Desenvlvendo um Plano de Negocio - A estrategia da execução
Por: Anne Caroline • 19/9/2019 • Dissertação • 3.723 Palavras (15 Páginas) • 327 Visualizações
A cilada da execução (The Execution Trap)
Separar a estratégia da execução é a fórmula do insucesso.
A tese de que a execução é algo separado da estratégia fincou raízes no
pensamento administrativo na última década.
Tanto é que se dermos uma busca no Google com algo como “mais vale uma
estratégia medíocre bem executada do que uma estratégia brilhante mal
executada”, acharemos mais de 42.600 referências [na busca em inglês]. De
onde vem a ideia não se sabe ao certo, mas em 2002, no rescaldo da bolha
pontocom, Jamie Dimon, hoje presidente do JPMorgan Chase, opinou: “Prefiro
uma execução de primeira e uma estratégia de segunda a uma ideia brilhante e
uma gestão medíocre”. No mesmo ano, Larry Bossidy, antigo presidente da
AlliedSignal, lançou em parceria o best-seller Execução: a Disciplina para Atingir
Resultados. Nele, os autores declaravam: “Em geral, a estratégia falha por ser
mal executada”.
O problema é que a doutrina de Dimon e Bossidy — a de que a execução é o
segredo do sucesso de uma estratégia — é tão imperfeita quanto popular. Essa
popularidade faz com que não questionemos a validade do princípio. Digamos
que o leitor tivesse a teoria de que corpos celestes giram ao redor da Terra. Com
o tempo, fica cada vez mais claro que tal tese não prevê com exatidão o
movimento de astros e planetas. Que reação seria mais racional? Questionar a
teoria de que o universo gira em torno da Terra ou sugerir explicações cada vez
mais mirabolantes, complexas e improváveis para a discrepância? Aplicar a
doutrina de Dimon e Bossidy em vez da navalha de Occam o levaria a dar um
monte de voltas inúteis e desnecessárias.
Infelizmente, é o que costuma ocorrer quando a empresa tenta entender por que
sua estratégia não está dando certo, sobretudo quando há consultorias
envolvidas. Aliás, a abordagem de Dimon e Bossidy pode ser uma dádiva para
essas firmas, pois permite que culpem o cliente por quaisquer erros que venham
a cometer. Na prática, a consultoria pode dizer: “O problema não é a estratégia
que sugerimos, mas a implementação dessa estratégia pela empresa (aliás, para
ajudá-lo a evitar o problema, sugerimos que nossa firma seja contratada também
para promover mudanças aí dentro)”.
Para a maioria das empresas, encher o bolso de firmas de consultoria
obviamente não contribui para o desempenho. Sugiro uma saída melhor. Em vez
de redobrar esforços para tentar fazer a teoria vigente funcionar, que tal
considerar a possibilidade de que a teoria esteja errada?
Analisemos a tese da brilhante estratégia pessimamente executada. Se uma
estratégia produz resultados insatisfatórios, como afirmar que é brilhante? É,
sem dúvida, uma definição estranha de brilho. O propósito de uma estratégia é
trazer resultados positivos, o que a estratégia em questão não fez — e ainda
assim era brilhante? Em que outra arena chamamos de brilhante algo que falhou
estrondosamente em sua única investida? Uma peça de teatro “brilhante” que
sai de cartaz depois de uma semana? Uma campanha política “brilhante” que
resulta na vitória do outro candidato? Se formos pensar, temos de aceitar que a
única estratégia que pode legitimamente ser chamada de brilhante é aquela
cujos resultados são exemplares. Uma estratégia que não produz um bom
resultado é simplesmente um fracasso.
Como espero mostrar nas páginas seguintes, a tese de que é preciso escolher
entre uma estratégia medíocre bem executada e uma estratégia brilhante mal
executada é profundamente falha — um conceito estreito, inútil e repleto de
consequências negativas indesejadas. A boa notícia é que, se mudarmos a
maneira de pensar sobre o problema da estratégia versus execução, o resultado
pode ser outro.
Para começar, vejamos as consequências da visão reinante da estratégia.
Uma analogia equivocada
Segundo o dogma vigente, a estratégia é reduto de altos dirigentes — que a
formulam, em geral com a ajuda de consultores externos, e entregam sua
execução ao restante da organização. Para a compreensão desse processo, é
comum fazermos uma analogia com o corpo humano. O cérebro (a alta diretoria)
pensa e decide. Já o corpo (a organização) faz o que o cérebro manda. Toda
ação bem-sucedida é composta de dois elementos distintos: a formulação no
cérebro e a execução pelo corpo. Na fase da formulação, o cérebro decide:
“Agora, vou pegar esse garfo”. Na fase seguinte, da implementação, a mão
obedientemente pega o garfo. A mão não decide — simplesmente age. O fluxo
é unidirecional, do cérebro que formula para a mão que implementa. A mão vira
um “agente sem voz”.
Um neurocientista talvez implique com essa simplificação de cérebro e corpo (e
com a verdadeira ordem da operação entre eles). É, contudo, uma boa descrição
do modelo reinante da estratégia organizacional: estratégia é decidir; execução
é fazer.
Para deixar isso mais concreto, peguemos o exemplo de um grande banco
comercial. O presidente e sua equipe formulam uma estratégia de clientes. Essa
estratégia é repassada às agências do banco, onde é executada diariamente
pelo pessoal que atende a clientela. Esses funcionários são os agentes sem voz.
Seguem um manual que diz como tratar o cliente, como processar transações,
que produtos promover e como vendê-los. A difícil tarefa de tomar todas essas
decisões é deixada aos superiores. O pessoal na linha de frente não precisa
decidir nada — só fazer.
Vejamos, agora, uma experiência que vivi ao trabalhar com um grande banco
comercial no início da década de 1980. A instituição estava revendo a estratégia
e, jovem consultor que era, pedi para acompanhar a rotina de um caixa para
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