Moda e Globalização
Por: isabelagmrs • 30/9/2016 • Resenha • 6.703 Palavras (27 Páginas) • 1.293 Visualizações
RESENHA: Moda, globalização e novas tecnologias
AVELAR, Suzana. Moda, globalização e novas tecnologias. 2a edição - São Paulo: Estação das Letras e Cores Editora, 2011, Rio de Janeiro: Editora Senac Rio.
- Significado do termo “moda”
Tem-se duas divisões nos significados de moda: o etimológico e o sociológico. O etimológico tem base por aquilo que diz o dicionário, moda definido como maneira, gênero, conjuntos de opiniões. Modo coletivo de aceitação de algo. O radical “mod” vem do latim modus que se traduz em modo. Em geral, “maneira, modo de fazer”.
Já o aspecto sociológico, trás à tona que a moda quando associada à vestimenta tem dois aspectos constantes: a generalidade e a especificidade. Para compreender o termo, é necessário ver o contexto histórico da dinâmica social que ocorre desde o século XV, onde tem-se a imitação e a necessidade de especificação. Segundo Simmel, moda é a imitação de um dado modelo que satisfaz a demanda pela adaptação social. A partir do século XIX, o termo passa a ter uma compreensão ligada à sociedade capitalista de consumo e de classes.
Desde de Yves Saint-Laurent, na década de 60, passa-se a observar e copiar o comportamento daqueles que não se conhece, de desconhecidos na rua, caracterizando a moda contemporânea. No século XX, a roupa continua sendo objeto de diferenciação, um sistema de códigos, hierarquias e simbologias firmadas pelo capitalismo. Nota-se a roupa como meio de compreender o comportamento de certo grupo em certo período. Flugel mostra a roupa como uma parte de nós, já que partilha de nossos movimentos e funciona como um meio de se ler como nos relacionamos com aquilo que está ao nosso redor e o que fazemos parte.
Há uma sensibilidade em relação à nossas vestimentas, uma vez que as mesmas comunicam a identidade de quem as veste. Segundo vários sociólogos, a roupa tem uma função de definição do ser social, visto que a moda envolve fatores de integração ou de exclusão social e de hierarquia de valores. Deve-se ter em mente que o termo moda também se refere à singularidade, à diferenciação. Simmel aponta que é a renovação através do diferente. O diferente só pode sê-lo a partir de algo que já se conhece, fazendo com que a moda seja uma constante busca pelo novo, matando-se para sobreviver. Flugel diz que o paradoxo da moda está em que todo mundo tenta ser igual e diferente, ao mesmo tempo.
A moda tem uma necessidade inerente de difusão, pois se não, não seria moda no sentido próprio da palavra, sendo coletivo. Simmel afirma que na medida em que a moda se difunde, ela morre, trazendo a tona o paradoxo que rege esse universo. Nancy Troy cita que a moda “requer o mesmo peso não apenas entre novidade e tradição, mas, também, entre distinção e conformidade: a necessidade da visibilidade e a determinação de não ser visto”. Tem-se outra contradição paradoxal em que a moda deve ser copiada para ser chamada de moda e ao mesmo tempo, a industria do ramo trás o fim do período da copia.
A moda é o fator transitório do belo presente, em contra-partida ao belo eterno e absoluto, segundo Baudelaire e o belo é constituído por um elemento, invariável. O mesmo ainda diz que a moda é “como uma sublime distorção da natureza, ou como um esforço de renovação constante e permanente da natureza”. Sabe-se que o novo é fundamental, entretanto um novo com elementos reconhecíveis, já que sem isso ele aumentara a dificuldade de assimilação. Essa questão do novo na moda, se confunde com a dinâmica capitalista de inovar constantemente. Pode-se ver isso em duas diferentes instancias: o comercial, o novo reconhecível, ao qual nos adaptamos visualmente com facilidade e o conceitual, o novo que incomoda e nos parece estranho, sem qualquer elemento imediatamente reconhecível.
O que caracteriza a moda é que ela “sobrepõe-se ao corpo como suporte ideal da moda no qual esta constrói e consolida nossos desejos e crenças, atualizando nosso sistema de escritura e valores sociais” segundo Kathia Castilho. A roupa compõe nossa imagem, é um meio de definição do ser social, tornando o corpo humano culturalmente visível. Para Malcolm Barnard, nossas relações sociais estão refletidas na relação que estabelecemos com as coisas, de forma que moda e indumentária podem ser as formas mais significativas pelas quais são construídas, experimentadas e compreendidas as relações sociais entre as pessoas.
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