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O Cinema Independente e o Fenômeno "Pulp Fiction"

Por:   •  26/2/2016  •  Resenha  •  3.541 Palavras (15 Páginas)  •  454 Visualizações

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Mercado e Linguagem Audiovisual

Nome:  Renan Lima Rollo

Escola Superior de Propagando e Marketing – ESPM/RJ

Pós-Graduação em Produção Audiovisual

O cinema independente e o fenômeno “Pulp Fiction”

Em 1994, Quentin Tarantino lançou para o mundo uma das obras mais influentes de toda uma geração de diretores e roteiristas, o filme ‘Pulp Fiction’. Ignorada pelas grandes distribuidoras, foi a primeira produção da independente Miramax depois da aquisição pela Disney. Com o orçamento de apenas 8 milhões de dólares, o filme ganhou mais de 210 milhões em bilheteria e ultrapassou todas as expectativas do senso comum sobre o que seria um filme independente de sucesso.
                Com 7 indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme, a película recebeu o prêmio de Melhor Roteiro Original graças a miscelânea de ideias de Roger Avary, que escreveu a história do “Relógio de Ouro” de Butch, representado por Bruce Willis, e Tarantino com seu modo singular de fundir vários estilos e criar algo autêntico. Chocando a plateia e o júri, recebeu de forma quase unânime a Palma de Ouro em Cannes em 1994 em sua primeira exibição. A segunda produção de Tarantino conquistou muito mais que um espaço no mainstream, foi considerada a obra mais influente da década de 90 e seus efeitos podem ser vistos em várias produções da atualidade.

Vivendo uma parte de sua vida em uma locadora, Quentin Tarantino se familiarizou com vários estilos considerados como “cinema cult” ou “cinema de arte” que serviram de inspiração para suas produções. Utilizando em seus filmes uma narrativa não-linear, o diretor e roteirista apresentou em “Pulp Fiction” uma nova forma de contar uma história, ou melhor, várias. Com alusões a várias películas, o filme traz de forma estilizada características de produções de faroeste, de gangsters, de noir, de quadrinhos e de animação japonesa. Com influência de filmes clássicos experimentais como Cidadão Kane, Rashomon e La Jetée, “Pulp Fiction” conseguiu construir uma estrutura inovadora com sua linguagem.

Diferentemente da fórmula de como era feito cinema na época, Tarantino abusou da utilização do texto e das menções a cultura pop para construção de seu enredo, inaugurando a era do cinema pós-moderno. A partir daí, era possível entender que os personagens compartilhavam das mesmas experiências que o público, reproduzindo os mesmos jargões e piadas que eram comumente usados.  Através do texto, o diretor apresenta a personalidade de cada personagem com discussões profundas sobre diversos assuntos que estiveram no imaginário da cultura pop. Nesse novo jeito de fazer cinema, o texto não era mais posto para explicar o enredo, e sim  para definir o caráter de cada personagem.

Contando três histórias que se entrelaçam em certos momentos, a narrativa também não tem um tema específico. É difícil classificar a película pois traz aspectos e estruturas de vários filmes, um dos motivos pelo qual os críticos acreditam que ela dialoga diretamente com a história do cinema, algo singular que nunca havia sido visto antes. Misturando o humor e a violência, os diálogos são altamente ecléticos e, mesmo que sejam vazios de conteúdo, conseguem estabelecer uma ligação direta com o público através da cultura pop.

Com um elenco considerado apagado para época, o filme conseguiu alcançar patamares nunca antes visto em uma produção independente. Após o fenômeno “Pulp Fiction”, vários diretores e roteiristas que galgavam seus caminhos em produtoras independentes começaram a enxergar que era possível ousar e fazer algo autêntico que tivesse sucesso. Os grandes estúdios como a Sony e a Disney começaram a investir em seus “filhotes” e viabilizaram uma série de oportunidades para aspirantes que desejavam conquistar um lugar ao sol.

Em uma entrevista veiculado pelo Jornal New York Times em 1997, Tom Hanks explica como o público tem ânsia pelo “brand-new”, e que todos os diretores, seja de produtoras independentes ou de grandes estúdios cinematográficos, estão em uma nova era onde apenas um filme separa eles de conquistar um lugar no mainstream. Durante a entrevista, feita pelo ator Ben Affleck, é discutido o que seria uma produção independente já que grandes estúdios ou empresas fora da ramo  investiam consideráveis quantias em filmes “independentes”. Com poucos riscos devido ao baixo orçamento, essas iniciativas foram aceitas positivamente e várias películas começaram a ser lançadas com maiores expectativas.

A questão do elenco também é discutida entre os dois. Affleck suscita que filmes de alto orçamento precisam ter um apelo de um público maior, pré-requisitos como “estrelas” funcionam como um porto seguro. Em “Pulp Fiction”, Quentin Tarantino argumenta em uma entrevista, também feito pelo Jornal New York Times, que foi colocado a hipótese de convocar ao elenco Johnny Depp para ocupar o lugar de Tim Roth. Porém, o diretor acreditava que essa manobra de “segurança” não era o tipo coisa que ele imaginava em suas produções. Para ele, o conjunto da obra deveria ser o ponto central de seu cinema, tanto na produção quanto em distribuição.

O elenco convocado para o filme não era o “time dos sonhos” que a Miramax imaginava. O cast contava com John Travolta, Samuel L. Jackson, Uma Thurman, Bruce Willis, Tim Roth, Harvey Keitel, Cristopher Walken entre outros. John Travolta estava em uma fase decadente depois do fiasco do filme “Olha Quem Está Falando”, e aceitou fazer o papel de Vincent Vega em “Pulp Fiction” por um pouco mais de 100 mil dólares. Os atores Samuel L. Jackson e Bruce Willis também não viviam a melhor fase de suas carreiras. Uma Thurman era praticamente uma desconhecida na época. Através do filme, esses atores foram consagrados entre o grande público de uma maneira orgânica, quase como se já estivessem lá.

O filme abriu diversas portas para produções inovadoras. Muitos críticos acreditam que é possível dividir o cinema independente em antes e depois de “Pulp Fiction”. Não existe mais o mocinho e o vilão, todos os personagens, com exceção de Butch, têm seus momentos bons e ruins na trama. Cada personagem é aprofundado em diferentes nuances do filme, onde o protagonista e os coadjuvantes variam de acordo com a história que está sendo contata. Assim, Tarantino conseguiu transformar as atuações em memoráveis cenas que se transformaram em ícones da cultura pop.

Segundo um artigo divulgado pelo Jornal New York Times em 1997, escrita por Janet Maslin, após o lançamento de “Pulp Fiction”, começaram a existir dois caminhos diferentes para o sucesso: pelo cinema alternativo ou pelo mainstream. Assim como para diretores, atores e atrizes também começaram a enxergar nos filmes independentes saídas para alavancar suas carreiras. Segundo Maslin, Hollywood gasta muito do seu talento fazendo pilotos de filmes sem conteúdo, onde nos primeiros cinco minutos é possível entender tudo o que será visto daí pra frente. Para ela, existe um sentimento de “deja vu” entre o que é oferecido ao público e a forma como as histórias são contadas ou expostas.

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