A Catástrofe da Minerado Vale
Por: biancasigma • 14/9/2019 • Projeto de pesquisa • 4.153 Palavras (17 Páginas) • 250 Visualizações
A catástrofe da mineradora Vale: a ciência como arma de destruição.
Bianca dos Santos Cunha1 *(Graduada em Química pela UFS. São Cristóvão, SE. E-mail: kimikufs@hotmail.com), Erivanildo Lopes da Silva2 (Doutor em Filosofia, História e Ensino de Ciência pela UFBA. Professor Adjunto do Departamento de Química da UFS. São Cristóvão, SE.)
1 Universidade Federal de Sergipe . 2 Universidade Federal de Sergipe .
Palavras-Chave: Progresso, ciência, meio ambiente.
Resumo: O objetivo da presente comunicação visa analisar a tragédia ocorrida em Brumadinho e o resultado catastrófico que vitimou homens e meio ambiente. Partindo da concepção baconiana que o mau uso da ciência pode produzir aberrações, sobretudo a partir da análise da obra A sabedoria dos antigos (1602) e do Novo Organum (1620), pretendemos demonstrar como a mesma ciência que produziu a tecnologia necessária para o funcionamento da barragem dizimou centenas de pessoas, devastou hectares de áreas naturais, despejando dejetos que poluiu rios e devastou todo um ecossistema. Desta forma, implica-se na questão dos limites da interferência humana perante o mundo natural.
INTRODUÇÃO
A cidade de Brumadinho, localizada a 60 km da capital de Minas Gerais, Belo Horizonte, possuía, de acordo com o IBGE, uma população estimada no ano de 2018 em 39.520 pessoas. Como em várias outras cidades do Estado, tinha em seu território um centro de tratamento de minério da empresa Vale. De acordo com o site da própria empresa, 105 estão localizadas em municípios do Estado de Minas.
A mina funcionava explorando a extração e beneficiamento do minério de ferro, sobretudo na exploração da Hematita, que possui em sua composição química 70% de ferro e 30% de oxigênio. O processo de extração era realizado em duas etapas. Na primeira etapa, a separação do minério ferro da areia e do quartzo (SiO2), o minério é triturado inicialmente. Na segunda etapa o material passa pelo processo de flotação que é uma técnica de separação de misturas que consiste na introdução de bolhas de ar a uma suspensão de partículas. Com isso, verifica-se que as partículas aderem às bolhas, formando uma espuma que pode ser removida da solução, o que permite separar seus componentes de maneira efetiva. Nesse caso o material era espalhado em tanques. “Neles, o mineral mais leve (quartzo), flutua em uma espuma e o mais pesado (hematita) afunda”, explica Luís Enrique Sanchez, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). “Como o minério é moído, o rejeito é composto por partículas finas. O tamanho delas varia desde areia fina, que é mais grossa, até argila. E a argila, que é muito fina, na presença de água forma a lama”[1], completa Sanchez. Água essa proveniente do rio Paraopeba onde se localizava a barragem que rompeu três dias depois da última vistoria, em 25 de janeiro de 2018.
Mas como é criada uma barragem de rejeitos? Quando uma barragem é criada, um dique é construído para que os rejeitos de minério sejam contidos. Esse é o dique de partida. À medida que a barragem vai recebendo mais rejeitos, novas camadas são colocadas em cima do dique de partida (operação chamada de alteamento). O alteamento pode ser de diferentes tipos. Os principais utilizados pela Vale são: alteamento a jusante (modelo convencional) e a montante. Alteamento a jusante é onde o maciço da barragem é construído em solo compactado, independentemente do tipo de rejeito depositado na mesma. Os alteamentos são realizados no sentido do fluxo de água (jusante). Montante é o corpo da barragem construído com o uso de rejeito através de alteamentos sucessivos sobre o próprio rejeito depositado. Os alteamentos são realizados no sentido contrário ao fluxo de água (montante). A barragem necessita de rejeito grosso para que o maciço possa ser construído.
O beneficiamento do minério bruto (ROM) pode ser realizado por dois procedimentos distintos: a úmido e a seco. O material proveniente da mina, após o processo de beneficiamento a úmido, traz como resíduo um material denominado rejeito. Esse resíduo é disposto em barragens. Nas análises da água contaminada pelo rompimento da barragem foram encontrados ainda concentração de metais pesados, como chumbo e mercúrio 21 vezes acima do normal O rio mostra extremo comprometimento, a água está turva e contém mais de 800 substâncias dissolvidas em seu meio.
CONSEQUÊNCIAS
A Vale afirmou que os rejeitos não são tóxicos. Porém, além do quartzo em forma de argila, uma grande concentração de metais como arsênio, manganês, chumbo, alumínio e ferro também foi diluída junto a água. Quando a lama secar teremos a lama transformada em poeira tóxica, causando problemas respiratórios para os habitantes da região. Como a lama seguiu rumo ao rio Paraopeba, parte do abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte foi interrompido. A Copasa afirmou que está suspensa a captação da água do rio Paraopeba em Brumadinho e que o abastecimento da população atendida pelo sistema Paraopeba está sendo realizado por outras represas e pelo Rio das Velhas. Somadas, as populações desses municípios ultrapassam 1,3 milhão de habitantes.
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) determinou a abertura de um canal para escoar o acúmulo de sedimentos que possam interromper o fluxo natural do curso d’água. Também foi determinado o rebaixamento do nível do reservatório da barragem e o monitoramento da qualidade da água no Rio Paraopeba. Ainda conforme a Semad, a estrutura da barragem tinha área total de aproximadamente 27 hectares e 87 metros de altura. A estabilidade estava atestada conforme declaração apresentada em agosto de 2018. A competência para fiscalizar a segurança das barragens de mineração é da Agência Nacional de Mineração (ANM), segundo a Política Nacional de Segurança de Barragens (Lei n. 12.334/2010). Ainda conforme a Lei, a responsabilidade pela operação adequada das estruturas é do empreendedor.
No aspecto humano, a tragédia supera a da Samarco ocorrida há três anos. As pessoas que tiveram contato com a lama começaram a apresentar sintomas de intoxicação, erupções cutâneas e baixos níveis de plaquetas e leucócitos. A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informou que, até o momento, recebeu a notificação de quatro casos de doença diarreica na região. Os casos, segundo a secretaria, não evoluíram para formas mais graves da doença. Recomendou-se que a população da cidade evite o contato com a lama de rejeitos e com as partes atingidas do rio Paraopeba. A orientação é válida desde a confluência do Paraopeba com o Córrego Ferro-Carvão até Pará de Minas, aponta a pasta.
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