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Mito do Preconceito Linguístico: “O certo é falar assim porque se escreve assim”

Por:   •  6/4/2017  •  Dissertação  •  544 Palavras (3 Páginas)  •  5.824 Visualizações

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Mito do Preconceito Linguístico: “O certo é falar assim porque se escreve assim”

Ainda que várias formas de preconceito estejam sendo discutidas e descontruídas na sociedade atual, um dos preconceitos menos combatidos é o preconceito linguístico, que é tão comum no Brasil que, na maioria das vezes, passa despercebido, e por isso, mal é reconhecido como um sério problema social.

Com foco no âmbito educacional, há uma propensão no ensino da língua a fazer com que os alunos pronunciem as palavras da forma como elas são escritas, o insinua que essa seja a única maneira “correta” de falar português. Essa prática é colocada como se, aos poucos, toda a variação que transforma “comida” em “cumida” fosse desaparecer, ainda que seja uma forma tão natural de pronúncia.

Mesmo que seja preciso ensinar a escrever e falar na forma padrão da língua portuguesa, o equívoco está no ato de colocar como “erradas” as variações de pronúncia, que são resultado de um histórico social e cultural dos falantes da língua portuguesa em diferentes regiões do Brasil.

A proposta é que se ensine que, apesar de a fala ser mais flexível e permitir formas variadas de pronúncia, a escrita precisa ser padronizada, ou seja, tem que existir uma ortografia única para toda a língua, a fim de que todos possam compreender o que está escrito.

Marcos Bagno utiliza o exemplo de um quadro belga com a imagem de um cachimbo e uma legenda onde se lê: “Isso não é um cachimbo”, querendo dizer que, assim como a representação gráfica de um cachimbo não chega a ser realmente um cachimbo, a língua escrita é apenas uma tentativa de representar a língua falada, sendo que nenhuma língua no mundo é falada da forma como é escrita.

[pic 1]

“A Traição das Imagens” – René Magritte (1898-1967)

Considerando que por muitos anos a escrita literária era a única a ser estudada gramaticalmente, e apenas no século XX a língua falada passou a ser considerada um objeto de estudo científico, a relação entre a língua escrita e a língua falada deve ser reexaminada no ensino, de acordo com Bagno.

O autor pontua ainda que a língua escrita não traduz todas as inflexões, sentimentos e tons de voz que são expressas na língua falada, tomando como exemplo o fenômeno da prosódia (propriedades acústicas da fala que não podem ser preditas pela transcrição ortográfica).

O estudo da gramática surgiu na Grécia Antiga, com o intuito de investigar as regras da língua escrita para preservar as formas da língua literária, consideradas mais elegantes e corretas, porém, as regras de ortografia passaram a ser exigidas também da língua falada, o que Bagno considera ser uma cobrança despropositada.

Ele concluí, portanto, que a supervalorização da língua escrita em detrimento da língua falada empobrece a língua como um todo, levando em consideração que boa parte dos significados serão perdidos por não haver uma forma de expressar as intenções da língua falada em sua totalidade, e que os livros de gramática da língua portuguesa abordam apenas uma modalidade específica da língua, que é a língua escrita, literária e formal, deixando de fora as situações de variação da língua falada e novas possibilidades para a língua escrita.

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