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Desejo não é Falta, Desejo é Potência

Por:   •  6/6/2017  •  Trabalho acadêmico  •  901 Palavras (4 Páginas)  •  249 Visualizações

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Desejo não é Falta, Desejo é Potência

Na visão de Platão o amor é um caminho, uma jornada que parte das belezas do mundo empírico que vivemos até a Beleza nela mesma. Embora tenha início da realidade física, deve alcançar a sua forma universal, não permanecendo prisioneiro da matéria. É lugar comum confundir o amor platônico com o amor não correspondido ou desprovido de interesse sexual. Na realidade, o filósofo não exclui o amor carnal, porém o vê como um primeiro degrau que pode levar a outros mais elevados. Eros é o amor embriagador, que passa por cima da razão e leva o homem a transcender sua existência, a experimentar o divino. O amor eros está ligado aos corpos belos, e só pode realizar-se em conjunto. A ascensão à Beleza começa através da estética, do sensível... E da penetração.

André Comte faz uma trajetória filosófica para definir três formas diferentes de amor, e a partir de eros - a primeira e única a ser destacada nesse texto - é possível explicar o amor conjugal. Comte destaca um trecho de O Banquete de Platão em que Sócrates refuta dizendo que o amor é sempre algo que desejamos e nos faz falta. Na medida em que desejamos o que nos falta, é impossível sermos felizes. “(...) o desejo é falta, e falta é sofrimento. Como você pode querer ser feliz, se lhe falta, precisamente, aquilo que deseja? (...) no fundo, o que é ser feliz? Ser feliz é ter aquilo que deseja” (COMTE-SPONVILLE, André. A Felicidade, Desesperadamente). Mas se o desejo é falta, só desejamos o que não temos. E se só desejamos o que não temos, nunca temos o que desejamos, logo nunca somos felizes. “Assim que um desejo é satisfeito, já não há falta, logo já não há desejo. (...) "Há duas catástrofes na existência", dizia George Bernard Shaw: "a primeira é quando nossos desejos não são satisfeitos; a segunda é quando são."” (COMTE-SPONVILLE, André. A Felicidade Desesperadamente). E por que girar em torno desse ciclo? Devemos admitir: Não há amor feliz e este não pode sobreviver ao casamento.

Pessimismos à parte, voltemos a Platão. O amor é uma educação para o universal, um caminho que se realiza na plenitude da eternidade, um caminho trilhado a dois, que passa, como degraus, do amor a um corpo belo, à atração do emocional, das belas ações, amor pela alma bela. Do amor às almas belas ao amor às ciências belas que atingem o inteligível e o racional. E enfim atinge o espírito, o amor à Beleza nela mesma. Percorrer o caminho de Platão nos faz deparar com uma intrínseca semelhança ao credo religioso católico. Alcançar a Deus também exige investimento. Porém há inversão do caminho, uma vez que a racionalidade (casamento) vem, obviamente, antes da penetração dos corpos belos.

Eros de Platão, na contemporaneidade, já se esgotou. Explicar o mundo pela mercadoria faz com que exista uma instrumentalização das relações. Como já destacado anteriormente, não há amor eterno. Há amar consumir. O sexo é uma mercadoria, as pessoas são mercadorias, o amor é uma mercadoria. E a política, a partir da modernidade, se tornou um meio para se atingir metas, o Estado é o regulador das paixões, logo, a política-cultural segue essa lógica do consumo, a lógica hedonista dos prazeres imediatos.

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