NELSON PEREIRA DOS SANTOS E O NEO REALISMO BRASILEIRO EM RIO 40 GRAUS, RIO, ZONA NORTE E VIDAS SECAS, UM START PARA O CINEMA NOVO.
Por: Akhenaton Brasil • 6/7/2017 • Resenha • 2.290 Palavras (10 Páginas) • 778 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF
DEPARTAMENTO DE CINEMA E AUDIOVISUAL
LICENCIATURA EM CINEMA E ADIOVISUAL
NELSON PEREIRA DOS SANTOS E O NEO REALISMO BRASILEIRO EM RIO 40 GRAUS, RIO, ZONA NORTE E VIDAS SECAS, UM START PARA O CINEMA NOVO.
AKHENATON DE SOUZA BRASIL
NITERÓI - RJ
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF
DEPARTAMENTO DE CINEMA E AUDIOVISUAL
LICENCIATURA EM CINEMA E ADIOVISUAL
NELSON PEREIRA DOS SANTOS E O NEO REALISMO BRASILEIRO EM RIO 40 GRAUS, RIO, ZONA NORTE E VIDAS SECAS, UM START PARA O CINEMA NOVO.
AKHENATON DE SOUZA BRASIL
Trabalho apresentado à disciplina História do Cinema Brasileiro, do curso de Licenciatura em Cinema e Audiovisual, como requisito parcial para obtenção da nota do 1º semestre de 2017.
Orientador: Prof. Rafael de Luna
NITERÓI – RJ
2017
Nascido em São Paulo em 1928, Nelson Pereira dos Santos é um dos mais importantes cineastas brasileiros. Formado em direito, Nelson estudou no Institut de Hautes Études Cinématographiques o IDHEC em Paris, além de Nelson Pereira outros nomes importantes do cinema brasileiro como Eduardo Coutinho, Ruy Guerra e Paulo Rocha também estudaram no IDHEC. Nelson Pereira dos Santos é também o nono ocupante da cadeira número 7 da Academia Brasileira de Letras desde o dia 9 de março de 2006 quando sucedeu o acadêmico Sergio Correa da Costa.
Seu filme de estreia o revolucionário Rio 40 graus, de 1955, foi um contraponto quanto ao cinema proposto pela companhia Vera Cruz, “Rio 40 graus, ao lado de ser, indiscutivelmente, o melhor filme brasileiro dos últimos tempos, veio solidificar a opinião de que os filmes produzidos pelo nosso país finalmente atingem um padrão cinematográfico digno” (LEITE, 1955. p. 30). Rio 40 graus, transformou-se em um dos símbolos do processo de renovação do cinema brasileiro colocando em foco o cinema de autor,
“ As origens remotas desse movimento, que viria ganhar a denominação de Cinema Novo, se confundem com as atividades dos chamados cineastas independentes da década de 50. Foi em filmes como Rio, 40 graus, de Nelson Pereira dos Santos, e O grande momento de Roberto Santos, que se começou a investigar diferentemente a realidade brasileira e a desenvolver métodos alternativos e baratos de produção” (HEFFNER, 1999, p.15).
Assumidamente inspirado pelo neo-realismo, Nelson pôs em prática no seu primeiro filme toda a organicidade neo-realista filmando onde era possível, fosse no meio da rua ou no coração de uma favela, mostrando de perto a realidade social brasileira da época tal qual o neo-realismo italiano pretendia expor a realidade de uma Itália pós-segunda guerra mundial, em 1955 Mauricio Gomes Leite escreveu na Revista de Cinema que
“ Tal contribuição, embora inegável, não ocasiona, porém, o aprisionamento ao importante movimento cinematográfico peninsular, pois o estudo que ele pretendeu fazer de alguns habitantes do rio de Janeiro se reveste, quase sempre de um clima tão nacional, que é impossível filiá-lo, formal ou substancialmente a qualquer escola estrangeira” (LEITE, 1955, p.31).
Rio 40 graus, foi filmado com baixíssimo orçamento, fora dos estúdios e o elenco era composto em sua maioria por atores amadores, o filme se inicia com um plano geral da cidade dando destaque aos cartões postais do Rio de Janeiro como o recém construído na época Estádio do Maracanã, passando pela orla da zona sul e também pela Central do Brasil, após esse pequeno tour pelos cartões postais um zoom nos remete a uma Favela carioca não identificada onde podemos perceber sua arquitetura constituída por pequenos barracos e ruas de terra batida, nesse momento o espectador é trazido para o ambiente popular e apresentado aos personagens através do mesmo tipo de narrativa adotada no neo-realismo.
Além da cidade maravilhosa, Rio 40 graus, possui outros protagonistas. Cinco garotos negros, moradores da favela e vendedores ambulantes, são eles Zeca, Sujinho, Jorge, Paulinho e Xerife, a Revista de Cinema aponta que Rio 40 graus “poderá ser melhor apreciado o retrato, eminentemente crítico, que ele pretendeu fazer a população carioca” (LEITE, 1955, p.31). O drama de Jorge é tratado de uma maneira especial expondo o objetivo do menino em obter com a venda de amendoins recursos que pudessem ajudar sua mãe que se encontrava adoentada, a partir desse ponto a narrativa começa a nos demonstrar a desigualdade social tentando criar um certo tipo de personificação do povo através da figura do menino Jorge. Além da história de Jorge e dos outros 4 meninos negros em suas epopeias pela cidade vendendo amendoins, o filme traz paralelamente a história do malandro Valdomiro interpretado por Jece Valadão. Valdomiro era figura considerada na favela e na escola de samba, um malandro carioca típico, sambista, capoeirista e sem ocupação, tinha momentaneamente como objetivo reconquistar o coração de Alice uma bela jovem negra, uma ex-namorada que agora estava noiva de Alberto também jovem e negro, nota-se uma clara intenção do diretor em produzir um filme que tinha personagens negros como eixo de sua narrativa o que para época era além de revolucionário um ato político devido ao contexto histórico-político dos anos 50 no Brasil e devido ao preconceito contra o negro no cinema exposto pelo fracasso das duas primeiras produções da Atlântida, Moleque Tião, 1943 de José Carlos Burle e Também somos irmãos, 1949 de José Carlos Burle com roteiro de Alinor Azevedo, criou-se na época um estigma de que filmes com a presença de negros geravam fracassos de bilheteria.
Voltando a falar de Rio 40 graus, a narrativa ainda nos brinda com críticas cirúrgicas ao mundo político representada através do personagem de um caricato deputado e ao mundo do futebol onde os interesses financeiros se sobrepõem aos interesses desportivos. E por falar de futebol, Nelson Pereira como um verdadeiro camisa 10 cria uma sequência digna de um clássico do cinema brasileiro, alternando planos gerais do jogo no Maracanã, planos gerais do Maracanã lotado, closes de torcedores vibrando nas arquibancadas, combinados ao som da transmissão do jogo no rádio chegando a cena em que Jorge está sendo perseguido, o garoto acaba atropelado por um carro ao tentar fugir de seus perseguidores e alguém grita ao testemunhar o acidente ao mesmo tempo em que a torcida vibra com um gol no Maracanã.
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