Desejo Como Falta
Por: lucasdaloria • 14/6/2019 • Trabalho acadêmico • 1.335 Palavras (6 Páginas) • 246 Visualizações
Desejo como falta (Platão) e desejo como potência de existir e agir (Spinoza)
O que motiva as pessoas a agirem?
É o próprio sujeito que entende seu estado de tensão desejosa como falta ou como potência. Mas, essa compreensão foi aprendida no convívio social, principalmente pelos cuidadores da criança, por meio das outras pessoas com quem conviveram que reproduzem a cultura vigente e dos rituais sociais e produtos culturais que estimulam modos de pensar.
Todo ser humano quando criança é significado pelo outro e, depois, escolhe aqueles que irão simbolizá-lo.
A maneira como se busca a significação de si (que é um objeto de desejo) e como se entende os relacionamentos sociais dependerá do modo como se compreende a força natural presente em seu organismo.
Essa compreensão sobre o desejo é uma construção cultural que pode negar o estado espontâneo de expressão de alegria.
Como se aprende a entender o desejo como falta ou como potência?
A “leitura” que uma pessoa faz de seu estado de tensão desejosa pode gerar vícios de entendimento desse estado de tensão e de comportamentos.
Segundo Platão (2012), no livro “O Banquete”, Sócrates assinala que as pessoas que experimentam o desejo e o amor, desejam algo que não está disponibilizado ou presente, algo que não possuem ou que não são, ou de que carecem.
Para Schopenhauer (2005), a essência do homem é a sua vontade, e esta perturba a sua paz, pois cada desejo ou todo querer surge de uma necessidade, de uma carência, de um sofrimento. Quando ocorre a satisfação, acaba o desejo e, assim, o prazer. Desta forma, “toda satisfação é apenas um sofrimento removido, (...) ou as alegrias (...) são apenas o fim de um padecimento” (SCHOPENHAUER, 2005, p.477). A vida é um constante sofrimento, sem felicidade duradoura.
Para Freud (1900), o desejo é a vivência da falta de um objeto perdido que, na ilusão da pessoa, lhe vai satisfazer plenamente. Só que a memória de satisfação é um registro mental de algo vivido e imaginado. E nenhum objeto satisfaz plenamente uma pessoa.
Desejo é espera de prazer. Acredita-se numa completude e se busca ou se espera que ela apareça. Nessa perspectiva, as pessoas desejosas percebem-se incompletas e desamparadas, logo, é muito comum sentirem-se com pouco poder em agir e buscarem ser desejadas. Pode-se enfrentar essa falta com coragem e ação autônoma.
Segundo Freud, pode-se viver essa compreensão de falta de duas maneiras:
- Posição do desejo de ser desejado: (sujeito que quer ser desejado. Seu foco está na interpretação que os outros dão a sua pessoa. Posição passiva, de se colocar como “objeto” de desejo do outro. Ou de achar que é o “objeto do desejo” que lhe trará a realização.
No convívio social pode aparecer ao se justificar a ação ou a indignação: “Eu fiz isso porque...”; “O outro fez isso comigo; ele nem me notou”.
Quando se repete continuamente, o discurso crítico ou exigente de outros sobre si mesmo, de forma a reafirmar sua vulnerabilidade. “Mas eles pensam e dizem isso de mim...” “É um absurdo eles me dizerem isso!!!” Neste caso, não se aceita a realidade do outro, pois ainda não se tem autonomia e segurança em si, por isso se fica vulnerável ao que o outro pensa a seu respeito. Pode-se adotar um posicionamento de passividade ou de hostilidade.
Quando se busca uma “performance” para ser desejado pelo outro, ação que é muito estimulada na cultura capitalista para escapar a própria insegurança.
- Posição do sujeito desejante: posição ativa diante do desejo. Posição de autonomia.
O que importa não é o alcance do objeto desejável, mas criar e percorrer o percurso do desejo para atingir o objeto.
Socialmente, a pessoa não se vê como impotente, vulnerável, não fica reclamando do outro ou lamuriando a situação. Ela sabe que algo lhe falta, que tem limitações, que não é perfeita, mas seu foco é na ação, ou, na realização de sua meta e, portanto, faz o que precisa fazer para tal, da melhor maneira que consegue, pois se envolve verdadeiramente com sua meta.
O desejo para Spinoza é diferente. Ele não é a ausência de algo ou carência. É a potência de agir ou existir, é a própria natureza do homem, ou seja, é um esforço para agir que ele busca perseverar em seu ser. Essa potência de viver é acrescida na alegria, uma vez que “o desejo é o apetite consciente de si mesmo” (SPINOZA, 2005, p.208 - Escólio da Proposição IX) e reconhece aquilo que aumenta a potência de agir de seu corpo. A força do desejo que nasce da alegria deve ser definida pela potência do humano e a da causa exterior. Mas, o desejo pode ser frustrado pela ausência do objeto e pode ser vivido na falta. Aí o sujeito fica triste ao imaginar o que lhe falta.
O filósofo contemporâneo André Comte-Sponville (1996) faz uma leitura da perspectiva de Spinoza sobre o desejo e o assinala como uma tensão alegre, vital de uma força que corresponde à potência humana ou à experiência de plenitude e nada tem a ver com uma frustração. “Não é o desejo que é falta: é às vezes o objeto que lhe faz falta (frustração) ou que o aborrece (desgosto). A falta não é a essência do desejo; é seu acidente ou seu sonho, a privação que o irrita ou o fantasma que ele inventa para si” (COMTE-SPONVILLE, 1996, p.268).
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