O Rio Zona Norte

Resenha “RIO ZONA NORTE”

Rio Zona Norte (1957) é o segundo longa metragem do diretor e roteirista Nelson Pereira dos Santos. Reconhecido tardiamente pela crítica, o filme conta a história do sambista Espírito da Luz Soares (Grande Otelo) que relembra fatos da sua vida, principalmente as dificuldades enfrentadas para ter suas músicas gravadas por artistas de renome da época e tornar-se um compositor conhecido, momentos antes de morrer. Rio Zona Norte, a despeito de ter sido rodado na década de 1950, traz um relato emocionante das dificuldades vivenciadas pelas pessoas negras e pobres na busca pela melhoria da sua condição social e econômica no Brasil.

Àqueles que esperavam um filme na mesma linha de Rio, 40 graus (1955) se surpreenderam ao constatar que Rio Zona Norte não enquadrava-se precisamente no estilo realista que influenciava os cineastas da época e que foi louvado na primeira obra de Nelson Pereira. Logo nos minutos iniciais, enquanto Espírito da Luz Soares encontra-se largado nos trilhos de trem, o diretor utiliza o criticado recurso do flashback, característico do cinema hollywoodiano, para levar o telespectador ao ambiente passado que deixará claro a trajetória do último período de vida do personagem. Tal recurso, que apresenta a narrativa numa ordem que não é a natural da história, se repete ao longo de todo o filme transitando entre o presente agonizante de Espírito e o seu passado.

Além do flashback, Rio Zona Norte, de acordo com a crítica da época, é um filme com características próximas ao melodrama, na medida que utiliza personagens antagonistas que aproveitam-se de Espírito da Luz e outros protagonistas que reconhecem a sua generosidade com moradores e familiares e desejam ver o seu sucesso (NAPOLITANO, 2014). Assim, os personagens - como o próprio Espírito que em nenhum momento esboça uma reação mais enérgica frente às trapaças de que é vítima - não são vistos longe do binômio bom ou mau.

DAMASCENO, Alex. Além do Flashback: Estéticas Audiovisuais do Fenômeno da Lembrança. Novos Olhares, v. 2, n. 1, p. 56-66, 2013.