Resenha - A Importância do Ato de Ler"

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

PORTUGUÊS XVII

PROFESSORA GABRIELA RODRIGUES

ALUNA: SHIMENE GRAÇA

ENTRE AS LETRAS E O MUNDO

O texto “A importância do ato de ler”, escrito por Paulo Freire em 1981 para a abertura do Congresso Brasileiro de Leitura em novembro deste mesmo ano, vem elucidar-nos sobre a complexidade do processo de ler, mostrando que a leitura da palavra não é e nem pode ser única, visto que somos seres com experiências de vida singulares, sendo assim, ao passo que nos transformamos ao longo dos anos, a leitura do mundo e das palavras também se modifica.

Muito além de apenas ser a decodificação de meras letras dispostas sobre o papel, o processo de ler começa muito antes de termos a compreensão das palavras. Começa quando abrimos nossos olhos e começamos a ler o mundo. Para mostrar como se dá a transformação desse processo desde a infância e se transforma a medida que amadurecemos, Freire nos conta sobre quando era pequenino e como foi alfabetizado primeiramente sob as mangueiras de sua casa com o chão como quadro negro e os gravetos como giz e depois sobre quando começa a frequentar a escola e a aprendizagem acadêmica não rompe com sua forma de “ler” o mundo. Adiante fala sobre sua época de adolescência e de mocidade, sobre sua experiência no ginásio com a leitura crítica e seus anos como professor de português, onde ensinava de forma dinâmica e viva a língua, instigando os próprios alunos a buscar entender seus mecanismos. Através dessa releitura de momentos cruciais em diversas fases de sua vida, o leitor passa então a compreender a importância do ato de ler.

Quase quarenta anos depois, muitas questões levantadas pelo autor sobre a forma de ensino nas escolas e universidades são ainda hoje, importantíssimas e muito pertinentes. Freire faz uma reflexão crítica em relação ao enorme valor que se dá, muitas vezes, a quantidade de leitura ou mesmo ao volume de páginas de um trabalho, em detrimento do conteúdo e alerta sobre o método de alfabetização que persiste até dias atuais, onde  A leitura não se encerra em si mesma e muitas vezes os educadores de forma mais ou menos consciente acabam por impor a interpretação e decodificação da palavra aos educandos em sua própria visão de mundo.

Ler palavras e ler o mundo estão intimamente ligados, mas muitas vezes não nos damos conta que a liberdade de viver também mora, e muito, nas palavras. Mora também na maneira como deixamos a vida e as experiências nos moldar ao mesmo tempo que agimos sobre elas e transformamos nossa leitura da “palavramundo”. E talvez aí more a verdadeira importância e beleza do ato de ler, nessa singularidade que existem em cada um, nos mundos íntimos formados pelas palavras e em constante transformação, tanto aquelas escritas como as lidas, como as que formam nós mesmos e que saem de nossos dedos e em suaves curvas riscam o papel.