RESENHA ZADIG OU O DESTINO
Por: lorrana.rf • 8/4/2019 • Resenha • 1.260 Palavras (6 Páginas) • 650 Visualizações
“ZADIG OU O DESTINO”; uma interpretação
Voltaire foi um importante filósofo francês do período chamado século das luzes, mais conhecido pela história como Iluminismo, importante movimento do século XVII que representou uma grande ruptura ideológica em relação à Idade Média, conhecida como Idade das trevas.
Voltaire produziu em vida célebres obras que são usadas como referência e estudadas até hoje, sendo, uma das mais famosas, “Zadig ou o Destino”. Inspirado no conto persa “Os três príncipes de Serendip”, tal conto nos presentou com um conceito chamado Serendipity, a incrível habilidade de resolver problemas de formas criativas e inimagináveis, a famosa arte da sagacidade. Tal habilidade que nosso protagonista Zadig tinha, como quando questionando a antiga tradição de uma aldeia, na qual viúvas se queimavam após a morte de seus maridos, conseguiu convencer uma delas, a bela Almona, a não realizar tal ato brutal e, por conseguinte, conseguiu estabelecer, como regra, que todas as viúvas, antes de se queimarem em homenagem aos seus ex-cônjuges, conversassem por uma hora, com um homem jovem, salvando, assim, a vida de muitas mulheres, pois depois de tal regra, nenhuma viúva mais se submeteu ao absurdo dessa tradição.
Ademais, Zadig, ao logo da narrativa, é atingido por grandes infortúnios do destino, fazendo com que seus amigos e pessoas que nutriam um afeto pelo protagonista, usassem o tal Serendipity para ajuda-lo. Um exemplo é, essa mesma viúva que foi salva por Zadig, o retribuiu o favor quando o mesmo foi condenado por um mal entendido. Usando de seu charme, convenceu as autoridades responsáveis a irem ao seu quarto, com a promessa de se engajar em relações carnais com eles. Chegando lá, para a surpresa dos homens, a viúva havia chamado um juiz e lhe apresentou os termos assinados pelas autoridades, que conseguira seduzindo-os, para que soltassem Zadig.
René Descartes, inspirando muitos outros filósofos de sua época, estabeleceu as bases do racionalismo como única fonte de conhecimento válida, tal teoria foi marcada pela tão famosa frase “Penso, logo existo”. Podemos observar essa influência no conto de Voltaire ao observarmos que a obra provoca sutilmente uma relevante reflexão acerca do que eram considerados verdades e fatos na época, rompendo e desafiando a grande maioria das obras orientais anteriores, o filósofo ousa ao insinuar que a validação de um monarca ou da igreja não é suficiente e nem sequer necessário para que algo seja considerado uma verdade. Um importante avanço trazido pelas ideias iluministas que se mostra presente no conto é a necessidade de se comprovar empiricamente e de se utilizar um método científico para que algo seja provado. Um fato, não pode ser considerado como tal meramente pela presença de vestígios materiais, uma investigação sempre é precisa. Uma exemplificação presente no conto é; Zadig, em dado momento da história, escreve um lindo poema numa tábua de madeira em exaltação ao rei, porém, ao se quebrar ao meio, o poema foi lido como uma afronta e uma ameaça à vida do soberano e o protagonista foi prontamente e injustamente condenado, sem nenhuma discussão ou considerações sobre o caso.
Estruturas narrativas socialmente compartilhadas por uma comunidade seguem a mesma regra, não podem ser consideradas como fatos apenas por isso. Há muito, acreditava-se que a terra era plana, ou que grifos fossem criaturas reais, como aparece no conto de Voltaire. Após o rei declarar que era proibido comer grifos, Zadig se engajou em uma discussão acerca da existência ou não da criatura, irritando um estudioso da época que afirmou veemente que tais criaturas eram sim reais e usou como prova o fato de ter escrito diversos livros sobre o suposto animal. Podem existir fatos com ou sem vestígios materiais de eventos passados e narrativas socialmente compartilhadas por uma comunidade, a questão é que a relação desses com o conceito de fato é meramente complementar e não condicional. Um fato pode sim ter vestígios materiais ou pode ser que tenha sido passado oralmente por várias gerações, todavia, nenhuma dessas é uma condição para que o objeto de estudo seja considerado uma verdade, a condição é o estudo e/ou análise através de métodos empíricos.
Voltaire também explicita em sua obra a importância de que se tenha um compromisso com a verdade, Zadig sofreu dolorosamente as consequências de rumores a seu respeito, por exemplo, quando a cadela e o cavalo da rainha haviam desaparecido e ele coincidentemente se deparou com oficiais do reino, disse algumas informações que foram supostas a partir da observação do ambiente ao seu redor, porém, sem o interesse de se aprofundar em como Zadig obteve aquelas informações, os oficias prontamente se convenceram de que o responsável pelo desaparecimento da cadela
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