O ARMÁRIO DA HOMOSSEXUALIDADE: uma análise do discurso sob a perfectiva de Lady Gaga
Por: Marc Yann • 2/11/2017 • Artigo • 5.276 Palavras (22 Páginas) • 272 Visualizações
O ARMÁRIO DA HOMOSSEXUALIDADE: uma análise do discurso sob a perfectiva de Lady Gaga[1]
Marc Yann[2]
Orientador: Sônia Inês Vendrame[3]
Resumo: Este artigo discute o ritual para construção de uma análise do discurso “The Prime Rib of America (A Costela da América)”, da cantora norte-americana Lady Gaga, que contribuiu para reforçar os direitos da comunidade LGBT em 2010. Completando o debate e observada a verbalização do discurso, retrata-se a rotina de duas jovens lésbicas iguaçuenses (uma com 18 e outra com 20 anos) em livro-reportagem digital no estilo jornalismo literário chamado “O que acontece quando o armário é aberto?”, que inclui ainda, depoimentos verídicos de pessoas homossexuais.
Palavras-chave: identidade lgbt; homossexualidade; discurso; comunicação;
1. INTRODUÇÃO
A cantora norte-americana Lady Gaga de 30 anos, com cinco álbuns lançados, diversos prêmios, reconhecimentos musicais, filantrópicos e com uma história envolta de sucessos comerciais, fez da mídia uma ferramenta poderosa para transmitir seus conceitos de liberdade e sexualidade.
Gaga, mesmo como produto midiático de uma indústria com propósito de venda e consumo em massa, explorou e continua apresentando questões ligadas à política, religião e psicologia através de sua música e aparições. Adotando de uma forma de linguagem direcionada intencionalmente ao público LGBT[4], o discurso de Gaga e seus sentidos são manifestados no que é “determinado pelas posições ideológicas colocadas em jogo no processo sócio histórico em que as palavras são produzidas” (ORLANDI, 200, p. 42).
Ao entender o discurso de Lady Gaga e sua verbalização em personagens reais da comunidade LGBT, formou-se o livro “O que acontece quando o armário é aberto?”[5].
A palavra-chave do título do produto, “armário”, ganha um novo significado epistemológico, tratando-se da estratégia de revelação/ocultamento de algo, nessa obra, a homossexualidade. Na definição do dicionário Aurélio, armário é “móvel ou vão aberto na parede, com prateleiras e/ou gavetas, para guardar objetos”.
Trazendo para o contexto da história de Maria e Rebecca – as personagens perfiladas no livro - o armário é a “indicativa da homofobia de uma maneira que não o pode ser para outras opressões”. (SEDGWICK, 2007, p.32).
No discurso LGBT, permanecer no armário, agora não mais usado com aspas, é uma estratégia, muitas vezes, de sobrevivência, e ao sair do armário, o indivíduo comporta riscos e restrições, como ser questionado se é de fato homossexual ou se está em estado de confusão. No caso dos pais de Rebecca, uma das personagens do livro-reportagem, os pais aderiram a orientação sexual da filha à um momento passageiro.
Portanto, o que acontece quando o armário é aberto envolta-se, segundo Sedgwick, em jogos de poder, potenciais de chantagem, explícita ou não. A saída do armário é difícil e vislumbra um enorme caminho de luta para revelar e tomar postura quanto a uma identidade homossexual.
Nascida da presunção da heterossexualidade como única forma de
manifestação da sexualidade como algo “natural”, o ocultamento construiu-se, historicamente, a partir de ambiguidades para as pessoas que a ele têm recorrido [o armário]. (CARVALHO, 2012, p.88)
A perspectiva do armário traduz a experiência social de ser homossexual na sociedade.
2. PERSONAGENS
A ideia dessa pesquisa vigora desde agosto de 2014. Na época já verificava-se por meio de conversas informais com o grupo EPID (Espaço Iguaçuense da Diversidade LGBT), a escassez de trabalhos acadêmicos, tendo como parâmetro apontado, a cidade de Foz do Iguaçu.
A ausência de bibliografia envolvendo jornalismo e homossexualidade e a escassez do objeto já adianta a dificuldade em trazer determinados conteúdos escondidos em todos os aspectos da sociedade moderna. Derrubando essa barreira por meio de outros artifícios de pesquisa, como: livros estrangeiros, teses, revistas e artigos, estes foram elementos fundantes para prosseguir nesta empreitada, onde o resultado serve para abarcar próximas abordagens.
Com a certeza de que este tema necessitava, assim como continua a exigir espaço no universo estudantil, passou-se a encontrar métodos que possibilitassem esse fazer.
Deste modo, investigou-se em campo indivíduos que pudessem compor com o eixo central dessa exploração.
Há muitas maneiras de escrever uma história, mas nenhuma pode prescindir de personagens. Também são inúmeras as formas de apresentá-los, caracterizá-los ou fazer com que atuem. De qualquer modo, existe sempre um momento na narrativa em que a ação se interrompe para dar lugar à descrição (interior ou exterior) de um personagem. É quando o narrador faz o que, em jornalismo, convencionou-se chamar de perfil (SODRÉ, 1986, p.125).
Com as personagens definidas, houve o apuro de que as entrevistas e a produção inicial do livro fosse iniciada, devida as circunstâncias vividas pelas escolhidas no momento. Maria Yanni é uma jovem de 18 anos, homossexual, estudante, filha de pais evangélicos tradicionalistas. Desde criança sofre violência por parte do pai. Maria também mora com um irmão mais velho (25 anos) que relatou aos pais sobre a jovem estar em relacionamento com outra menina. Com a descoberta, os pais de Maria a expulsaram de casa e a vida da jovem tornou-se extremamente insegura e vulnerável, segundo afirmações da própria.
Rebecca Lia, 21 anos, homossexual assumida, negra, adotada por um casal de família chinesa e portuguesa. Lia contou aos pais sobre sua sexualidade aos 20 anos, entrando em um processo de aceitação interno e externo por parte dela e da família. O conflito de identidade veio desde os tempos de colégio e seguiram durante adolescência.
Maria e Rebecca são jovens, fãs da cantora em questão e vivem dentro de uma realidade de um estado preconceituoso. O Paraná é responsável 15,42% de mortes LGBT no sul do País, segundo o Relatório de Assassinatos de 2014 (ano da pesquisa desse artigo) feito pelo GGB – Grupo Gay da Bahia. O professor Carlos Alberto de Carvalho na obra “Jornalismo, Homofobia e Relações de Gênero” (2012, p.78), reforça a ideia da luta contra o preconceito nos dias atuais:
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