Resenha Tempo de Contar
Por: atabom • 10/1/2017 • Resenha • 1.113 Palavras (5 Páginas) • 465 Visualizações
SILVEIRA, Joel. Tempo de Contar – Rio de Janeiro: Record, 1985.
Joel Silveira nasceu no município de Lagarto, Sergipe. Mudou-se aos 19 anos para o Rio de Janeiro onde cursou dois anos de Direito antes de desistir e seguir carreira de jornalista. Considerado um precursor do jornalismo literário no Brasil, recebeu de Assis Chateaubriand o apelido de Víbora por sua escrita ácida e critica. Seu primeiro emprego foi no semanário Dom Casmurro, depois a revista Diretrizes, de Samuel Wainer, onde permaneceu até a redação ser fechada pelo DIP, em 1944. Escreveu também para os Diários Associados, Última Hora, O Estado de S. Paulo, Diário de Notícias, Correio da Manhã e Manchete. Morreu em 2007, aos 88 anos de idade, e deixou mais de vinte livros publicados.
“(...) É a memória de um homem que tem muitas vidas. E sabe contá-las.”. É o que diz Jeferson de Andrade na orelha do livro Tempo de contar, publicado em 1985, que traz em 417 páginas quase cinqüenta escritos de Joel, entre eles reportagens, crônicas e entrevistas. O prefácio escrito por Carlos Heitor Cony, era originalmente um texto feito para o aniversário de 60 anos de Joel.
Joel teve encontros com grandes personagens da política brasileira e algumas deles estão presentes no livro, entre eles, o primeiro e único encontro com Getúlio Vargas, em abril de 1954, o então presidente já não concedia entrevistas, mas a necessidade de tentar salvar a Revista da Semana, onde era editor-chefe, impulsionou o que ele chamou de “Operação Getúlio”. A operação termina em fracasso. O segundo fala sobre Jango, contando sobre sua história de vida e o encontro que tiveram em 1955, o ano depois da morte de Vargas. O quarto texto fala sobre Jânio e sua renuncia, contando com os depoimentos do ministro das Relações Exteriores, o secretário particular e do próprio Jânio vinte anos após o ocorrido. E mais perto do final do livro, fala também de JK, embora este não tivesse mais nada ligado a política, mas sim a fazenda que o ex-presidente cuidava em sua velhice energética e tranqüila.
O livro contém também entrevista com grandes nomes da literatura, como Gilberto Freyre, em uma entrevista na mansão do escritor no bairro Apipucos, regada a conhaque de pitanga, a bebida que só Gilberto tinha a receita. Fala sobre Graciliano Ramos, como sua personalidade, suas prisões, um pouco de sua trajetória e morte. Vinte cinco anos depois Joel passeia por Maceió com a viúva de Graciliano, D. Heloisa. Em um curto capitulo fala sobre Manuel Bandeira, o autor recorda dos anos em que passou visitando o poeta semanalmente e de como o passar do tempo foi rareando os encontros. Uma última lembrança e a certeza de que “[...] Ninguém mais preparado para a morte do que o grande poeta.” Dedica também um capítulo a Monteiro Lobato, falando de sua vida, suas histórias e o encontro dos dois. Apresenta também um curioso projeto realizado com João Cabral de Melo Neto, em um jornal que durou quatro meses.
O autor também relata acontecimentos que o marcaram, como o texto intitulado ao que parece de uma forma inusitada de “Pode Uma Feijoada Derrubar o Governo? Pois Foi o Que aconteceu”. Nele, descreve seus sentimentos diante dos fatos acontecidos no dia primeiro de abril de 1964, quando o golpe militar triunfa. Também Um Domingo Assassino on2de conta um entediante passeio em um domingo em Virginia.
Joel também escreve sobre alguns episódios difíceis. Como os que sofreu quando foi correspondente de guerra na Itália entre 1944 e 1945. E quando foi a Bogotá em 1948 e viu estourar a revolta popular que gerou três dias “de loucura coletiva”, deixou um rastro de mais de mil mortos e cinco mil feridos. O ultimo capitulo da obra é sobre Bogotá. Nele, Joel fala de como viu nascer à revolta, como se protegeu dela e a presença, posteriormente confirmada, do ainda estudante Fidel de Castro, que deixou como legado quatro tiros. O texto que por fim finaliza a obra possui um titulo bastante expressivo, “Um menino morto”, onde Joel desliza as palavras com suavidade e dramaticidade e depois de tantas aventuras esse texto finaliza o livro, nos deixando com uma mistura de doçura e melancolia, onde “Abertos e limpos, os olhos do menino morto pareciam maravilhados com o que somente eles viam, com o que queriam ver para sempre.”(p. 417).
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