no Brasil ou em países vizinhos.

Continuando seu roteiro, o autor passa ao período compreendido entre os anos 1930 e 1960, destacando em 1934 a criação da primeira Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Brasil, que ocorreu na incipiente Universidade de São Paulo. A Escola de Sociologia e Política foi fundada na mesma época. Nesse tempo foram contratados vários mestres estrangeiros, de forma a suprir a necessidade de professores. Melatti lista os principais nomes que vieram trabalhar no Brasil: na primeira, Roger Bastide, Emílio Willems e Claude Lévi-Strauss; Herbert Baldus e Donald Pierson, na segunda (onde esteve como professor visitante durante a Segunda Guerra Mundial, Radcliffe-Brown).

No Rio de Janeiro, era criada a Universidade do Distrito Federal, que teve como professores Gilberto Freyre e Arthur Ramos. Em 1939, foi criada a Universidade do Brasil, que absorveu a Universidade do Distrito Federal. Estas universidades não chamaram professores estrangeiros para a área de Ciências Sociais. Contudo, Melatti ressalta que tanto Freyre como Ramos realizaram estudos no exterior e, desta forma, puderam trazer influências renovadoras.

Para o autor, o principal foco de irradiação da Etnologia no referido período era São Paulo, devido ao número de professores e ao espírito de renovação. Nesta época, muito estudantes brasileiros foram fazer seus cursos de pós-graduação no exterior. A maior influência, para Melatti, talvez tenha sido a norte-americana, que se dava através dos professores que trabalhavam no Brasil, da vinda dos primeiros pesquisadores norte-americanos para estudar sociedades indígenas, religiões afro-brasileiras ou pequenas comunidades, e dos brasileiros estudantes nos EUA. Essa grande influência decorria do nascente interesse por parte de pesquisadores norte-americanos pelos países da América Latina. Para Melatti, é possível que a justaposição das influências européia e norte-americana é que tenha provocado a união um tanto híbrida do funcionalismo com

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