RESENHA DO FILME DE GLÁUBER ROCHA - DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL
Por: gusmonteiro • 23/11/2017 • Resenha • 1.406 Palavras (6 Páginas) • 1.050 Visualizações
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL PUCRS
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL FAMECOS
CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL TECCINE
PROFESSOR GLÊNIO PÓVOAS
ALUNO LUIZ GUSTAVO MONTEIRO DA SILVA
RESENHA DO FILME DE GLAUBER ROCHA ‘'DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL’’:
Deus e o diabo na terra do sol é um filme brasileiro de 1964, dirigido por Glauber Rocha e gravado em Monte Santo, Bahia. Com sua narrativa moderna, causou impacto e rendeu inúmeros estudos nas décadas seguintes, entrando, em novembro de 2015, na lista feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema como um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos. Realizado em meio à convulsão política do país, de 1963 para 64, estreou em três cinemas do Rio de Janeiro há 50 anos e, desde a entrada em cartaz, recebeu inúmeros elogios e até comparações mais ousadas com outras obras cinematográficas de maior dimensão para a época. Esta produção nacional é a principal representante do cinema novo, utilizado por uma geração de jovens de diversas regiões, formações e idéias, que procuravam ir de encontro à sociedade, deixando o cinema artificial dos estúdios e realizando um cinema verdade. Este filme foi produzido em preto e branco e retrata uma realidade dura e difícil do sertanejo.
O filme inicia com a frase: “Vou contar uma estória. Na verdade e imaginação. Abra bem os seus olhos. Pra escutar com atenção. É coisa de Deus e Diabo. Lá nos confins do sertão”. Esta frase nos entrega bem o andar do filme, que mostra muito bem aspectos e personagens típicos do nordeste brasileiro, bem como de sua cultura, além da dura realidade do sertanejo.
O Sertanejo Manoel e sua mulher Rosa levam uma vida difícil no interior desolado e marcado pela seca, porém Manoel tem um plano: utilizar o lucro da partilha do gado com o coronel para comprar um pedaço de terra, no entanto, quando ele leva o gado para a cidade, alguns animais morrem no percurso e, chegado o momento da partilha, o coronel diz que não vai dar nada ao sertanejo, porque o gado que morreu era somente o dele. Por isso, Manoel mata o coronel, foge para casa e, junto a sua esposa, resolve ir embora, deixando tudo para trás. Após esse acontecimento, decide juntar-se a um grupo religioso liderado por um santo (Sebastião) que lutava contra os grandes latifundiários, que decidem contratar Antônio das Mortes para perseguir e exterminar o grupo.
É um filme cruel, desconcertante, mas extremamente envolvente, apesar de suas duas horas de duração. Não é o maior longa já feito na história do cinema brasileiro e nem o melhor filme de Glauber (na minha opinião, é difícil superar Terra em transe), porém é um filme importantíssimo que diz mais sobre o Brasil do ponto de vista identitário do que sobre o período específico do golpe militar. Com um visão complexa sobre as relações entre poder e religião e o uso da violência, a serviço de um ou de outro (ou de ambos?), Deus e o diabo na terra do sol é rico tanto pela forma barroca como pela valorização das alucinações sebastianistas ("O sertão vai virar mar/ e o mar virar sertão"), que ressaltam o poder e a influência do discurso religioso. Por tudo isso, foi fundamental para levar a produção nacional a um novo patamar de reconhecimento. "É uma das mais fortes manifestações da arte cinematográfica que já vi" (reproduzida no Dicionário de Filmes Brasileiros, de Antônio Leão Neto, 2002).
Glauber Rocha nos trás com grande complexidade temas como a miséria e o fanatismo religioso, associados à sociedade nordestina. Os elementos constituintes do povo sertanejo estão muito bem representados na miséria, na extrema religiosidade, no banditismo social e no coronelismo. A inocência do sertanejo também aparece nos momentos em que Manuel sempre tem esperança de uma vida melhor, assim como a sensação de isolamento, pois não existe, por parte de Manuel, uma consciência de que o mesmo ocorre com outros sertanejos.
O filme nos traz diversas críticas que merecem destaque. A cena da partilha do gado entre Manuel e o coronel Morais demonstra a tensão entre classes, na qual o mais fraco sofre as penas pela morte de seu gado devido ao clima árido. Outro momento que merece destaque é quando o coronel ataca o vaqueiro, nos deixando bem claro a posição de coronel. Ele trata Manuel como se fosse uma propriedade ou um animal que pode receber punições por não ter obedecido. O desfecho da situação é injusto, pois, reagindo àquele abuso e tendo se oposto contra a classe opressora, o vaqueiro paga com a morte de sua mãe.
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