Os Processos da Comunicação

Uma Terra de Clichês:  A Construção de Uma Identidade Brasileira Pelo Olhar da Indústria Cinematográfica Estrangeira

Natália Mota Veloso – Jornalismo

O artigo presente nos traz uma discussão acerca de todos os repetidos estereótipos reforçados no cinema nacional e internacional sobre o Brasil. As praias, o samba, a ideia do sexo, as mulheres bonitas, o futebol, o carnaval e a Amazônia, todas essas ideias ressaltando a mesma imagem, o país do exótico e do diferente.

Em seu documentário Um Olhar Estrangeiro (2005), Lucia Murat conversa com diretores, atores, produtores e roteiristas de filmes estrangeiros na tentativa de entender de onde surgiram essas imagem do Brasil. O documentário apesar de controverso, nos traz também a dúvida acerca da nossa identidade cultural, na aparição do letreiro “Afinal quem somos nós?”. Isso permite a nós refletir sobre a busca constante por aprovação para nos livramos do nosso complexo de vira lata, como se a única maneira de validar a identidade do Brasil fosse através do reflexo que o olhar estrangeiro nos fornece.

É preciso entender que o cinema não se trata de um mero reprodutor da realidade, mas é clara a aproximação de tal arte com o processo criativo daquilo que imaginamos, além de sua possibilidade de se fazer escolhas narrativos mais por seu valor estético do que por sua aproximação do cotidiano. Em tese, trata-se de um canal através do qual diferentes grupos e culturas tem acesso a outros grupos e culturas.

O cinema é um canal onde acontece o confronto das culturas e características e o próprio público consegue perceber tais diferenças, nesse caso a identidade surge como um meio termo entre a visão de fora e a visão que o próprio grupo tem de si. Nesse sentido ele se torna o ponto de contato entre essas diferentes culturas, onde poderão afirmar ou negar tais identidades através da utilização e manipulação do seus recursos discursivos e de linguagem, trata-se de uma canal social onde se analisa diferentes realidades.

As favelas brasileiras, conhecidas mundialmente, são símbolos da desigualdade social e da violência, entretanto nas narrativas estrangeiras ela passa a ser explorada não somente pelo seu valor discursivo e sim pela sua estética, por mais que tal violência fosse explorada no passado ela tinha muito mais um valor que trazia a tona a ideia de impunidade e malandragem do que seu real discurso. O rio de Janeiro é a cidade brasileira que mais tem fatores que reforçam a visão estrangeira do Brasil, as favelas, o carnaval, as praias e a sensualidade da mulher brasileira. O uso de tais fatores fez com que o Brasil, no cinema internacional, se tornasse uma rota de fuga, pois é visto como uma terra onde as leis não funcionam e todos os criminosos podem se dar bem, tal ideia foi explorada no quinto filme da franquia Velozes e Furiosos gravada em 2011 na cidade do Rio de Janeiro.

Existe fatores que interferem no discurso e suas linguagens. O primeiro deles é a respeito da ética, que diz respeito a como retratar o Brasil e toda sua representação cultural e social, sem cair nos clichês, ou no folclore, ou numa espécie de humanismo conformista. As praias, a Amazônia, a violência, o samba e o futebol, são de fato fatores existentes na cultura brasileira, são manifestações que não podem ser excluídas, pois se tratam de elementos da cultura nacional. Outro fator é a estética, como apontado anteriormente no texto, a favela e a violência passa a ser capturados nas câmeras como algo artístico, pelos movimentos rápidos da câmera e pela montagem cenográfica que interfere diretamente no discurso da narrativa.